“Factor Sócrates”. A direita fala dele todos os dias, Assis às vezes, Seguro nunca


É o nome mais repetido nestas europeias. José Sócrates quase faz o pleno nos discursos das candidaturas dos principais partidos e ontem voltou a marcar o dia quando Paulo Portas, logo pela manhã, apelou ao “direito à indignação” contra Sócrates. O ex-líder do PS tem tido referência diária no combate político, mas no lado socialista…


É o nome mais repetido nestas europeias. José Sócrates quase faz o pleno nos discursos das candidaturas dos principais partidos e ontem voltou a marcar o dia quando Paulo Portas, logo pela manhã, apelou ao “direito à indignação” contra Sócrates. O ex-líder do PS tem tido referência diária no combate político, mas no lado socialista o papel da defesa tem ficado quase circunscrito a Francisco Assis.

“Usem democraticamente o direito à indignação: no domingo não fiquem em casa, vão votar serenamente e travem o caminho desta glorificação de José Sócrates”. A frase é do líder do CDS, que ontem foi à campanha e retirou da boca de Paulo Rangel a habitual picardia com o adversário socialista: “Apelo aos eleitores para pensarem bem quando virem José Sócrates, o homem que chamou a troika, o homem que assinou o Memorando, que nos levou ao precipício financeiro e que nos custou toda esta austeridade, na próxima sexta-feira, ser levado em ombros pelo PS. Pensem bem.” Sócrates vai entrar na campanha no último dia, para o tradicional almoço na Trindade.

O líder centrista entrou na caravana da coligação, na Gafanha da Nazaré, para uma visita a uma fábrica de transformação de bacalhau, mas a intervenção vinha apontada ao “factor Sócrates”, como lhe chama Portas.

José Sócrates tem sido lembrado todos os dias desta campanha oficial para as europeias, principalmente por Paulo Rangel. No PS, Assis já lhe chamou mesmo “obsessão”, mas a defesa do ex-líder socialista não tem ido além do cabeça-de-lista. Mais do que isso só mesmo o eterno braço-direito do ex-primeiro-ministro, Pedro Silva Pereira, que domingo em Cabeceiras de Basto clamou: “Quando um socialista é atacado, acusado injustamente, é todo o PS que é atacado e acusado.” Mas até agora o topo do actual PS ainda não respondeu. Nos últimos dias, já no período oficial, o líder do partido tem tido presenças diárias no terreno, mas nunca falou do ponto que tem dominado os ataques ao PS.

Recorde-se que um dos principais motivos que fez tremer esta direcção do PS, no início de 2013, foi precisamente as queixas da ala mais próxima de Sócrates sobre a falta de uma defesa da herança. Foi o compromisso assumido por Seguro nesse sentido que acabou por serenar os ânimos internos.

A maioria tem explorado esta sensibilidade no PS e Rangel já apelou mesmo ao voto na coligação “contra o vírus socialista”. Manuel Alegre criticou o “espírito inquisitorial de Rangel” e o cabeça-de-lista da coligação esperou “ao longo do dia [de ontem] uma retratação por parte de Francisco Assis e de António José Seguro”. Sentado. De Assis só ouviu, já mais tarde, um conselho para “ter juízo, porque passou esta campanha a desferir permanentes ataques, em termos absolutamente inadmissíveis, ao PS”. E a Portas, acusou-o de “tentar fugir ao debate do presente e do futuro” e a centrar a discussão política num “debate que poderia ter feito sentido há cinco anos, mas não faz sentido nenhum neste momento”. Com Lusa