Miguel “RAM” Caeiro. Entre as ondas e o graffiti


O Nome “RAM é um nome que tenho desde pequeno, uma alcunha. Percebi que como era rápido a pintar adoptei também este nome como assinatura, que significa “Rapid Air Movement”. O surf “Vem desde sempre. Comecei a andar de skate muito cedo, com 9, 10 anos, e já nessa altura, quando ia para a praia…


O Nome “RAM é um nome que tenho desde pequeno, uma alcunha. Percebi que como era rápido a pintar adoptei também este nome como assinatura, que significa “Rapid Air Movement”.

O surf “Vem desde sempre. Comecei a andar de skate muito cedo, com 9, 10 anos, e já nessa altura, quando ia para a praia com os meus pais, se estivesse um surfista dentro de água, parava tudo e ficava só a olhar. Depois cresci, as idas para a praia com amigos tornaram-se mais frequentes e de repente eles começaram todos a fazer bodyboard e eu surf. Durante muito tempo fui o único surfista de Sintra, apesar de haver muitos da praia Grande e da praia das Maçãs, mas eu era o único que vinha da vila.”

As artes “Começaram bem mais cedo que o surf e o skate. Desde sempre que me lembro de pintar e desenhar, mas não sei apontar uma época exacta. O caminho acabou por ser seguido nesse sentido. Tinha 20 anos quando estava a acabar o curso. Como não gosto do sistema do ensino de Artes em Portugal e na altura não tinha condições para ir para a Califórnia ou Inglaterra – porque dentro das Artes eram os melhores sítios para estudar – escolhi não ir para a faculdade. Terminei o 12º ano e optei por fazer um curso cá ao qual me dediquei como se estivesse na faculdade, em Design. Aliás, tinha muitos professores do ensino superior a leccionar. De repente, começas a estudar e percebes que é um universo complicado, é um universo cão, em que os teus amigos de escola se tornam teus inimigos porque concorrem em campanhas diferentes. É exaustivo. E quando fazemos do design alta competição ficamos sem vida. É das nove às cinco da manhã, sete dias por semana e aos poucos percebi que só via o sol passar à janela.”

Mudar de Vida “Na altura pintava muito com aerógrafo [uma caneta com ar comprimido] e gostava de trabalhar com este material, mas era uma seca estar a trocar as cores e foi este um dos motivos que me fez querer mudar. Nessa altura, a rua começou a chamar-me e é aqui que entram os graffitis. Já andava a observar, ia ali para Carcavelos, aquilo chamava-me e comecei a graffitar. Comprei umas latas do supermercado, muito más, e cheguei a juntar na parede o amarelo com o azul para ver se dava mesmo o verde. Cheguei a um ponto em que estava a dar aulas de comunicação, a fazer trabalhos em Évora e Faro e os tempos livres que tinha eram para pintar. De repente comecei também a ter trabalhos aos fins-de-semana e a pensar no dinheiro que arrecadava e no tempo que não sobrava. Assim que terminei as aulas desisti e comecei a viajar.”

Surf e pintura “Pinto muito a água. Sou  da natureza e pinto natureza, decididamente. Como sou de Sintra, quis atacar Lisboa, que é muito cinzenta, mas pensei: ‘Como vou fazer isto?’ Com a natureza que falta à cidade.”

Graffiti “É uma comunidade. Nós não temos muito isso, é uma coisa de que sinto falta. Existe apenas como forma de negócio. Vários artistas da outra ponta do mundo vêm para cá, ficam na minha casa, pintam, levo-os a sítios que acho que devem conhecer e depois disso seguem viagem. E o contrário também acontece. Em qualquer uma das minhas viagens acabo por me focar na capital daquele país e na pessoa que me vai receber, tento perceber isso na troca de emails. A verdade é que acabo por conhecer imensa gente e admirar o trabalho de alguns que nem têm nada a ver com aquilo que eu pinto. Quando chego lá abrem-me automaticamente as portas da sua cultura.”

Estilo “Vejo o graffiti como a música. Dentro da música temos vários estilos. No graffiti passa-se o mesmo, temos o expoente máximo da destruição ao lado mais belo, sendo que há muitos sectores. Eu enquadro-me no sector psicadélico, no sector da natureza e no espaço abandonado, trabalhando muitos estes três. O psicadélico e natureza são muito parecidos, mas o espaço abandonado é um lado que me magoa muito. Eu uso este espaço para mostrar a realidade que está perto de nós e gosto de pintar as fachadas porque capta a atenção. Às vezes as pessoas olham para aquilo como “porcaria”, mas se virem bem, a “porcaria” não é o que está pintado, mas o que está por trás. Eu chamo vândalos às famílias e entidades que mantêm prédios abandonados e chamo publicitários a quem pinta algo que está abandonado.”

Pranchas “Adoro pintar pranchas. Estou a pintar uma agora para o Nicolau von Rupp, mas também já pintei do António Silva, do Macedo e da geração do Tomás Valente. Pinto as pranchas deles porque eles fazem tudo aquilo que eu gostaría de e têm toda aquela coragem e forma de remarem para ondas que eu não tenho e para tubos que eu não faria. Isto faz com que aquele bocadinho seja meu e é lindo.” 

Desenhos “Deixam sempre ao meu critério. O António Silva é completamente benfiquista, então criei um estilo e uma linguagem que mete ali duas riscas do Benfica na prancha.”