Europeias. A eleição de 21 que pode acabar num 31


A maioria espera perder por poucos e aguentar-se, mas o factor Portas é imprevisível. OPS espera ganhar por muitos e lançar-se seguro para eleições. Os comunistas lutam para crescer e o BE para não se evaporar. Mas nas contas da noite de domingo também podem pesar Marinho e Pinto, Rui Tavares e sobretudo a abstenção…


A maioria espera perder por poucos e aguentar-se, mas o factor Portas é imprevisível. OPS espera ganhar por muitos e lançar-se seguro para eleições. Os comunistas lutam para crescer e o BE para não se evaporar. Mas nas contas da noite de domingo também podem pesar Marinho e Pinto, Rui Tavares e sobretudo a abstenção

Maioria Passos e Portas juntos na hora da verdade
Um resultado sofrível (perder por poucos) até pode fazer a maioria sorrir. Um mau resultado (uma derrota clara) até pode permitir à coligação manter-se sólida. E se o resultado de domingo for uma hecatombe eleitoral, pode levar a uma demissão do governo? Pedro Passos Coelho rejeita leituras nacionais dos resultados das europeias e garante que os “mandatos são sagrados”. Com isto passa duas mensagens: não pretende sair antes de tempo e quer que a manutenção de Paulo Portas no governo seja irrevogável. Aliás, mostrou não ter gostado de ouvir falar de outros voos (o de comissário europeu, por exemplo) atribuídos ao seu vice e prendeu-o à terra. É, mais uma vez, este difícil equilíbrio de vontades na coligação que vai estar à prova a partir de domingo. Os líderes da coligação vão assistir juntos à noite eleitoral, num hotel em Lisboa. Afinal, este vai ser o primeiro teste eleitoral à união e um momento decisivo para tirar a limpo se ela pode trazer vantagem nas legislativas de 2015.

Fasquia oficial: “Ganhar. Por um voto ou muitos” (Paulo Rangel)
Fasquia mínima: Não ficar abaixo dos oito eleitos entre os dois partidos
Argumento da campanha: “A irresponsabilidade do PS levou o país à bancarrota”

PSD contido, até ver
Saído de um programa de ajustamento cuja execução liderou, depois de ter ganho as legislativas de 2011, Passos Coelho e o PSD tentam capitalizar com a saída limpa anunciada em pré-campanha. Mas o braço é curto (porque a vigilância apertada dos credores não acaba aqui) para acenar com promessas a curto prazo ou, como disse há dois dias, “fazer promessas a pataco”. O discurso não tem ajudado Paulo Rangel e Nuno Melo. Três dias antes da campanha oficial começar, o primeiro-ministro anunciou no parlamento que não está excluído um novo aumento de impostos este ano, caso seja necessário responder a um eventual chumbo constitucional às normas do Orçamento que ainda estão a ser fiscalizadas. Já para não falar do aumento do IVA que o Documento de Estratégia Orçamental sinalizou para 2015. OPSD até agora tem estado relativamente discreto face a estes anúncios, mas um mau resultado eleitoral pode suscitar pressões internas e agitar as águas. O partido já marcou para quarta-feira o Conselho Nacional para analisar o veredicto das urnas.

CDS Até que os impostos nos separem
A crise política do Verão passado até pode ter amarrado Portas ao governo, mas as divergências já voltaram a dar sinal. O CDS tem mostrado maior urgência que a liderança do PSD em ver a carga fiscal aliviada e quer o IRSreduzido já em 2015. Mas ainda recentemente Passos disse que não havia promessas nesse sentido. É um braço-de-ferro que tem pelo meio Maria Luís Albuquerque, a ministra das Finanças que Portas foi forçado a aceitar na crise política. Uma derrota evidente da coligação na noite de domingo fará tremer alicerces já pouco firmes e vai pôr o CDS a pensar sobre a vantagem de renovar a coligação para 2015. E até mesmo se o melhor não seria antecipar eleições, uma vez que o país já se livrou do “protectorado”, como lhe chama Portas. Um argumento a favor: o próprio Presidente, normalmente zeloso da estabilidade política, já chegou a admitir fazer eleições este ano, no pós-troika.

PS

sem metas mas à espera de encurtar caminho
44,53%. Foi o resultado que o PS teve nas europeias de 2004. Estava na oposição, como agora, e era uma maioria de direita que governava há dois anos. O cabeça-de-lista, Sousa Franco, morreu a três dias das eleições. Um cenário agreste de que o líder Ferro Rodrigues conseguiu tirar o melhor resultado de sempre para os socialistas em europeias. Na actual direcção, evitam-se comparações e a definição de uma meta ambiciosa. Muita contenção quando muito se joga. A direcção de Seguro vai a votos pela primeira vez numa eleição nacional e existe pressão interna para que não apresente um “resultado empastelado”, e a expressão é precisamente do líder de 2004. No PS há confiança na vitória, mas sobretudo na “derrota esmagadora” da maioria, como se espera na direcção socialista. E aqui, fontes da direcção quantificam:“Menos de 30% é uma derrota esmagadora.” E depois? Para já, o PS fecha-se em copas sobre o que fará, mas espera que o executivo tire consequências imediatas. Se o PS ganhar “por um”, como diz, pode cantar vitória, mas Seguro vai voltar a ver agitarem-se os fantasmas sobre a sua liderança.

