Emídio Rangel. “A TSF e a SIC acabaram com a informação hierarquizada pelo respeitinho”


Ao 25 de Abril seguiram-se várias revoluções nas nossas vidas, algumas ecoaram anos depois, como a revolução nas famílias e nos costumes, outras estão por realizar, como a justiça social. A revolução na informação tem protagonistas: um dos maiores é o jornalista Emídio Rangel, que colocou as pessoas no centro da informação. Criou a TSF…


Ao 25 de Abril seguiram-se várias revoluções nas nossas vidas, algumas ecoaram anos depois, como a revolução nas famílias e nos costumes, outras estão por realizar, como a justiça social. A revolução na informação tem protagonistas: um dos maiores é o jornalista Emídio Rangel, que colocou as pessoas no centro da informação. Criou a TSF e a SIC. Há décadas que não tem lugar num país que voltou aos eixos.

Onde estava no dia 25 de Abril de 1974?

Estava em Lisboa e fui surpreendido pelo eclodir da revolução.

E que pensamentos lhe ocorreram na altura?

Uma grande esperança e o receio de que houvesse violência. Eu queria que a revolução triunfasse mas que não houvesse mortos nas ruas. Apesar da minha alegria, vesti a pele do repórter: andei por aí por todos os sítios, no centro da cidade e no Largo do Carmo.

Trabalhava numa rádio angolana. Qual era a reacção em Angola?

O que as pessoas sentiam não sei. O que posso dizer é que me davam a informação de que as entidades locais não reconheciam o golpe de Estado. E esforçavam-se por abafar as notícias. A primeira vez que eu telefonei não queriam pôr o trabalho no ar, mas depois eu continuei a telefonar e a insistir: “Metam no ar.” E apesar da proibição comecei a transmitir notícias e a reportagem detalhada do que estava a acontecer.

E quando volta a Angola qual é a expectativa que encontra?

O sentimento é que tudo seria diferente. Embora não se percebesse o que aconteceria. A partir daquele momento as coisas nunca mais iam ser iguais. Havia uma grande crença entre muita gente, em que eu me incluía, de que aquilo era o momento da instauração da democracia em Portugal e que se alargaria a Angola e a outras ex-colónias.

E já pensava que desse processo resultaria a independência de Angola?

Angola estava lançada nesse caminho, sentia que era inevitável que fosse independente de Portugal. As coisas poderiam ter de corrido de outra forma, mas a questão da independência era para mim um dado adquirido. O desenvolvimento económico, a sua riqueza e o crescimento de uma elite intelectual de estudantes universitários que achavam que tinha chegado a hora de encontrar uma solução descontinuada do domínio português.

Os contactos de Emídio Rangel com o MPLA são anteriores ao 25 de Abril de 1974?

São anteriores. Eu fui-me identificando com as pessoas e as posições do MPLA.

Estava no Lubango, uma zona em que havia uma maior influência da UNITA?

A UNITA tinha uma grande preponderância na zona sul, por muitas razões. Em termos geográficos, o MPLA dominava na zona de Luanda e a UNITA tinha uma forte influência na zona do Bié e no Lubango. Sobretudo a população branca acreditou mais no movimento de Jonas Savimbi do que nos outros movimentos de libertação. Acho que era vítima de preconceito e de alguma intoxicação propagandística. As pessoas tinham receios em relação às ligações do MPLA ao bloco de Leste e encostaram-se à UNITA, que lhes parecia dar maiores garantias de lá ficarem. Não eram todos e não era o meu caso, mas era a maioria.

A certa altura teve de fugir do Lubango por causa das ameaças da UNITA.

Quando a guerra aumentou de intensidade comecei a receber ameaças. E tive que pôr a hipótese de abandonar Angola. Não estava sozinho, o que tornava a situação insustentável. Estavam lá os meus pais, os meus sobrinhos, a minha filha pequenina. Para salvaguarda da segurança dos meus fui obrigado a encarar esta hipótese. E a certa altura comprei passagens na África do Sul para Frankfurt e daí para Lisboa. Só precisava de chegar a Joanesburgo. A ideia foi ir até Vinduque de carro e depois apanhar um avião daí até Joanesburgo.

