Está agitado e é difícil mantê-lo muito tempo no mesmo lugar. O pescoço comprido faz uma dança de voltas sem fim e as asas abrem-se até quase duplicar de tamanho. “Está na época de acasalamento”, esclarece o tratador, “é a forma que ele tem de se exibir.” Habituado que está às apresentações ao público, Joca continua a exibir-se pelo Bosque Encantado – nome do local de apresentação das aves no zoo de Lisboa –, mesmo numa altura sem visitantes. Uma das perguntas para queijinho feita aos visitantes é a raça do animal. São dadas hipóteses, avestruz, ema ou nandu, e também algumas dicas: é uma ave corredora e tem três dedos em cada pata (a avestruz só tem dois). Depois de algumas tentativas chegamos à resposta certa: o Joca é um nandu.
Nasceu no zoo em 2011 e teve o azar de ter um pai pouco afectuoso com a prole. “Tal como acontece com alguns seres humanos, entrou em pânico quando se viu com as crias e acabou por abandonar a ninhada”, explica Hugo Condez, treinador do zoo há 15 anos. Dos três irmãos, só Joca sobreviveu. “Criámo-lo desde pequeno, anda atrás de nós como um cãozinho”, conta, demonstrando a veracidade da afirmação com um abrir de asas de prazer quando Hugo lhe faz festinhas no dorso. Por estar tão habituado ao contacto com o ser humano, aproxima-se das pessoas sem medo e, numa confusão de espécies, até tenta a dança de acasalamento. “Não costuma ter êxito”, brinca o tratador.
Na apresentação, além do quizz para que o público adivinhe a espécie, Joca está treinado para comer na mão dos visitantes e termina em grande, com a corrida rápida comum à sua espécie.
Pelo meio há sempre peripécias. “Quando ele se lembra de evacuar em directo, o público fica espantado com a capacidade do animal. São autênticos bolos gigantes de mousse de chocolate”, especifica o treinador.
O nandu não usa as asas para voar; a corrida é o seu principal recurso para escapar aos predadores. No Jardim Zoológico não tem de lutar pela comida, que lhe chega sempre que necessário, em forma de fruta, vegetais ou ração.