Estilo de vida do congressista do Illinois soma polémicas. A forma como gasta o dinheiro está no centro de tudo e a redecoração do gabinete pode ter consequências graves
Tem 33 anos, foi capa da “Men’s Health” em Junho de 2011, jurado convidado na sétima temporada do “Top Chef”, considerado o “novato mais sensual” do Congresso em 2009 pelo Huffington Post e partilha fotografias no Instagram ao lado de pessoas que supostamente pouco têm a ver umas com as outras, do Papa Francisco a Ariana Grande, passando por George W. Bush, Donald Trump e Steven Tyler (vocalista dos Aerosmith). E não vê a série britânica “Downton Abbey”, apesar de tudo parecer indicar que se trata exactamente do oposto. A descrição é muito abrangente mas dificilmente encaixará no perfil de um membro da Câmara dos Representantes dos EUA. O membro do Partido Republicano é um exemplo de alguém que começou muito cedo e já foi, de 2009 a 2013, o mais jovem do Congresso. Foi o primeiro nascido na década de 80 a ser eleito e hoje é o terceiro mais novo em actividade.
Aaron Schock nasceu em Morris (Minnesota) mas não tardou a fixar-se no Illinois. Sempre se mostrou capaz de fazer a diferença e atacar desafios quando todos o consideravam demasiado jovem – fez uma conta poupança reforma aos 14 anos – e a política entrou definitivamente na sua vida quando concorreu para um lugar na Câmara dos Representantes do Illinois. Tinha 23 anos e derrotou a democrata Ricca Slone, que ia no quarto mandato, por apenas 235 votos.
A ascensão foi meteórica. As percentagens com que obteve as vitórias tornaram-se cada vez maiores e em 2008 conquistou um lugar em Washington com 59% dos votos. Schock destaca-se pela enorme capacidade de angariar fundos. Em 2014 conseguiu somar 2 milhões de dólares para o Comité Nacional Republicano e 15 milhões para o tradicional jantar de Março. Por outro lado, parece tão bom a pedir dinheiro como a gastá-lo.
A redecoração do gabinete em Washington promete ser o seu desafio mais duro enquanto político. O trabalho da decoradora Annie Brahler, inspirado na série “Downton Abbey” e avaliado em 100 mil dólares, lançou a polémica na imprensa e fez ressurgir problemas que Schock já teve com dinheiro. Em Julho de 2008, por exemplo, recebeu a visita do então presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, durante uma campanha e fez com que a cidade de Peoria tivesse de gastar 38 252 dólares em serviços. Mais tarde pagou a verba mas só depois de apelidar as queixas de “jogada política”. Em 2012 nova polémica, depois de ter vendido a sua casa pelo triplo do valor de mercado a um reconhecido doador republicano. O dinheiro foi aproveitado para as eleições primárias do partido e um relatório posterior garantiu haver “razão substancial” para acreditar que tinha violado a lei federal. Fora das polémicas, ia de vento em popa. Em 2009 foi muito elogiado por Barack Obama, numa estratégia do presidente recentemente empossado de ganhar um voto de aprovação para o pacote do estímulo financeiro:“É um jovem muito talentoso. Tenho muita confiança de que fará o melhor para as pessoas de Peoria.” Mas Aaron trocou-lhe as voltas e votou contra.
O “New York Times” escreveu que Schock “cultivou uma imagem que é mais de estilo de vida que de legislação” e a justificação do congressista passa por uma maior aproximação ao americano comum: “Acredito muito que para mudar a mente de alguém ou fazer com que votem em ti é preciso conquistar a sua atenção primeiro. Se as pessoas não souberem quem és, não ouvirão a tua mensagem.” E isso sempre fez com sucesso. A conta no Instagram é um rodízio de viagens, que incluem momentos de surf, tango em Buenos Aires ou saltos em glaciares na Argentina, e os gastos com tudo isso estão a merecer uma atenção redobrada: entre outros valores, há 90 mil dólares em charters privados, 74 mil por umChevrolet, 27 mil por um Ford, 10 mil à NFL por bilhetes para a Super Bowl e 200 mil em advogados desde 2011.
“Nunca fui um velho sisudo. Sou diferente, vim para o Congresso com 27 anos. Quando tiro férias, não me vou plantar na areia nem me fecho numa caverna, faço coisas activas. Como Taylor Swift diz na música, os que odeiam vão continuar a odiar”, afirma para refutar as críticas, acrescentando mesmo que nunca viu um episódio de “Downton Abbey”, que a ideia foi da decoradora e que pretende pagar assim que os serviços estiverem concluídos. Entre outras coisas, o vermelho das paredes nos espaços públicos violou o código de cores permitido por lei. O que é certo é que Aaron Schock, que recebe 174 mil dólares anuais, arrisca um inquérito interno do gabinete, para não falar das eventuais acções do Comité de Ética da Câmara dos Representantes. Em sua defesa, os gastos em salários no gabinete desceram em 2014 pelo quarto ano consecutivo e os defensores relembram que nada impede que se gaste o dinheiro angariado desde que não seja usado para enriquecimento pessoal. E a população parece continuar sempre do seu lado: em Novembro de 2014 renovou o lugar com 74,7% dos votos. “Quando tudo isto terminar, continuarei a receber milhares de constituintes no meu gabinete, como já fiz nestes anos”, promete.
É a tal proximidade aos americanos.