Serviços Prisionais admitem excepção para filhos visitarem Sócrates


Rui Sá Gomes, director da Direcção-Geral de Reinserção e Serviços Prisionais,  admite ao i que podem ser abertos outros horários de visita em situações excepcionais e fundamentadas. Sócrates ainda não fez esse pedido. Defesa aposta tudo no recurso entregue esta sexta-feira Nas três semanas de prisão preventiva, não faltaram visitas ao ex-primeiro-ministro José Sócrates. A…


Rui Sá Gomes, director da Direcção-Geral de Reinserção e Serviços Prisionais,  admite ao i que podem ser abertos outros horários de visita em situações excepcionais e fundamentadas. Sócrates ainda não fez esse pedido. Defesa aposta tudo no recurso entregue esta sexta-feira

Nas três semanas de prisão preventiva, não faltaram visitas ao ex-primeiro-ministro José Sócrates. A ex-mulher foi das primeiras. Seguiu-se uma romaria de notáveis, que incluiu António Guteres, Mário Soares ou Almeida Santos. E até uma galeria de improváveis, como Pinto da Costa, presidente do Futebol Clube do Porto, e “Barbas”, um dos mais conhecidos sócios do Benfica que, como escolheu mal o dia, acabou por ficar à porta. De entre tantos, impossível não reparar em três ausências: os dois filhos de José Sócrates, um deles menor, e a mãe do antigo governante, nunca foram vistos à entrada das visitas do Estabelecimento Prisional de Évora.

Porquê? Sócrates quer mantê-los longe do circo mediático, preservando a sua intimidade.

Rui Sá Gomes, director-geral da Reinserção e Serviços Prisionais, admite ao i que, o horário alargado das visitas – privilégio concedido aos advogados -, poderá aplicar-se noutras “situações, a título excepcional” desde que “devidamente fundamentadas”. Poderia, por exemplo, ser invocada a necessidade de reserva da imagem ou da vida privada.

Este pedido, confirmou Rui Sá Gomes ao i, ainda não foi apresentado pela defesa de Sócrates. E mesmo que venha a ser feito, e a ser aceite, é difícil garantir que nenhuma câmara filmaria o momento. As televisões têm estado de plantão no Estabelecimento Prisional de Évora, de manhã à noite, e a cadeia não tem outra porta de entrada. “Não nos dão grandes hipóteses”, diz o director responsável pelos serviços prisionais.

As esperas intermináveis dos jornalistas mereceram, na passada semana, duras críticas de Augusto Santos Silva, ex-ministro de José Sócrates. No espaço semanal de comentário na TVI, Santos Silva questionou: “Não há o mínimo de humanidade nas pessoas que mandam na informação?” Os filhos de Sócrates, acrescentou, “não o podem visitar”. “E talvez aqueles que estão a fazer aquela triste figura estejam à espera daquela oportunidade para enxovalhar os filhos do detido. (…) Aqueles jornalistas, parece que são jornalistas, que fazem uma figura tristes, acampados em frente um estabelecimento prisional (…) estão a impedir coisas que eu acho que são básicas para a humanidade. Nenhum deles pensa o que é que a sua presença está a impedir”

Um amigo de José Sócrates, seu ex-colaborador, também reconhece ao i que “a família sente que existe uma intromissão na sua vida privada”: “Não tenho dúvidas de que o facto de estarem sempre lá jornalistas terá tido influência em não ter lá ido nenhum familiar mais próximo.”

Também António Costa, antigo número dois de Sócrates, tem vindo a adiar a visita. Em declarações ao “Expresso”, o secretário-geral do PS afirmou: “Só me ficaria mal se não fosse.” E admitiu que encontraria “uma forma privada de o fazer”.

Motorista vai para casa Depois da saga de habeas corpus entregues por simples cidadãos para tentar libertar José Sócrates, a defesa do ex-primeiro só ontem apresentou recurso da prisão preventiva. Os seus fundamentos permanecem secretos, depois de o Conselho Distrital da Ordem dos Advogados ter impedido a revelação do seu conteúdo.

No dia em que o advogado João Araújo jogou todos os trunfos no recurso a pedir a libertação do ex-primeiro ministro, em prisão preventiva desde 25 de Novembro por suspeitas de corrupção activa e passiva, fraude fiscal e branqueamento de capitais, o motorista do ex-governante, João Perna, recebeu a notícia de que, muito provavelmente, irá passar o Natal a casa.

Para que deixe de estar em prisão preventiva e passe a estar em prisão domiciliária, falta apenas o OK da Direcção-Geral de Reinserção e Serviços Prisionais. A defesa, agora a cargo do advogado Ricardo Candeias, apresentou na terça um requerimento ao Tribunal Central de Instrução Criminal, pedindo a alteração da medida de coacção. Na quinta-feira, foi sujeito a novo interrogatório do procurador Rosário Teixeira. Mudou a estratégia do primeiro interrogatório, mostrou-se disponível e colaborante, e apresentou novos dados ao processo. Em resultado, conseguiu o aval do Ministério Público para aguardar o desenrolar da investigação em prisão domiciliária. Ontem, foi a vez de o juiz Carlos Alexandre concordar com essa alteração.

João Perna é suspeito de ter transportado dinheiro do empresário Carlos Santos Silva para José Sócrates. Segundo o semanário “Sol”, Sócrates terá recebido no último ano um total de 400 mil euros, cerca de 33 mil euros por mês. Perna está em prisão preventiva desde 24 de Novembro por suspeitas de fraude fiscal qualificada, branqueamento de capitais e posse de arma proibida.