Danae Stratou é rica, bonita e quase famosa. A mulher de Yanis Varoufakis, artista plástica, regressou agora à Grécia por causa da decisão do marido em ocupar o posto de ministro das Finanças. Diz que tem a vida num caos e espera que o novo governo ajude as artes. Esta mulher que aos 50 anos anda sempre de mota pelas ruas de Atenas, não está espectacularmente optimista com o futuro da Grécia. Apesar de Yanis.
mulher que é fotografada, com um vestido verde curto e perfeito para o antecipado Verão ateniense, a saltar para os braços de Yanis Varoufakis no “ninho de amor” com vista para a Acrópole, chama-se Danae Stratou e é artista plástica. O episódio, registado pela “Paris-Match”, fez meio mundo rir e outro meio chorar e deixou o ex-duro ministro das Finanças a fazer patéticas declarações de arrependimento por ter feito a produção e pela “estética” das fotos. Afinal Varoufakis não se revia naquilo: ou o ministro pop star era o único europeu que desconhecia o estatuto editorial da “Paris-Match” ou a publicação enviou um fotógrafo encoberto para forçar Varoufakis a entrar no reino da política cor-de-rosa. Mas antes isto que uma derrota total no Eurogrupo.
Danae foi agora convidada a vir a Portugal no Verão para participar na 18.a edição da Bienal de Cerveira (18 de Julho/19 de Setembro). Aos 50 anos está a reinstalar-se no seu país, de onde emigrou no auge da crise grega para se mudar para Austin, Texas, quando Yanis foi convidado a dar aulas numa universidade do sítio. Regressa agora porque Yanis “sentiu que tinha de aceitar” o cargo de ministro das Finanças. Tem a vida num “caos”, como disse à “Vanity Fair” espanhola. Deixou o filho mais pequeno, Nicolas, no Texas, a continuar o ano lectivo, que tinha começado antes de o Syriza vencer as eleições no fim de Janeiro e de Varoufakis ter sido catapultado para ministro das Finanças com um programa revolucionário. Danae gostou de viver em Austin e quer manter um pé lá para continuar alguns projectos. “Estava a ser uma experiência muito interessante, existem por lá todo o tipo de movimentos artísticos. Duas vezes por ano há sessões de portas abertas em galerias e estúdios. Estava a começar a fazer coisas interessantes por ali.”
Agora, de regresso a Atenas, Danae Stratou está em processo de reorganização profissional. Para já tem a ideia de recuperar o projecto que fez no auge da crise: uma instalação chamadas “It’s time to open the black boxes”. Está na altura de abrir as caixas negras. Danae está nos braços de Yanis Varoufakis desde 2005, época em que o casal ainda não tinha interesse nenhum para a imprensa cor-de-rosa. Em Agosto desse ano, Varoufakis estava no fundo do poço: a ex-mulher australiana do professor de Economia levou a filha de ambos, Xenia, com ano e meio, para Sydney e o economista entrou em depressão. É no mesmo ano de 2005, em que Xenia vai para os antípodas, que Yanis encontra Danae Stratou, que funcionou lindamente como antidepressivo. Foi amor à primeira vista e estão juntos até hoje. Na sua página do Facebook, Danae Stratou diz que é casada desde 2008.
Aos 50 anos, Danae continua a andar de mota nas ruas de Atenas e a “fazer uma vida normal”, como disse à “Vanity Fair”. Tem a mania das motas desde a adolescência, por influência do pai, o empresário Phaedon Stratos. Mas seguiu o caminho artístico da mãe, a escultora Eleni Potaga. Danae estudou em Londres, na Central St. Martins School of Art e Design, entre 1983 e 1988. Podia ter entrado no “circuito internacional” da arte, optando por viver em Londres ou em Nova Iorque, mas escolheu ficar na Grécia. Tinha dois filhos pequenos, de um primeiro casamento, e preferiu instalar-se no seu país.
