Eusébio. A torneira do golo fecha onde se abre

Eusébio. A torneira do golo fecha onde se abre


Setúbal simboliza o início e o fim do rei: a 23 de Março de 1975, assina o seu 473.º e último golo pelo Benfica.


A história começa e acaba em Setúbal. Pelo meio, uma alegria imensa de golos, títulos e também lesões – afinal,é sete vezes operado aos joelhos. Isso mesmo, estamos a falar de Eusébio, que assina o último golo de sempre pelo Benfica faz hoje 40 anos.

Nos Arcos, a 1 de Junho de 1961, um dia depois da conquista da Taça dos Campeões vs. Barcelona (3-2 em Berna), uma equipa B do Benfica discute um lugar nos quartos-de-final da Taça de Portugal com o Vitória. Na baliza dos sadinos, o grande enorme Félix Mourinho.

“Há coisas que não nos esquecemos. Mas Eusébio ainda não era Eusébio. Era só um menino de 19 anos. É verdade, mas já se via aquilo que ia ser. Tenho até uma história curiosa. Uma vez [entre a chegada de Eusébio a Portugal em Dezembro de 1960 e a sua estreia oficial em Junho de 1961], encontrei o José Augusto por acaso e perguntei-lhe: ‘’Então, que tal é o homem? É tudo aquilo que a imprensa escreve?’’ A resposta dele foi só esta: ‘’Alguém tem de sair para ele entrar’’ [acabaria por ser Santana].”

O jogo começa e o Vitória agiganta-se. Quim faz um-zero aos 6’ e dois-zero aos 12’. Pompeu aumenta aos 59’. Eusébio reduz numa jogada em que se livra de três adversários para fazer o 3-1. Mais tarde, penálti para o Benfica. Na baliza, Félix. A 11 metros dele, Eusébio. E…? “Foi uma defesa por instinto. O Eusébio atirou para a minha esquerda e defendi.”

Passam-se uns aninhos. Eusébio ganha 11 campeonatos, cinco Taças de Portugal, uma Taça dos Campeões e colecciona sete Bolas de Prata, troféu para o melhor marcador.

No dia 23 de Março de 1975, um domingo, o Vitória recebe o Benfica para a 26.ª jornada da liga e dá-lhe a volta (2-1), por Jacinto João e Duda. O golo de abertura pertence a Eusébio. Na baliza, Vaz.

“Olhe, não me lembro desse golo em específico”, diz-nos por telefone, em directo de Setúbal, onde gere um restaurante. “Lembro-me é de um golo dele, isso sim, quando jogava pelo Porto. Foi um livre directo e ele rematou com tanta força que um dos nossos baixou a cabeça. Ai não… A bola entrou ao canto. Não lhe pude ver, quanto mais tocar.”

Vaz anima-se. “Sofri o último golo dele pelo Benfica? Não sabia ou não me lembrava.Sei é que lhe defendi um penálti, como aliás o Félix Mourinho. Só lhe posso dizer que é uma honra, o facto de ter sofrido o último golo dele. Era um fenómeno e estou associado a ele.”

Eusébio fecha a torneira de golos: 473 (em 440 jogos), o primeiro e o último em Setúbal, ambos sem o doce sabor da vitória (só do Vitória). Nem tudo é perfeito.