Mas foi uma fuga complicada. Havia alguma ameaça?

Acabou por ser uma fuga complicada porque havia gente ligada à UNITA e à FNLA que não admitia a hipótese de alguém estar próximo do MPLA.

Sentiu que podia ser morto?

Sim, montaram uma ou duas armadilhas para tentar apanhar-me. Uma ainda em território da Namíbia. Quiseram prender-me num campo de refugiados. Eu recusei-me sempre a ficar aí. Foi uma luta com os sul-africanos, a tentar explicar-lhes que tinha passaporte português e uma passagem aérea para a Europa e que não ia ficar lá. Nisso concordávamos: nem eu nem eles queríamos estar juntos. Quando cheguei à Namíbia andaram à minha procura, levaram-me para a sede da Boss sul-africana e declararam-me persona non grata. Eu disse: “Ok, eu quero ir-me embora e o que vocês devem fazer é ajudar-me a embarcar imediatamente, porque eu quero ir–me embora para Portugal.” Eles puseram dois tipos de dia e de noite sempre a guardar–me. Há um dia que chegam lá ao hotel e dizem–me: “Vamos para o aeroporto.”

Como foi a chegada a Lisboa?

Não tinha familiares próximos em Portugal. Nem trabalho. Fiquei inicialmente em casas de amigos, que tinha conhecido em Angola, e depois comecei logo a trabalhar a vender enciclopédias, que não davam quase nada [risos] porque eram enciclopédias em inglês. E eu lá ia, subia os prédios e batia à porta para tentar vender enciclopédias em inglês. Era uma desgraça.

Mas conseguiu convencer alguém que não sabia inglês a comprar enciclopédias?

Consegui. Vendi umas três enciclopédias [risos]. Depois abriu o concurso público para a RDP. Eu candidatei-me e fiquei classificado em segundo lugar, em primeiro foi o Fernando Alves. E os primeiros 20 entraram para a RDP. E aí os meus problemas estavam resolvidos, já tinha emprego e precisei de arranjar uma casa. Andei por aí à procura e fui à Costa da Caparica, por sugestão de um outro amigo. Os tipos que tinham dinheiro tinham uma segunda casa na Costa, e muitos deles tinham fugido com a revolução, para o Brasil. Eu aluguei a casa a um banqueiro. Era uma casa simplória de Verão, mas fiquei lá com a minha mulher e a minha filha.

Era o ano de 1975, o país estava em pleno processo revolucionário…

Vivia-se o rescaldo da revolução, já tinha acontecido o 25 de Novembro e por isso tinha havido essa necessidade de substituir um conjunto de pessoas que tinham saído depois dessa data. Julgo que fui substituir as pessoas que tinham sido saneadas nessa data, não tenho a certeza, mas creio que foi isso.

Lembra-se de alguns trabalhos e reportagens que fez na RDP?

Lembro-me de uma reportagem que fiz perto de Coimbra, junto ao Mondego, numa povoação que ficava alagada quando o rio subia. Estive uns dias com eles. Toda a aldeia reconvertia periodicamente a sua vida às cheias, que aconteciam todos os anos. A vida adaptava-se. Por exemplo, eles passavam a ir de barco dar comida ao gado, que se refugiava em zonas mais elevadas cercadas pelas águas. Essa reportagem teve um prémio e a administração da RDP pressionou para não deixar que me fosse atribuída a mim a distinção.

Porquê?

Os tipos achavam que eu era o dinamizador do conselho de redacção e estavam muito irritados comigo, não queriam que ainda por cima eu recebesse alguma coisa que fosse um reconhecimento das minhas qualidades profissionais.

Nessa altura estava politicamente próximo do PCP…

Sim, estava. Em termos de valores havia coisas com que me identificava.

Na altura a rádio que se fazia em Portugal estava um pouco parada no tempo?

