António Costa passou o Natal a 30 km de Évora mas não foi ver Sócrates


Apesar de ter passado o Natal em Montemor-o-Novo, no Alentejo, a 30 quilómetros de Évora, António Costa não aproveitou a proximidade geográfica para fazer a sua primeira visita a José Sócrates, o ex-primeiro–ministro que está em prisão preventiva no Estabelecimento Prisional de Évora há mais de um mês. Hoje, o secretário-geral do PS regressa ao…


Apesar de ter passado o Natal em Montemor-o-Novo, no Alentejo, a 30 quilómetros de Évora, António Costa não aproveitou a proximidade geográfica para fazer a sua primeira visita a José Sócrates, o ex-primeiro–ministro que está em prisão preventiva no Estabelecimento Prisional de Évora há mais de um mês. Hoje, o secretário-geral do PS regressa ao trabalho em Lisboa e, para cumprir a sua promessa de fazer uma visita “pessoal” a Sócrates “durante as férias de Natal” já só tem esta semana. Sócrates pode receber visitas às terças, quintas e fins-de-semana.

António Costa manteve-se, desde o primeiro minuto da detenção de Sócrates para interrogatório, absolutamente empenhado em separar o PS do processo judicial que envolve o ex-secretário-geral do partido. Conseguiu o impossível ao impedir que o congresso do PS, realizado uma semana depois da detenção, se transformasse numa manifestação em defesa da inocência do ex-primeiro-ministro. 

Apesar de Sócrates, nas cartas que enviou da prisão, ter acusado o processo de ter “contornos políticos”, Costa conseguiu que praticamente todo o partido se mantivesse distante da tese conspirativa. Foi bem sucedido e as sondagens mais recentes confirmaram que a sua estratégia rendeu frutos: a prisão do homem que liderou os governos PS de 2005 a 2011 não afectou minimamente nem a popularidade de António Costa nem as possibilidades do PS vir a ser o vencedor das próximas legislativas.

A 6 de Dezembro, já depois de António Guterres ter visitado José Sócrates na prisão, António Costa manifestou ao “Expresso” a intenção de visitar o ex--primeiro-ministro “nas férias de Natal”. “Hei-de ir durante as férias de Natal. Com certeza que irei”, disse Costa, que acrescentou: “Só me ficaria mal se não fosse. Você não faria o mesmo se um amigo seu fosse preso?”.  A “condição” que o novo secretário-geral do PS colocou para visitar o ex-primeiro-ministro foi que a ida a Évora fosse “a título pessoal”. “É essa a separação, a visita será a título individual”, disse ao Expresso.

Do novo secretariado do PS, apenas Sérgio Sousa Pinto visitou Sócrates, que também recebeu a visita do líder parlamentar, Ferro Rodrigues. Marcos Perestrello, presidente da Federação Socialista de Lisboa, que sempre foi muito próximo de Costa – e seu antigo número dois na câmara de Lisboa – também se deslocou a Évora. Mas a prisão de Évora não tem sido propriamente um local de romagem do novo PS de António Costa, onde a ideia do processo ter “contornos políticos”, como sustenta Sócrates, é completamente abjurada.

O primeiro socialista a visitar Sócrates na prisão foi Capoulas Santos, presidente da distrital do PS de Évora. Seguiu-se Mário Soares, que fez à porta da prisão declarações emocionadas em defesa de Sócrates, que nunca mais repetiu. António Guterres que foi o responsável pela ascensão política de Sócrates (convidou-o para secretário de Estado do seu governo depois de vencer as legislativas de 1995), foi à prisão de Évora, numa visita que surpreendeu muitos.

O ex-presidente do PS Almeida Santos, os históricos António Campos e Manuel Alegre também foram a Évora. Jorge Coelho – que organizou as recentes primárias socialistas – também visitou Sócrates, assim como Pedro Silva Pereira, o seu braço-direito no governo. Também Jorge Lacão, ex-ministro de Sócrates,  o ex-secretário de Estado das Obras Públicas Paulo Campos, o ex-ministro Fernando Gomes, o presidente do Futebol Clube do Porto Pinto da Costa, o presidente da câmara de Matosinhos Guilherme Pinto estiveram em Évora. Ontem, Sócrates contou com a visita de Luís Paixão Martins, consultor de comunicação, que afirmou não ser amigo do ex-primeiro--ministro, mas ter por ele “uma consideração muito grande do ponto de vista profissional, pessoal e político”.

A visita mais incómoda para o PS foi quando, no primeiro dia do congresso, os deputados Renato Sampaio, André Figueiredo e Isabel Santos – amigos íntimos do ex-primeiro-ministro – abandonaram os trabalhos que decorriam em Lisboa para ir visitar Sócrates na prisão. A ideia caiu mal na direcção do partido e foi comunicado ao grupo que a visita a Sócrates, naquele timing preciso, era o que menos interessava ao PS.

É difícil conceber que a estratégia de afastamento de Costa seja do agrado de Sócrates. Se na primeira carta que enviou da prisão, Sócrates afirmou “não ter dúvidas que este caso tem também contornos políticos”, mas ao mesmo tempo disse que “qualquer envolvimento do Partido Socialista só me prejudicaria, prejudicaria o partido e prejudicaria a democracia”, numa carta seguinte não hesitou em afirmar que “o ‘sistema’ vive da cobardia dos políticos”. E não excluiu ninguém.