Um momento de viragem na sua carreira aconteceu quando participou na Bienal de Veneza em 1999. Percebeu aí como funcionava o mundo da arte a nível internacional. “É um sistema muito particular e tu tens de decidir se ficas dentro ou não. Acho que é assim em todas as profissões, na moda, na política. Se queres estar no top e fazer parte desse mercado tens de entrar no circuito. No meu caso, isso teria passado por mudar-me para Londres ou Nova Iorque. Mas naquela altura tinha dois filhos pequenos e a minha decisão foi clara: escolhi ficar na Grécia, ainda que tentando manter uma perspectiva global da arte e do mundo.”
Sobre o futuro da Grécia, Danae não é excessivamente optimista: “É um momento crucial. Está tudo num processo de mudança. Não sei o que pode acontecer… Depende das negociações com a Europa. Tenho a impressão que existem duas forças na Europa: uma que quer a mudança e outra que quer que as coisas continuem como estão. Eu gostaria que as forças criativas e progressistas triunfassem… Só assim poderíamos ter futuro, criar os nossos filhos, avançar.” Mas tem alguma esperança que o novo governo de que o marido faz parte “tenha algum tipo de estratégia para apoiar as artes visuais e outras formas de arte contemporânea”: “Na Grécia há muita gente boa porque temos um passado histórico e cultural importante.”
Danae dedica-se essencialmente às grandes instalações. Quer agora reactivar o projecto que vem dos tempos piores da crise, “It’s time to open the black boxes”.
A ideia surgiu-lhe a partir de uma frase que um jornalista lhe disse ao sair de sua casa depois de entrevistar Yanis Varoufakis, que entretanto se estava a tornar um economista conhecido. E Varoufakis, que trabalha muito de perto com Danae – fazem os dois parte do colectivo artístico Vital Space –, descreveu assim a instalação: “A nova instalação de Danae Stratou transforma as caixas negras em objectos de arte que em simultâneo metem em cápsulas a nossa raiva e esperança, as nossas incapacidades e as nossas capacidades, os nossos constrangimentos desumanos e os nossos recursos humanos. As suas caixas abertas funcionam como um incitamento subversivo não somente para conter os nossos medos e os poderes instituídos de uma só vez mas adicionalmente para popularizar ideias de novas formas de poder partilhado e prosperidade.” Antes de conhecer Varoufakis, Danae passou um ano a viajar para filmar os sete rios mais importantes do mundo: o Danúbio, o Nilo, o Amazonas, o Mississipi, o Niger, o Yangtsé e o Ganges. A viagem deu origem à instalação “The river of life”. Mais tarde, com Varoufakis, fotografou as sete fronteiras em conflito do mundo – Chipre, Kosovo, Belfast, Etiópia-Eritreia, Palestina, Índia-Paquistão, México-Estados Unidos. Daqui saiu a produção conjunta Stratou-Varoufakis chamada “Cut-7 dividing lines”, de 2011.
Muitos anos antes produziu a instalação “Desert breath”, que está desde 1997 no deserto do Egipto. Danae chama-lhe uma “experiência alucinante” que fez com a prima Alexandra Stratou e a amiga Stella Konstantinides. “Escolhemos os meses de Inverno para trabalhar e vivemos nove meses no deserto. Acabámos por nos acostumar ao calor.”
O avô de Danae era rico, proprietário de uma empresa têxtil que chegou a empregar 10 mil trabalhadores. Fizeram os fardamentos do exército grego que combateu os nazis na Segunda Guerra Mundial. Mas a empresa, uma das maiores do país, acabaria por entrar em crise e ser nacionalizada. Mas os Stratou continuaram ricos. A família tem uma casa fantástica na ilha de Égina, onde Yanis e Danae passam férias. “Estar ali acalma-me, abre-me os olhos e a alma. É um prazer estar ali, livre, a viajar por Égina com Yanis, depois de passar um tempo agradável com os nossos filhos e amigos.”
Danae é muito activa nas redes sociais, especialmente no Twitter. Em várias ocasiões aproveitou para defender o marido. Quando a imprensa inglesa mostrou o seu espanto por Yanis Varoufakis ter aparecido de camisa azul e casaco de cabedal comprido para a reunião com o chanceler do Tesouro George Osborne, Danae justificou a roupa do marido no Twitter. “Yanis perdeu a mala no aeroporto”, escreveu Danae. O mundo que segue Danae ficou a saber que daquela vez não era estilo. Era só um azar dos aviões.