O estado da arte transforma a vitória de Susana Díaz nas eleições de domingo num feito, não histórico porque o PSOE ganha na Andaluzia há 33 anos, mas pela alegria que Susana deu aos socialistas espanhóis, que se arriscam a continuar nas próximas eleições nacionais como partido da oposição. Se Pedro Sánchez não conseguir ultrapassar a crise do PSOE – que é a crise do bipartidarismo –, Susana é uma séria candidata a secretária-geral dos socialistas espanhóis. No domingo, Susana conseguiu o mesmo resultado que o PSOE tinha tido em 2012, muito antes de o Podemos e os Ciudadanos terem irrompido nas sondagens para baralhar o duopólio que sempre governou Espanha. Susana Díaz não teve maioria absoluta mas decidiu governar sozinha. A ruptura da coligação com a Esquerda Unida tinha sido a causa imediata da convocação das eleições antecipadas.
Presidente da Andaluzia desde Setembro de 2013, Susana Díaz foi pouco tempo depois eleita líder do PSOE andaluz. Tem 40 anos e está grávida do primeiro filho, que vai nascer em Julho. É a primeira presidente de uma comunidade autonómica que vai ser mãe em exercício de funções, mas desde a famosa fotografia de Carme Chacón, então ministra da Defesa de Espanha, a passar revista às tropas com uma barriga gigante, a maternidade e o exercício de cargos políticos passou a ser encarada como uma coisa normal. Por aqui tivemos a ministra Assunção Cristas, que teve o seu quarto filho, Maria da Luz, em 28 de Julho de 2013. E os espanhóis também já se habituaram: ao contrário das manchetes com Carme Chacón, a gravidez de Soraya Sáenz Santamaría, que era porta-voz do PP no congresso e deu à luz poucos dias antes da vitória eleitoral do seu partido, assim como a de Maria Dolores de Cospedal, outra mulher forte do PP, passaram mais despercebidas.
Mas não foi o calendário da gravidez a fazer Susana Díaz decidir-se por antecipar as eleições na Andaluzia para o domingo passado, um ano antes do fim do mandato. Os conflitos dentro do governo – uma coligação entre PSOE e Izquierda Unida – fizeram detonar a decisão que na realidade Susana Díaz tomou no mesmo mês em que anunciou publicamente a sua gravidez, Janeiro.
Susana Díaz é a mais velha de quatro irmãs, filhas de um socialista funcionário da Câmara de Sevilha. É católica, devota da Virgem do Rocío, faz parte da Confraria da Esperanza de Triana e foi catequista. Estudou Direito (curso que só terminou depois de uma longa interrupção), mas trabalhava ao mesmo tempo que estudava: dava explicações e vendia cosméticos porta a porta. Militou nas juventudes socialistas andaluzas, foi eleita deputada ao congresso entre 2004 e 2008, foi deputada no parlamento da Andaluzia a partir de 2008 e senadora andaluza em 2011 e 2012. Durante seis anos foi a “mulher do aparelho” do PSOE de Sevilha e depois do PSOE da Andaluzia.
É aficionada de touradas, como a maioria dos seus eleitores, e gosta de procissões. Aliás, a poucos dias das eleições foi divulgada uma fotografia em que Susana Díaz, muito jovem, autarca do seu bairro, Triana, transportava um andor na procissão de Sevilha. Foi uma excitação nas redes sociais e na imprensa, não por causa da procissão, mas porque na fotografia aparecia uma Susana Díaz com menos 15 anos, de cabelo preto e ondulado. É que hoje – e há muito – Susana é ruiva e tem o cabelo liso. Uma metamorfose que imediatamente os especialistas em imagem associaram à decisão de adoçar a imagem, que poderia ser útil na sua trajectória política. Nunca saberemos, mas aos 40 e ruiva – e mais magra – Susana está muito mais gira que aos 25.
Esta segunda-feira, na reunião de análise dos resultados eleitorais, o estado-maior do PSOE estava eufórico. A derrota do PP na Andaluzia servia de argumento para apontar uma grande derrota a Mariano Rajoy. E claro que Pedro Sánchez não quis deixar todo o prazer do triunfo nas mãos de Susana Díaz: a vitória é “de Susana Díaz, do socialismo andaluz e do conjunto do socialismo espanhol”, afirmou Sánchez, claramente a dar o sinal de que ele próprio é co-responsável por uma vitória que dá um sopro de vida a um partido que se arrastava nas sondagens, depois de anos de crise financeira e de Mariano Rajoy.
Se Pedro Sánchez não conseguir fazer recuperar os socialistas a nível nacional, Susana Díaz é uma mais que provável candidata à substituição do secretário-geral. O limite para se realizarem as eleições em Espanha é 20 de Dezembro. Por essa altura Susana já estará a terminar o tempo da licença de maternidade.