Quando ganhou as eleições para a Câmara dos Representantes do estado do Oklahoma, em 2009, o republicano Todd Russ não escondeu ao que ia. Casado, com três filhos, membro da First Assembly of God e com a fé muito presente no quotidiano. “Vou agir de acordo com os valores e a liderança de Deus. Como cidadãos, deixámos o governo tirar as orações das nossas escolas, deixámos o governo tirar os dez mandamentos dos nossos capitólios e deixámos o governo continuar a dizer-nos, como cristãos, que nos mantenhamos silenciosos em relação às nossas principais crenças. Os nossos valores cristãos são precisamente aquilo que fez o nosso estado e a nossa nação tão grandes”, escreveu.
Todd Russ pode ser legislador mas há uma linha que separa o possível do impossível, o aceitável do desafio à religião. Por isso, quando o Supremo Tribunal decidiu inverter as proibições de casamentos entre pessoas do mesmo sexo nos estados de Indiana, Utah, Virgínia, Wisconsin e… Oklahoma em Outubro de 2014, sabia que tinha de arranjar uma forma de contornar a questão. “Oklahoma votou em massa contra o casamento gay e mesmo assim o Supremo decidiu impô-lo à força. Estamos a devolver as coisas ao que devem ser e eram originalmente: um matrimónio sagrado e um verdadeiro voto solene e espiritual”, assumiu.
A estratégia passou por criar uma proposta (HB1125) que exclui qualquer possibilidade de haver um casamento secular no Oklahoma. Mais que os gays, também os ateus passam a ser vítimas desta legislação. Um dos apoiantes da proposta, o republicano Dennis Johnson, lembra que “o casamento não foi instituído pelo governo”. “Foi instituído por Deus. Não há qualquer razão para que o Oklahoma, ou qualquer outro estado, se envolvam no casamento”, explica.
O proponente não hesita na sua ideia daquilo que tem de ser feito. “O governo federal não tem o direito de chegar aqui e forçar novas definições do que os estados independentes pensam. Não é apenas o Oklahoma, mas qualquer um”, afirma, antes de continuar os ataques e explicar, por outras palavras, o que pretende transformar no Oklahoma: “O governo federal vai ter de pensar noutra coisa qualquer para nos continuar a forçar a fazer o que não queremos se esta proposta passar a lei. Basicamente, ela diz que o estado já não se envolve no negócio da emissão de licenças de casamento. Os casamentos vão ter de continuar a ser legalizados com o preenchimento de um certificado nos registos civis e qualquer pessoas que case terá de corresponder às obrigações legais para o fazer, que agora serão analisadas pelo padre ou pelo ministro que presidir a cerimónia.”
A proposta passou com 67 votos a favor, 24 contra e dez abstenções e começou esta semana a ser discutida no Senado. Ao mesmo tempo, várias organizações pela igualdade reagiram ao que se está a passar. “A nossa comunidade está a ser atacada e vamos lutar. No ano passado conseguimos a legalização do casamento gay e agora um grupo de pequenos legisladores responderam com uma ideia sem precedentes de discriminação. Nem a Freedom Oklahoma, nem nenhum dos seus parceiros, vai descansar enquanto esta proposta não for derrotada. Juntos somos maiores, juntos somos mais fortes. E juntos vamos vencer”, afirmou Todd Stevenson. Toby Jenkins, da Oklahomans for Equality, lembra que entre 6 de Outubro e meados de Dezembro houve 3165 casamentos gay documentados em 23 condados e lamenta o desvio de prioridades: “Tinha uma grande esperança que os nossos legisladores se preocupassem com os deveres do nosso estado em questões fundamentais como educação, cuidados de saúde, crime e infra-estruturas decadentes. Gostava que fossem estes os seus objectivos, mas mais uma vez parece que decidiram atacar uma parte da população.”
Todd Russ mantém-se inflexível e realça que “o povo do Oklahoma tem continuamente apoiado a noção de um casamento ser entre um homem e uma mulher”. “Se a única forma de proteger o casamento tradicional for tirar o governo da equação, é isso que temos de fazer”, acrescenta o representante que partilha a assinatura da proposta com o senador Anthony Sykes, de 42 anos. O também republicano parece fazer das questões do casamento uma prioridade e no mesmo dia em que foi apresentada a HB1125, 2 de Fevereiro, lançou outra proposta, que visa obrigar dois parceiros a realizarem uma análise sanguínea nos 30 dias anteriores a requererem uma licença de casamento de forma a garantir que “não têm sífilis ou outras doenças sexualmente transmissíveis”. A proposta (SB733) continua em discussão.