Em 2012 saiu de um consultório com um prognóstico de 3 a 6 meses de vida, culpa de um cancro do cólon que no passado domingo o fez sucumbir, aos 59 anos, na sua casa em Pacific Palisades, Los Angeles. Falamos de Sam Simon, nome que, mesmo para quem não se recorda exactamente de onde, já lhe passou pela frente. Depois de Bart escrever no quadro e de toda a família Simpson se reunir no sofá, lá vinham os créditos: “Developed by: James L. Brooks, Matt Groening, Sam Simon”, os três co-criadores de uma das séries com mais sucesso de todos os tempos em qualquer televisão, “The Simpsons”, que anda connosco desde 1989.
Quatro temporadas depois, Simon optou por pousar a caneta que fazia Homer dizer tamanhas asneiras, assinando um contrato que lhe permitiu figurar nos créditos e obter um lucro que se estima de 10 milhões por ano, até hoje. Foi precisamente esse amontoado de dinheiro que lhe pautou esses meses – que afinal se tornaram anos – que lhe restavam. Inúmeros bancos alimentares, associações que protegem os direitos dos animais, entre outras entidades de caridade que vão continuar a agradecer-lhe. Se há algo a apontar a Sam Simon não é, com toda a certeza, a falta de partilha – isto apesar de ter escrito “O Superforreta”, filme realizado por Rod Daniel.
Encerrado o capítulo “Simpsons”, Simon foi escrever para outras paragens, como o “The George Carlin Show”, de que foi co-criador, “Men Behaving Badly”, onde foi realizador, tal como em “Friends” e “The Drew Carey Show”. Mas em muitos outros créditos se pode encontrar o nome deste homem que antes de chegar a produções televisivas de sucesso pré-Simpsons, como “Taxi” e “Cheers – Aquele Bar”, teve o seu primeiro trabalho como cartoonista de desporto no “The San Francisco Chronicle” e “The San Francisco Examiner”. Gradualmente, foi largando o desenho para se dedicar à escrita, sobretudo depois da universidade – foi por essa altura que se empregou na Filmation Studios.
A lista de ocupações de Simon é enorme, daí que seja natural que em 2007, quando iniciou o seu afastamento da televisão, tenha dito à CBS – na crónica “60 Minutes” – “o trabalho deixa-me louco”. Nessa época, o guionista dedicou-se ao póquer, ao boxe e à Sam Simon Foundation, bem como à protecção dos animais, que nele tinham um acérrimo defensor e amigo. Em 2012, quando a doença lhe traçou o rumo, esse jeito de não guardar nos bolsos o que foi amealhando reforçou-se. Jennifer Tilly, mulher do norte-americano entre 1984 e 1991 e grande amiga, disse num perfil que a “Vanity Fair” fez de Simon em Outubro de 2014: “Desde que está doente parece que a sua visão se expandiu. Penso que se apercebeu de que muitas das coisas que o deixavam louco não eram assim tão importantes. Descobriu o que é de facto importante na vida. E é uma enorme diferença.”
Carreira que lhe valeu um monte de prémios, difíceis de encaixar em qualquer cómoda, onde se podem sobretudo destacar os 9 Emmys e um punhado de nomeações praticamente impossíveis de contabilizar, sobretudo pelo trabalho desenvolvido em “The Simpsons”.
Tudo pormenores que geraram à volta Simon uma longa lista de admiradores e amigos no seio de Hollywood. As reacções são muitas e não tardaram a surgir. “RIP, Sam Simon. O teu impacto na televisão e no mundo não será esquecido”, escreveu no Twitter o dinossauro Larry King. Hank Azaria, actor e um dos elementos centrais do elenco de vozes da série, que deu vida a personagens como Moe, Apu, Chief Wiggum e Comic Book Guy, também prestou o seu tributo através do Twitter: “Descansa em paz e obrigado pelo ‘The Simpsons’, Sam Simon.”
Al Jean, produtor executivo que trabalhou com Simon na família de Springfield, disse: “Acabei de ouvir as terríveis notícias da morte de Sam Simon. Um grande homem. Devo-lhe tudo.” Por fim, Ricky Gervais não hesitou em afirmar: “RIP, Sam Simon. Heróico humanitário e génio co-criador dos ‘Simpsons’. D’oh, de facto.”