Fasquia oficial: “Mais um voto é uma vitória” (Francisco Assis)
Fasquia mínima: Pelo menos mais um eurodeputado que em 2009
Argumento da campanha: “É preciso uma ruptura com a política de austeridade”

CDU

uma noite sem previsão de sobressaltos
A coligação comunista partiu confiante para estas eleições, depois de ter conseguido recuperar terreno nas últimas autárquicas. É essa onda que a CDUtenta aproveitar nestas europeias em que se apresentou com um cabeça-de-lista renovado. Depois de dez anos a concorrer com Ilda Figueiredo na frente de combate, o comunista João Ferreira aparece com o objectivo de reforçar a votação comunista e regressar ao número de eurodeputados de há 20 anos. O crescimento da CDU na noite de domingo, a confirmar-se, pode fazer dela uma das grandes vitoriosas destas eleições.

Fasquia oficial: Reforçar votação
Fasquia mínima: Manter os dois eurodeputados
Argumento da campanha: “O voto útil só pode ser na CDU”

BE

de três para um ou nenhum eurodeputado
As últimas europeias trouxeram ao Bloco de Esquerda um resultado histórico, tendo eleito três eurodeputados – um deles é Rui Tavares que (na altura foi o 22º eleito, desta vez Portugal só tem 21 eurodutados) desta vez concorre pelo Livre. Cinco anos depois, e apesar de tradicionalmente a esquerda recuperar em contextos sociais degradados, a eleição de Marisa Matias, a cabeça de lista do partido, não está garantida, de acordo com alguns estudos de opinião (o da Pitagórica para o i coloca-a em dúvida). A noite eleitoral pode ser longa para o partido, caso se confirme o pior cenário. Se o resultado for simplesmente mau (com o BE a passar de três para apenas um eleito), isso também deve dar lugar a uma reflexão interna mais dura. A liderança bicéfala nunca foi pacífica e esta pode bem ser a deixa para os críticos internos.

Fasquia oficial: Conseguir dois deputados
Fasquia mínima: Eleger um eurodeputado
Argumento da campanha: Não houve nenhuma saída limpa. A única que existiu foi para a banca”

Abstenção – Tem sido um factor decisivo crescente nas noites eleitorais, sobretudo quando se tratam das escolhas para o Parlamento Europeu. Em 2009, a abstenção foi de 63,2% em Portugal, bem acima da taxa média na União Europeia que ficou na casa dos 57%. Foi a segunda pior desde a adesão, só batida nas europeias de 94 em que a abstenção foi de 64,5% (ver gráfico). Numa pesquisa documental sobre as europeias, promovida pelo Parlamento Europeu logo depois das eleições de 2009, foram apenas cinco os países (Itália, Grécia, Chipre, Lituânia e Roménia) que viram o nível de participação cair mais do que em Portugal. E fica a meio da tabela quando se compara o nível de participação em eleições legislativas e em europeias: nas de 2009, a diferença entre as duas foi de 21,30%. O peso no resultado eleitoral é grande e os partidos sabem disso. O líder do PS já veio dizer que a abstenção “é o principal adversário” do partido. Mas as previsões são de novo recorde, ainda que o tempo não esteja de praia, tendo em conta a evolução nacional e também a europeia, em que em 30 anos, a participação nas europeias caiu em 19 pontos percentuais.

Ainda a ter em conta no domingo

Numas eleições onde concorrem 16 listas, nem só nos grandes partidos se deve concentrar a atenção na noite de domingo. Sobretudo quando entre as potenciais surpresas está um nome com forte mediatismo, o de Marinho e Pinto. O antigo bastonário da Ordem dos Advogados entra na política com as sondagens a seu favor: aparece como eleito ou quase eleito. Mas há outro nome a ter em conta no domingo. Rui Tavares estreia-se pelo próprio pé, que é como quem diz pelo recém-nascido Livre e tenta manter-se em Bruxelas.

Quanto vale o discurso anti-classe política?

O antigo bastonário da Ordem dos Advogados entra na política pelo MPT e directamente como cabeça-de-lista às europeias. Na sondagem da Pitagórica para o i surpreende ao colher 5,6% nas intenções de voto, ficando à frente do BE. Um resultado que, a confirmar-se, coloca Marinho e Pinto como eurodeputado. A seu favor tem o discurso anti-classe política e a desfavor o pouco relevo do MPT no espaço público. A prova faz-se depois de amanhã e pode permitir a Marinho pesar uma já falada candidatura presidencial.

Rui Tavares aposta na conciliação da esquerda

O eurodeputado que rompeu com o Bloco de Esquerda em pleno mandato, transferindo-se para outra família política no Parlamento Europeu, tenta a sua sorte através de um partido recém-criado, o Livre. Rui Tavares tem sobre si os holofotes depois de, em 2009, ter sido uma das surpresas da noite eleitoral, ao ser o terceiro da lista do BE a conseguir um lugar em Bruxelas. Um feito inédito para o partido. Hoje, a correr pelo próprio pé e com uma estrutura ainda verde, Rui Tavares aposta num discurso conciliador à esquerda, entre os extremos e o PS.