Eu notava que a rádio em Angola estava mais avançada. Nós já fazíamos reportagens em todo o mundo, e aqui não era normal. Nós íamos com a rádio angolana a todos os sítios onde aconteciam coisas. Para nós as notícias tinham uma dimensão global: a rádio era um mundo que se debruçava sobre todo o planeta. Lembro-me que na rádio do Lubango cobrimos os Jogos Olímpicos de Munique. Aqui não havia essa cultura, nem esses hábitos. O perfil da emissão que produzíamos era completamente diferente.

A adaptação foi difícil? Fazia normalmente que tipo de reportagens?

Fazia o que houvesse para fazer. Eu era o retornado. As pessoas que estavam na mesma situação faziam de tudo. Tínhamos tido uma escola de formação pouco habitual para o padrão em Portugal. Conhecíamos e dominávamos todo o processo técnico de fazer rádio: sabíamos montar, cortar as fitas magnéticas, fazer sonoplastia, coisas que para nós eram absolutamente normais aqui não eram habituais. Os jornalistas estavam limitados a fazer as perguntas aos entrevistados, a dar a voz e escrever os textos.

Durante a sua carreira de repórter ganhou vários prémios, creio que até um internacional…

Sim, ganhei um prémio dos reis de Espanha com uma reportagem feita na lixeira da Bobadela, dentro de uma comunidade de pessoas que viviam dentro da lixeira, faziam toda a vida lá. Tiravam tudo aquilo de que precisavam do lixo. Vestiam-se da lixeira. Abasteciam-se de medicamentos. Comiam da lixeira. Vendiam coisas e aproveitavam materiais do lixo. Como eu estive lá de dia e de noite, consegui retratar essa realidade. Fiz uma reportagem sobre essas pessoas, consegui criar empatia com elas e perceber os seus valores. Eles tinham, por exemplo, conceitos de justiça própria. Na lixeira eram eles que castigavam aquilo que era considerado uma violação das normas comuns. Esse trabalho de reportagem foi recompensado com um prémio internacional a que concorreram jornalistas de mais de uma centena de países.

Apesar dessas reportagens, não se sentia bem na RDP?

A RDP não reconhecia a iniciativa das pessoas, era uma estrutura muito pesada, manietada pelos sucessivos governos. Comecei a pensar que Portugal não podia continuar a viver com uma emissora do Estado e outra da Igreja. Era necessário libertar a rádio, fazer um combate para que fosse possível criar novas emissoras. Depois do boom das rádios piratas concorremos a uma frequência e ganhamos uma local. Foi uma batalha que durou mais de seis anos, para conseguirmos que isso fosse possível e termos condições para fazer a TSF.

Mas nesse concurso não ganharam a frequência maior, regional, que ficou para a Rádio Correio da Manhã, e quedaram-se com uma local.

Deram-nos apenas uma frequência local, quando éramos uma emissora que privilegiava a informação. Houve uma clara manipulação política do concurso, aos governos da altura não interessava uma rádio independente do ponto de vista informativo, preferiam outro tipo de projectos menos dedicados a fazer informação. Aqui ganhou o Correio da Manhã, no Norte ganhou a Lusomundo. Decidiram a solução que lhes dava mais tranquilidade e segurança.

Como tentaram ultrapassar essas limitações?

Nós não aceitámos essas limitações. Passamos a fazer as coisas de uma maneira diferente. Não aceitávamos o “Portugal sentado” da agenda dos outros órgãos de comunicação social. Queríamos dar voz às pessoas. Ter gente dentro das nossas notícias. A informação que havia era uma informação cheia de hierarquias e muito respeitinho: primeiro apareciam as notícias do Presidente da República, depois eram as do primeiro-ministro, e a cadeia alimentar seguia com ministros, secretários de Estado, deputados, presidentes de câmara até aos chefes de repartição. Nós introduzimos uma pequena revolução: abríamos jornais com o que fosse importante. Tanto podíamos abrir com uma greve como com desporto. Isto era para muita gente um crime de lesa–pátria.

Sentiam que estavam a ameaçar alguém ou eram pressionados?

