Shit, she can kick my ass.” Por delicadeza e decoro, vamos traduzir a frase de Mike Tyson numa versão mais ligeira mas que não perde o sentido original: “Porra, ela pode dar-me uma tareia.” Mike Tyson, o boxeur americano de cognome “Baddest man on the planet”, fala de Ronda Rousey, uma miúda loura, com um metro e 70 de altura e uns míseros 61 quilos. O peso--pesado, que chegou a atirar um homem ao chão em 38 segundos, sabe do que fala. Ronda é invencível. Nos 11 combates de MMA que travou como profissional de 2011 para cá, não perdeu nenhum. O mais recente, com Cat Zingano, no último dia de Fevereiro, foi impressionante: em 14 segundos levou a adversária ao tapete.
Dana White, presidente do UFC (Ultimate Fighting Championship), a maior organização de MMA do mundo, já tinha feito piadas sobre o assunto. “Se ela derrubar Cat Zingano, como tem derrubado toda a gente, não sei o que fazer com ela”, disse, ironizando: “Vai ter de começar a lutar com homens.”
As preces do empresário – que em 2012 anunciou a categoria destinada ao MMA feminino e que fez de Ronda, então campeã do Strikeforce, a primeira mulher a assinar pela UFC – parecem ter sido atendidas. Ainda não será desta que Ronda, campeã de peso-galo, partilha a arena com um homem. A brasileira Chris Cyborg, da divisão acima, poderá perder peso para defrontar a americana. Será?
A farpa foi lançada por Chael Sonnen, ex-lutador do UFC. “Ronda Rousey está com 61 quilos e vai lutar contra qualquer mulher que tenha o peso de sua categoria. Cyborg não está no UFC, nem pesa 61 quilos. Nas redes sociais parece ser a única que quer lutar, mas não é bem assim. […] Chris tem de parar com essa troca de palavras na internet e fazer a luta acontecer.”
A rivalidade entre Cyborg, campeã de peso-pena do Invicta FC, e Rousey é antiga. Mas os cinco quilos que as separam têm sido impedimento para a luta. Ronda já avisou que não vai ganhar peso e a brasileira rebate dizendo que é muito difícil ficar mais leve. Talvez a lenha atirada por Chael Sonnen atice a fogueira.
AnnMaria De Mars, mãe de Ronda, acredita na vitória da filha: “A primeira vez que Ronda puser as mãos nela, Cyborg vai a knockdown”, disse numa entrevista à Submission Radio, lembrado que a sua filha treina desde os 11 anos. AnnMaria, também ela lutadora, foi a primeira norte-americana a vencer um campeonato mundial de judo, em 1984. E desde cedo preparou a filha para o combate. “Quando eu era miúda, a minha mãe atacava-me aleatoriamente pelos cantos da casa”, contou Ronda no programa de Conan O’Brien. “Ela é doutorada em Psicologia e é muito boa a mexer com a cabeça de alguém novo para o tornar um campeão.”
Está sempre pronta, conta Ronda, era a frase que a mãe lhe dizia quando a imobilizava com uma chave de braços, prendendo-a pelo pescoço. E essa chave de braços que aprendeu com a mãe tornou--se a sua assinatura: foi com ela que ganhou nove dos seus 11 combates.
Embora continue sem adversária para a sua sexta defesa do título, não faltam provocações. A filha de Muhammad Ali, Laila Ali, disse no início do mês que derrotaria Ronda, gracejando que a americana tem o mesmo tamanho da sua filha de três anos. “Se ela quiser provar o que diz, estou aqui. Percebo que Laila pense que tem vantagem de tamanho, mas quem viu a minha última luta viu que não teve nada a ver com tamanho ou força. Não é assim que venço as pessoas. Tamanho e força não são vantagem contra mim”, garantiu Ronda, ao “The Daily Beast”, a 11 de Março. Quando reformou as suas luvas de boxe, Laila Ali só contava com vitórias no seu cartel. E ainda antes da resposta de Ronda esclareceu que tudo não passava de brincadeira. “Não estou interessada em enfrentá--la”, escreveu no Twitter, “Gosto de ver mulheres a dominar. Desejo-lhe tudo de bom.”
A brincar ou a sério, ainda há mulheres dispostas a subir ao ringue. “Sim, ainda há mulheres para enfrentar. A Bethe Correia disse-me: ‘Se ela ganhar esta luta [Cat Zingano], quero entrar no octógono e desafiá-la”, contou Dana White ao site Combate.com. E Bethe Correia (ou Bethe Pitbull), com os mesmos 61 quilos de Ronda, não pára de desafiar a campeã. “Antes de lutar contra homens, Ronda tem de me vencer. Se ganhar, então concordarei com Dana White.”
A resposta tardou mas chegou: “Quero lutar com Bethe no Brasil e vencê-la na sua terra natal. Será a melhor maneira de vingar as minhas amigas”, respondeu Ronda, referindo-se às suas duas colegas de treino que perderam combates com Bethe. “Meteres-te com a Mama Bear é uma péssima ideia.”
Para já, não há data para o esperado combate porque Ronda “Rowdy” Rousey vai voltar ao cinema. Depois de ter tido participações menores em “Os Mercenários 3”, “Velocidade Furiosa 7” e “Entourage”, agora será protagonista de “Mile 22”, de Peter Berg, onde vestirá a pele de uma agente da CIA.
Quanto ao combate com homens, não passa de um sonho. “Não me parece que seja uma boa ideia ver um homem a bater numa mulher na televisão”, confessou a lutadora ao “The Daily Beast”. “Nunca me ouvirão dizer que perderia, mas a verdade é que podíamos ter uma rapariga a ser espancada por um tipo na televisão.” E com os problemas actuais de violência doméstica Ronda defende que seria uma péssima ideia. “É divertido teorizar e falar sobre isso, mas é muito melhor na teoria do que na prática.”