Motorista de José Sócrates pode ir para casa já amanhã


O ex-motorista de José Sócrates deverá deixar a prisão anexa à Polícia Judiciária amanhã ou quarta-feira. Segundo o i apurou, o relatório pedido à Direcção-Geral de Reinserção e Serviços Prisionais pelo juiz Carlos Alexandre deverá ficar concluído durante o dia de hoje e a partir dessa altura – caso se conclua que existem condições na…


O ex-motorista de José Sócrates deverá deixar a prisão anexa à Polícia Judiciária amanhã ou quarta-feira. Segundo o i apurou, o relatório pedido à Direcção-Geral de Reinserção e Serviços Prisionais pelo juiz Carlos Alexandre deverá ficar concluído durante o dia de hoje e a partir dessa altura – caso se conclua que existem condições na habitação para que João Perna espere o desenrolar da investigação em casa com pulseira electrónica – a saída da cadeia acontecerá a qualquer momento.

Segundo fontes dos serviços prisionais esta avaliação prévia só é negativa em casos extremos, pelo que é previsível que o relatório às condições da habitação seja positivo. “Nestes relatórios o que se avalia é se existem condições básicas, como o consentimento dos coabitantes em receber o arguido e ainda se existe electricidade na habitação para que possa ser instalado o sistema da pulseira electrónica.” Esta informação prévia traz ainda outras descrições que possam ser relevantes para a avaliação do juiz.

Nestes casos o prazo máximo para entregar a informação pedida é de cinco dias. E, caso se verifiquem todos os pressupostos, o juiz deverá autorizar de imediato a colocação dos aparelhos necessários à vigilância electrónica do arguido na casa.

Colaboração premiada Quando na passada quinta-feira, João Perna, indiciado por fraude fiscal, branqueamento de capitais e posse ilegal de arma, foi chamado ao Departamento Central de Investigação e Acção Penal para um interrogatório complementar, o ex-motorista de José Sócrates quis deixar claro que partiu de si a decisão de mudar de defesa, por considerar que a estratégia do primeiro advogado poderia não ser a mais acertada. Perna justificou ainda que se não respondeu a todas as questões quando foi interrogado pelo juiz Carlos Alexandre foi porque fora aconselhado a estar em silêncio sobre alguns factos. Segundo o i apurou junto de fontes da Justiça, durante as explicações – que acabaram por lhe valer a hipótese de sair da cadeia anexa à PJ ainda antes do Natal – o antigo motorista de José Sócrates disse também que terá recebido várias pressões desde que fora detido.

Este novo interrogatório aconteceu depois de na terça-feira o seu advogado ter apresentado um requerimento invocando nulidades no processo e em que era requerida a substituição da prisão preventiva por uma medida de coacção mais leve, como é o caso da obrigação de permanência na habitação.

O antigo motorista – que entretanto já terá rescindido contrato – terá tido um papel importante no esquema alegadamente liderado pelo ex-primeiro-ministro. Segundo informações divulgadas por alguns órgãos de comunicação, o motorista terá transportado malas com dinheiro. A dúvida de se se tratava de dinheiro enviado de Carlos Santos Silva para Sócrates terá sido confirmada com recurso a escutas telefónicas. Além do transporte de quantias avultadas, o motorista de José Sócrates é ainda suspeito de ter colocado uma conta em seu nome à disposição do ex-governante, para que fossem feitas diversas operações bancárias que não estivessem associadas a Sócrates.

Sócrates recebe visita de Paulo Campos e Guilherme Dray

O deputado socialista e ex-secretário de Estado das Obras Públicas Paulo Campos visitou ontem José Sócrates, que está em prisão preventiva na cadeia de Évora. Aos jornalistas disse que foi dar um abraço “emocionado”, de “grande amizade” e de “grande solidariedade”.

Paulo Campos foi a Évora acompanhado por Filipe Baptista, ex-secretário de Estado adjunto do antigo primeiro-ministro, e Guilherme Dray, chefe de gabinete do antigo líder do Governo.

Guilherme Dray é uma das pessoas que continuou a acompanhar Sócrates mesmo após este  assumir funções na farmacêutica Octapharma. O chefe de gabinete do ex-governante chegou mesmo a estar presente numa reunião com elementos da Octapharma, entre os quais Sócrates, e do Ministério da Saúde brasileiro. Segundo já foi divulgado por vários jornais, a ligação de Sócrates com esta empresa está também a ser investigada.

No sábado, o ex-primeiro-ministro foi visitado pelos antigos ministros socialistas Jorge Coelho e Vieira da Silva. José Sócrates está preso preventivamente no Estabelecimento Prisional de Évora por suspeita de corrupção, branqueamento de capitais e fraude fiscal qualificada, num caso relacionado com alegada ocultação ilícita de património e transacções financeiras de vários milhões de euros.

Ex-governante diz não saber quanto recebeu do amigo

No interrogatório do juiz Carlos Alexandre, a 21 de Novembro, José Sócrates terá assumido que recebeu dinheiro do empresário e amigo de infância Carlos Santos Silva, mas garantiu não ter a noção de qual a quantia total. Segundo o “Expresso”, quando confrontado no Tribunal Central de Instrução Criminal, com os dados recolhidos pela investigação, o ex-primeiro-ministro justificou que se trataram de empréstimos pessoais, não tendo dado qualquer sinal de que até hoje já tivesse pago alguma parte desses alegados empréstimos. Até porque, segundo terá dito, não sabe quantificar ao certo o valor em dívida. Tal como já foi tornado público, a equipa do Departamento Central de Investigação e Acção Penal responsável pela investigação a José Sócrates está convencida de que os mais de 20 milhões que o empresário Carlos Santos Silva acumulou na Suíça – e que em 2010 transferiu para Portugal – pertencem ao ex-primeiro-ministro. Ou seja, que em causa não estão empréstimos mas dinheiro que já pertence ao ex-governante. Ainda que persistam algumas dúvidas sobre a origem deste montante, uma coisa é quase certa: a ter existido corrupção, esta aconteceu ainda no mandato em que Sócrates governou com maioria absoluta, uma vez que este dinheiro foi acumulado até 2009.

Santos Silva diz ter comprado milhares de livros de Sócrates

O empresário Carlos Santos Silva terá admitido no último mês, quando interrogado por Carlos Alexandre, que comprou vários milhares de exemplares do livro “A tortura em democracia”, cujo autor é o ex-primeiro-ministro. De acordo com o “CM”, empresário justificou que o fez para “ajudar um amigo”. A compra não foi feita directamente por Santos Silva, mas sim pelas suas empresas. O mesmo jornal noticiou ontem que o Ministério Público e os inspectores da Autoridades Tributária realizaram diligências quinta e sexta-feira em vários locais, com o objectivo de apreender documentos sobre as relações financeiras entre os dois principais arguidos deste caso.

Sócrates e o empresário estão indiciados por corrupção, fraude fiscal e branqueamento de capitais. Além destes dois arguidos de João Perna, motorista do ex-governante – todos em prisão preventiva – este processo tem ainda como arguido o advogado Gonçalo Trindade que está proibido de contactar com os restantes arguidos, de se ausentar para o estrangeiro, com a obrigação de entregar o passaporte e de se apresentar semanalmente no Departamento Central de Investigação e Acção Penal.