Suicidou-se a 11 de Agosto de 2014, aos 63 anos. Deixou-nos um legado repleto de humor, interpretações mordazes e uma vida que dificilmente se dissocia das mesmas. Emily Herbert, jornalista, é a autora da recente biografia do actor. Miguel Branco leu-a como se de um filme se tratasse. Siga o exemplo
Era Agosto. E subitamente o mês das leituras banhadas a sol torna-se agridoce. Tal qual um pedaço de jornal que azeda o almoço e provoca o início do debate que tende a destronar a máxima da tese “ri-te porque rir faz bem”. Robin Williams morreu às 12 horas de dia 11 do oitavo mês de 2014, com a incerteza de que rir seja o melhor remédio. Dúvidas próprias de um solitário depressivo, que tinha três meios-irmãos mas foi eterno filho único, que tinha uma mansão com excesso de quartos, arrendados por um preço simpático a todos os seus fantasmas. Diariamente interpretava uma nova personagem para tirar o preto-e-branco da relação com a sua mãe. Conclusões de acesso instantâneo mal se folheiam as primeiras páginas de “Robin Williams”, biografia escrita por Emily Herbert, recentemente editada pela editora Clube do Autor.
“A vida, o sorriso e o sofrimento do homem que fez rir o mundo” é o subtítulo de um livro que deambula por altos e baixos, da infância aos grandes papéis, do stand-up ao vícios. Ao longo de 15 capítulos e 221 páginas, Emily Herbert – jornalista e também autora da biografia de Lady Gaga e de Michael Jackson, entre outros – faz-nos percorrer o íntimo do actor, com citações próprias, homenagens daqueles que o rodeavam, corte e costura de um sem-fim de entrevistas do norte-americano.
Robin Williams nasceu e viveu parte da sua infância em Lake Forest, um subúrbio abastado a norte de Chicago. Terrenos a perder de vista, espaço para correr e tropeçar, todos os brinquedos e bonecos do mundo, dinheiro para uma colecção de soldadinhos de enorme dimensão – o aparente sonho de qualquer miúdo era o inferno do futuro comediante. Paradoxo para o senso comum com tiques inquisidores, mas que talvez se tornem de melhor compreensão com a frase retirada do livro: “O que unicamente me acompanhava em criança, a minha amiga, era a minha imaginação.”
De Chicago foi para Detroit, à boleia de uma família endinheirada, com um destino tão volátil como um cata-vento. Aos 16 anos a sua vida tem nova reviravolta, desta vez com direcção à Califórnia. O rapaz gordo e vítima de bullying nas demais escolas começa a dar lugar ao tipo de piada sempre pronta no bolso, camisas havaianas e chinelos de enfiar no dedo, sinónimo de um estilo de vida mais livre.
Foi precisamente aí, em passeios junto à praia, nos intervalos das aulas, que entendeu que não era a única pessoa excêntrica à face da Terra. “Foi para a Secundária de Redwood e começou a trazer para casa uns amigos bastante selvagens e esquisitos. Não me parece que se sentissem atraídos por ele se não fosse também um pouco selvagem”, disse Laura Smith, mãe do actor, ao “Chicago Tribune” sobre a mudança para a Califórnia.
O stand-up vem aí. As pessoas faziam fila para o ouvir improvisar sobre o quotidiano e da actualidade, uma revista de imprensa por um rapaz com jeito para discursos.
Talvez a essa experiência se possa atribuir o ingresso na Juilliard School, uma das melhores escolas de teatro do mundo. A carreira tornou-se extensa, com filmes de todos os géneros, onde o estilo era acessório. “Bom dia, Vietname”, de 1987, tornou-o um ídolo. Com “O Bom Rebelde”, 1997, convence a Academia a dar-lhe o Óscar de Melhor Actor Secundário, numa fita em que contracena com o então jovem talentoso Matt Damon. Mas é com “O Clube dos Poetas Mortos”, de 1989, que dá a uma geração uma frase para dizer de trás para a frente e vice-versa durante toda a vida: “Carpe diem. Agarrem o momento, rapazes. Tornem as vossas vidas extraordinárias”, dito pela sua personagem John Keating e que aqui surge no separador deste “Robin Williams”. Tentaremos.