Sentíamos pressões. Quando passámos a fazer emissões diárias e a nossa voz passou a ter importância, começámos a contar. Até porque depressa passámos a atingir um conjunto de classes informadas e decisivas: a classe média alta, os quadros técnicos, os estudantes do ensino superior. Nada daquilo que fazíamos era indiferente. Tudo causava perturbação. Uma vez soubemos que tinha chegado um barco com sete pessoas negras refugiadas. No porto de Lisboa as entidades oficiais recusavam-se a recebê-los e disseram ao comandante do barco: “faça o senhor o que quiser”. Estavam num contentor em condições infra-humanas. Resolvemos fazer a emissão 24 horas sobre 24 horas a partir de lá. Até que eles desistissem de se desresponsabilizar da situação dessas pessoas. Eles deixaram de ser tratados como animais para a passarem a ser tratados como seres humanos.

Uma das reportagens mais emblemáticas da TSF foi a cobertura da chamada manifestação dos “secos e molhados”, em que milhares de polícias que defendiam a formação do sindicato foram reprimidos com canhões de água…

Esse foi uma dos momentos marcantes, mas não foi o único: a cobertura do incêndio do Chiado foi porventura outro dos momentos simbólicos do nosso trabalho. O que se pretendia é que nós não emitíssemos em directo. A informação na altura era muito controlada, mas nós dinamitávamos isso, e pelo facto de estarmos em directo as coisas não podiam ser menorizadas, e também obrigava todos os outros operadores a seguirem-nos o exemplo. Isso aconteceu também com o aparecimento da SIC e com o buzinão na Ponte 25 de Abril. Caso a informação não governamental não existisse, a repercussão mediática de um enorme acontecimento seria provavelmente muito diferente. Estes directos dinamitavam qualquer controlo informativo. Marcávamos a agenda.

Como é que o Emídio Rangel aparece na SIC?

Fui convidado pelo Dr. Pinto Balsemão, e na altura fiz o convite aos meus camaradas da TSF, que me aconselharam a aceitar. Era um novo desafio, mas também poderia ajudar a rádio, porque se eu não estivesse à frente do novo canal a sangria de profissionais podia ser maior. Nós tínhamos o tom certo da informação que se pretendia e qualquer novo operador iria buscar muitos dos nossos jornalistas. Eu próprio fui buscar alguma gente da TSF para o desafio da SIC, mas não foi uma hemorragia, não foi 80% a 90%, com seria previsível.

Mas já havia um projecto da SIC quando chegou?

Não. O projecto da SIC na altura era muito pouca coisa. Era um conjunto de meia

dúzia de folhas dactilografadas com uma espécie de declaração de intenções. Não havia projecto de informação e o mesmo sucedia em relação à programação.

Mas não tinha muita experiência de televisão. Que me lembre tinha só participado num programa da RTP: “O Concordo ou talvez não”. Como foi essa passagem da rádio para a televisão?

Estudei muito a televisão, por gosto pessoal. Não tinha muito a experiência, mas tinha muitas ideias de como era a televisão e como se devia agir nesse meio. Não era uma pessoa sem experiência. Acresce que tinha a ideia firme do ritmo e daquilo que se tinha de fazer em termos jornalísticos. O convite inicial era para director de informação, mas com a saída da Maria Elisa do projecto assumi também a direcção de programas, em televisão faz sentido abarcar a totalidade das responsabilidades editoriais num meio. Uma televisão não se limita a dar entretenimento nem a informar. As coisas não são totalmente estanques, tem de haver uma lógica comum. Eu tinha uma grande experiência na TSF daquilo que devia ser a mudança da informação na televisão. No fundo a lógica era a mesma: acabar com o Portugal sentado, com a informação burocrática e hierarquizada pelo respeitinho cego. Tínhamos como dever chegar aos locais em que a notícia acontecia: quer fosse uma aldeia, quer fosse uma grande cimeira internacional. Dar visibilidade mediática às pessoas e ao povo. Aproximar a televisão, a sua informação e programação, das pessoas. Na altura só apareciam na televisão as pessoas poderosas. Era necessário democratizar a televisão.

