O chefe do Governo espanhol disse hoje que o novo pacote de austeridade, orçado em 65 mil milhões de euros, inclui medidas "que não são agradáveis" mas que são "imprescindíveis" perante a "situação grave e urgente" de Espanha.
"Sei que as medidas anunciadas não são agradáveis mas são imprescindíveis. Estamos perante uma situação grave que há que resolver com urgência", disse Mariano Rajoy.
"Precisamos que nos emprestem dinheiro até para pagar os subsídios de desemprego e os salários dos funcionários públicos. Estamos a viver um momento crucial e essa é a realidade. Temos que sair deste lamaçal", sublinhou.
Mariano Rajoy justificou assim um pacote de medidas, do lado da receita e da despesa, que hoje anunciou no Congresso de Deputados e que terão um saldo positivo de 65 mil milhões de euros nas contas públicas.
"Não há tempo para fantasias. Ou reduzimos os gastos, ou aumentamos as receitas ou, se não houver mais remédio, as duas coisas", disse.
"Sou o primeiro a fazer o que não gosto. As circunstâncias mudaram e tenho que me adaptar a elas. Disse que baixaria os impostos e estou a subi-los. Mas não renuncio a baixá-los quando seja possível", afirmou.
Entre as medidas hoje anunciadas contam-se o aumento do IVA em três pontos (de 18 para 21 por cento), o corte do subsídio do natal para funcionários públicos e a redução, a partir do sexto mês, do subsídio de desemprego.
Medidas que incluem o aumento do imposto ambiental e do imposto sobre o tabaco, alterações na administração pública e outras iniciativas que representarão um saldo positivo de 65 mil milhões de euros, em dois anos e meio, nas contas públicas.
Pedindo apoio aos grupos parlamentares, às administrações públicas, aos empresários e à sociedade em geral, Mariano Rajoy disse que "ou se trabalha em união ou os esforços serão estéreis".
"Dói mas temos que fazê-lo porque graças a estos sacrifícios individuais poderemos conservar o que partilhamos", disse.
"A única pergunta que deve importar-nos é: servirá para algo? Respondo que sim. Não tenho nenhuma dúvida e não ocuparia este posto se a tivesse porque estou certo que depois do sacrifício nos espera a recompensa", acrescentou.
Mariano Rajoy referiu-se à situação económica do país e, em particular aos mais de 5,6 milhões de desempregados.
"Hoje, crescer e criar emprego não é possível. Estamos na 2ª recessão mais grave da nossa história. Nunca antes a economia tinha tido duas recessões tao seguidas e tão intensas. E todas as previsões apontam a que a recessão continuará no próximo ano", disse.
"Os dados económicos traduzem-se nos piores indicadores. No último ano o desemprego cresceu 3 por cento, superando 50 por cento nos jovens. O desemprego aumentou meio milhão e fecharam 32 mil empresas", disse.
Um cenário que, explicou, "tem muito que ver com a seca financeira" com "o crédito às famílias a cair 2,7 por cento e às empresas a cair 3,7 por cento".
"Os excessos do passado pagam-se no momento presente", afirmou, recordando que a dívida pública passou de 36 para 80 por cento do PIB nos últimos anos, ascendendo a 800 mil milhões de euros.
"Uma dívida que temos que refinanciar quando se vence. E nestes momentos esse refinanciamento é a um juro de pelo menos 6 por cento", disse.
Toda a economia espanhola, afirmou, está "fortemente endividada no exterior", ascendendo a 165 por cento do PIB em termos brutos ou 1,8 biliões de euros. Mesmo descontado o que Espanha investiu fora do país, a dívida ainda ascende a 977 milhões de euros, a "quase a totalidade" do PIB espanhol.