Bongbong Marcos. Filho de Imelda inventou um canudo


A rede de notícias Rappler foi a primeira a anunciar que a reputação do filho da imperatriz dos sapatos ia descalça. A Wikipedia apressou-se a eliminar a informação, mas a biografia da sua página pessoal na internet continua por rectificar, mesmo depois da revelação de que a sua passagem pelo Sul de Inglaterra terá sido…


A rede de notícias Rappler foi a primeira a anunciar que a reputação do filho da imperatriz dos sapatos ia descalça. A Wikipedia apressou-se a eliminar a informação, mas a biografia da sua página pessoal na internet continua por rectificar, mesmo depois da revelação de que a sua passagem pelo Sul de Inglaterra terá sido menos profícua do que parecia. “O senador obteve o seu bacharelato em Ciência Política, Filosofia e Economia em 1978 na Universidade de Oxford.”
 
Acontece que Ferdinand “Bongbong” Marcos Jr, o descendente do casal Ferdinand e Imelda, nunca chegou a completar o curso – e não é preciso viajar muito no globo para saber que um caso destes é tudo menos inédito, ou que a aplicação de um suplemento vitamínico no currículo não chega para acabar com a saúde política de um pinóquio de trazer por casa.
 
Ainda assim, a publicação recuperou os registos académicos do político filipino, confrontou a instituição, e concluiu que “Bongbong”, como é carinhosamente tratado pela família, recebeu apenas um diploma especial em “estudos sociais”. Beliscadas as habilitações, há um mito urbano que se mantém intocável, como qualquer lenda que se preze: enviado para o Reino Unido para tranquilizar o receio familiar de que fosse raptado, o jovem Ferdinand teria sido assassinado em Londres, não sendo este mais que um substituto do original. Bizarrias locais à parte, lembradas pelo “The Sydney Morning Herald” em reportagem na capital do país em 2012, “Bongbong” é descrito como o homem “afável e conversador” que conheceu Andy Warhol no Hotel Carlton, em Nova Iorque, a quem ofereceu a túnica que vestia.
 
Um canudo, ou a ausência dele, será o menor dos problemas do filho do ditador que começou a sua carreira política depois do assassinato de Julio Nalundasan, em 1935, e que a terminou com mais um homicídio, agora o de Benigno Aquino Jr, gerindo com mão de ferro os destinos de Manila. 
 
Corria o ano de 1986 quando a revolta popular obrigou o clã a abandonar Malacañang e a exilar-se no Havai, acusado de esvaziar os cofres do Estado e de deixar atrás um rasto de sangue. Quase três décadas depois, Ferdinand Marcos Jr, 57 anos, é apontado como um possível sucessor do presidente Benigno Simeon “Noynoy” Aquino III, na próxima corrida, com os genes a pesarem no resultado da eleição – neste caso para ambos os lados, já que os eleitores se habituaram a decidir entre o sobrenome Aquino e o rival Marcos, as dinastias à frente do país nas últimas gerações.
 
“Baka swertehin ako sa 2016”, “talvez tenha sorte em 2016”, sonha Bongbong, que quer testar os níveis de amnésia dos filipinos. “Parte do sucesso de Marcos deve-se à falta de memória da população”, defendeu à Aj-Jazeera o resistente e antigo senador Heherson Alvarez, que viu o irmão morrer às mãos das tropas de Marcos pai. 
 
Em Outubro de 2014, a mesma Al-Jazeera recordava outro dos escândalos da família, desejosa de apagar o lado negro da história, capaz de condicionar as aspirações políticas de Imelda, que garante o seu assento no senado, de Bongbong, e ainda da irmã, Imee, vice-governadora (uma terceira filha, Irene, manteve-se afastada destas andanças, e Aimee, que foi adoptada, é música). Uma das demandas do actual governo filipino é recuperar as três centenas de obras de arte de que os Marcos se terão apropriado e distribuído pelos amigos, além de valiosas peças de joalharia. A colecção, que inclui quadros de Van Gogh, Renoir, Rembrandt e Cézanne, era desconhecida dos filipinos até 2013, quando um antigo secretário de Imelda foi detido em Nova Iorque. 
 
A matriarca e os filhos regressaram ao país em 1991, levando sempre a melhor nos inúmeros processos que se abateram sobre o infame apelido. “Sinto que a história será o supremo juiz, e acredito que será mais branda com a administração do meu pai”, defende Jr, cujo trajecto político começou em 1980, com o cargo de vice-governador da província de Lloco Norte. 
 
Nas redes sociais, o rebento da antiga rainha da beleza – hoje com 84 anos, mais de 3 mil pares de sapatos no armário e a honra de privar com celebridades internacionais na bagagem –, tanto surge a cozinhar como a apoiar uma das causas a que mais se dedicou: amparar os golpes do tufão Yolanda. Garante ter dado um forte impulso ao turismo e zelado pelo futuro dos mais novos ao introduzir o inglês como principal língua de instrução. E não, garante que não é viciado em calçado e que até já conheceu colecções mais impressionantes que as da mãe. O que não dispensa vigilância apertada aos atacadores, para evitar tropeções.