Os fãs de “House of Cards” já fixaram o dia: 27 de Fevereiro é a data de estreia da terceira temporada da série de culto em que Kevin Spacey é o pérfido Frank Underwood, agora presidente dos Estados Unidos
Barack Obama é fã do seu avatar Frank Underwood, agora presidente dos Estados Unidos da América. A terceira temporada de “House of Cards” começa na sexta-feira e os fãs desta série de culto – política misturada com terror e crime – vão agora perceber como é que, depois de ter derrubado o anterior presidente, o vilão Underwood ocupará o cargo de presidente dos Estados Unidos. Mas, apesar de ser fã, Obama acha que “House of Cards” é ficção a mais: “Tenho de vos dizer que a vida em Washington é um bocadinho mais aborrecida do que o que se vê no ecrã. A maior parte dos meus dias são passados em encontros com homens de fato cinzento e falamos de assuntos que nunca dariam boa televisão”, disse Obama no Ellen DeGeneres Show sobre o argumento de “House of Cards”. Underwood também passa imenso tempo em reuniões com homens de fato cinzento (ele é um homem de fato cinzento) mas, pelo menos, é confortável saber que o autêntico presidente dos Estados Unidos não empurra jornalistas para a linha do metro – foi assim que Underwood matou Zoe Barnes, a jornalista que começou por ser uma aliada na imprensa e acabou por se tornar incómoda – ou mata deputados do seu partido que deixam de servir os seus objectivos – como aconteceu com Peter Russo, o congressista alcoólico que serviu de homem-de-mão a Underwood até ao dia em que passou a saber demais.
Underwood é um criminoso motivado pelo poder, e não pelo dinheiro. Aliás, numa das suas fabulosas frases – daquelas em que o actor Kevin Spacey olha nos olhos do telespectador, fazendo reviver esplendorosamente um velho truque de televisão –, o herói asqueroso de “House of Cards” mostra o seu desprezo pelo dinheiro: “O dinheiro é uma ‘McMansion’ [casa que passa por ser de luxo, mas é de má qualidade] em Sarasota que começa a desmoronar-se dez anos depois de ser construída. O poder é um velho edifício de pedra que dura séculos. Não consigo respeitar quem não perceba a diferença.”
Em “House of Cards”, todo o argumento é sobre o poder e as variadas maneiras amorais – e criminosas – de o atingir e perpetuar. Outra das famosas frases de Frank Underwood sintetiza perfeitamente o homem e a obra: “O poder é o meu alimento, o combate é o meu descanso, o sangue é o meu oxigénio, a política é o meu sangue, o descanso é o meu inimigo, os meus inimigos são o meu alimento.”
É difícil imaginar o infame Frank Underwood sem Claire (Robin Wright). Os dois formam uma espécie de casal-empresa, perfeito na concórdia sobre os objectivos e aliados nos métodos sujos de atingir o poder. Enquanto vice-presidente e vice-“dama”, os dois já estavam na Casa Branca. A partir de sexta-feira, vamos ver Frank e Claire em presidente dos Estados Unidos (“In God we trust”, que ironia) e primeira-dama, um cargo quase constitucional nos States. Por erro técnico, a Netflix deixou escapar para a web, há uma semana e meia, vários episódios desta terceira série, mas foi rápida a retirá-los da linha. Na conta de Twitter da “House of Cards”, os responsáveis justificaram-se com ironia: “This is Washington. There’s always a leak. All 13 episodes will launch February 27.” (Isto é Washington. Há sempre uma fuga de informação. Todos os 13 episódios vão ser divulgados a 27 de Fevereiro.”)
Mas sabe-se que na terceira temporada haverá um diálogo na linha do que foram a primeira e a segunda: “Somos assassinos”, diz Claire. “Somos sobreviventes”, responde Frank.
A revista “Parade” fez uma lista das 15 melhores frases de Frank Underwood: “Os amigos tornam-se os piores dos inimigos” é a número 3. Mas a número 5 também é edificante da persona Underwood: “Há dois tipos de dor: o género de dor que te torna mais forte ou a dor inútil, o tipo de dor que é apenas sofrimento. Não tenho paciência para coisas inúteis.”
A sentença número 10 também é, em si, uma metáfora de toda a série e do seu herói-vilão: “A estrada para o poder está pavimentada de hipocrisia e vítimas.” E tomem lá mais esta e finjam que é Kevin Spacey a falar do ecrã: “Um grande homem disse uma vez que tudo tinha a ver com sexo. Excepto o sexo. O sexo tem a ver com poder.”