Realeza. As conversas do rei Juan Carlos com Futre e Figo


A Taça de Espanha é um caso curioso de mediatismo. Para começar, a própria designação oficial é um termo mais fino e aristocrático que qualquer outro: é a Taça do Rei. Não é portanto uma Taça qualquer, é a do Rei, e só isso dá um ar mais pomposo – embora às vezes os jogadores…


A Taça de Espanha é um caso curioso de mediatismo. Para começar, a própria designação oficial é um termo mais fino e aristocrático que qualquer outro: é a Taça do Rei. Não é portanto uma Taça qualquer, é a do Rei, e só isso dá um ar mais pomposo – embora às vezes os jogadores não lhe prestem a vassalagem devida. Como em 1984, por exemplo, quando a segunda parte tem menos dez minutos de tempo útil entre chutos e pontapés.

De quem? Maradona. Esse mesmo, o Diego Armando. Fenomenal com o pé esquerdo (sem esquecer também a mão esquerda), o argentino é um pugilista esforçado de vale-tudo naquela noite de 5 de Maio de 1984, no seu último jogo pelo Barcelona. O argentino perde a final da Taça do Rei (Juan Carlos) para o Athletic Bilbao e também perde as estribeiras no final do jogo, ao pontapear e esmurrar todos os adversários, fossem eles futebolistas, roupeiros ou massagistas.

Com o visionamento das imagens, a federação suspende-o por três meses de todas as competições nacionais e é por isso que Josep Lluis Núñez, presidente do Barça, decide vender o seu passe ao Nápoles, onde se afirma como o maior do mundo pós-Pelé.

Pronto, isto é um exemplo de uma Taça do Rei (Juan Carlos) sem ponta por onde se pegue. Há outras, claro está, bem mais tranquilas e condizentes com a realeza. Como a de 1992. É um Verão surpreendente, aquele. Na quarta-feira, dia 25 de Junho, a Dinamarca ganha o Europeu na Suécia (2-0 à Alemanha). No dia seguinte, o Atlético Madrid levanta a Taça do Rei (Juan Carlos) em pleno Santiago Bernabéu. O adversário? Ironia das ironias, o anfitrião Real Madrid. É outro 2-0, com golos de Schuster (livre directo) e Futre (jogada individual pela esquerda concluída com um remate indefensável).

Quem recebe o troféu das mãos do Rei Juan Carlos? O Paulo, claro. A imagem é inesquecível. Afinal, é a primeira vez que um português feito capitão sobe à tribuna para essa honra. Futre tem a palavra, através do livro El Portugués de Luís Aguilar. “Ele disse-me “fizeste um grande jogo e quero que saibas que fico muito honrado por entregar esta taça a um português.”

Seis anos depois, outro português dá um ar de sua graça. É ele Figo. Na ausência de Guardiola, o 7 entra no Mestalla com a braçadeira. Stankovic dá avanço ao Maiorca e Rivaldo empata. Nos penáltis, Rivaldo falha, Figo idem idem mas o Barça ganha 5-4 e é Figo quem vai lá acima ter dois dedos de conversa com o Rei Juan Carlos. “É o culminar de uma noite especial. Quando subi os degraus, a festa já era tanta que me esquecera do penálti mas o Rei lembrou-me do “feito” e rimo-nos com essa consideração.”

Sincronizemos então o relógio: Taça do Rei Afonso III (1902-1932), Taça do Presidente da República (1933-36), Taça Generalíssimo (1939-76), Taça do Rei Juan Carlos I (1977-2014) e Taça do Rei Felipe (a partir de 2015). Olé.