Mas isso não foi contraditório? Em termos informativos tivemos uma TV mais plural e que dava voz àquilo que acontecia, mas em termos de programação houve o crescimento dos programas popularuchos e pimba.

Acho que não se perdeu qualidade. Ela não existe em termos teóricos, mas em termos práticos. Nós queríamos fazer uma televisão que chegasse ao maior número de pessoas, essa era a condição de sobrevivência da SIC. Para atingir a maior parte da população era necessário que não houvesse nenhum complexo elitista em relação ao entretenimento, dar às pessoas aquilo que elas no fundo pretendiam e em termos informativos que fosse uma estação muito criteriosa e rigorosa. Não víamos nenhuma contradição nisso.

Aquele documentário da Mariane Otero sobre a SIC corresponde a uma parte da verdade?

Acho que ela foi uma má jornalista, a oportunidade que tinha era para fazer uma super-reportagem. Tinha as portas abertas. Ela acabou por fazer uma reportagem de pormenores imbecis, como a história de um anunciante que era salsicheiro. Era isso que ela punha em relevo. A árvore tapava a floresta.

Mas uma das bases do sucesso da SIC também foi a razão da sua crise: o facto de terem telenovelas da Globo dificultou durante muito tempo a produção nacional que vai ser, com o “Big Brother”, a base da subida à liderança da TVI. Por outro lado, terem recusado o “Big Brother” levou a que fossem ultrapassados.

Aconteceu porque apareceram esses novos formatos. A SIC podia ter isso em exclusivo, mas eu considerei que aquele formato não era realizável no modelo da SIC. Nós devíamos ter comprado para pormos na gaveta e ganharmos algum tempo para poder arranjar alguma coisa que pudesse contrabalançar isso. Para mim, o “Big Brother” não era exibível na SIC porque afectaria a credibilidade do resto da estação. Mas os meus argumentos não foram ouvidos pelo Dr. Francisco Balsemão, isso implicava um milhão, mas os accionistas da SIC só viam os dividendos. E essa cegueira levou-nos a largar mão desse expediente e a perder a liderança, com custos acrescidos para os accionistas.

Se voltasse atrás teria posto no ar o “Big Brother”?

Não, teria feito exactamente a mesma coisa. Adivinhava-se o sucesso do “Big Brother”, mas aquilo era fazer caminho para trás. Quando a SIC começou foi tendo formatos populares, simples e baratos, mas depois foi sempre melhorando de qualidade e complexidade, e quando estava numa fase não se admitia voltar com tudo atrás em termos de relação com o espectador.

Depois foi para a RTP e desde então não trabalhou mais na comunicação social, para além daquela tentativa de criar um grupo de comunicação com o Rui Pedro Soares. O que falhou?

Não trabalhei mais directamente na comunicação social. Nesse projecto o que falhou foi esse senhor que não arranjou os apoios em termos de investimentos que tinha prometido. Falhou o financiamento dessa ideia.

Isso não estava ligado ao Sócrates e ao PS?

Eu diria que não. Estava ligada à ideia de que era necessário criar um novo grupo de comunicação que enriquecesse o pluralismo nos media em Portugal. Tal como anteriormente, tentei o projecto de uma nova televisão, o canal 5, que na altura foi chumbada por acção do Sócrates, decisão que nós pusemos em tribunal, por onde ainda se arrasta.

A comunicação social é pior do que era há 20 anos?

Não acho. Considerado em termos globais, acho que se conseguiu manter uma informação e um jornalismo televisivo actuante e isento. Onde eu acho que há uma regressão é nos jornais. Menos pluralismo. E há o domínio de uma imprensa sensacionalista que publica coisas sem respeitar o mínimo dos códigos deontológicos. Não olha a meios para atingir fins.

Como avalia estes 40 anos?

Os portugueses têm de estar felizes pelo 25 de Abril. Temos democracia. Podia ser melhor, mas não há caminho sem democracia. Mesmo para melhorarmos muito o que temos. Nos últimos anos há algumas coisas preocupantes, como a falta de respeito total pelas pessoas durante esta crise. Mas o seu combate exige sempre mais democracia e um melhor jornalismo.