A aquisição do indiano Sunil Chhetri para a equipa B do Sporting voltou a gerar discussão sobre os reais propósitos da criação das equipas secundárias. A indignação popular tem a ver com o receio de que a valorização do jogador português não seja mais que uma desculpa para ter um espaço para testar mais e mais estrangeiros que continuam a ser a aposta dos três grandes. Mais que isso, com a estratégia comercial a entrar em acção, como no caso indiano, perde-se espaço para a tranquilidade necessária para trabalhar os mais jovens. Outra das queixas mais ouvidas prende-se com a utilização indevida dos jogadores menos utilizados, mais uma vez estrangeiros na sua maioria, nas equipas B.
A Liga Portuguesa de Futebol Profissional (LPFP) precaveu-se contra eventuais polémicas e adicionou seis páginas ao regulamento, referentes na totalidade à inscrição e à participação de equipas B na II Liga por clubes da I Liga. Nos 18 artigos surgem respostas a muitas das dúvidas que foram aparecendo nos últimos meses.
Será possível que por falta de resultados as equipas abandonem o projecto a meio? Não. Os seis clubes estão obrigados a participar durante três temporadas, excepto se descerem às competições não profissionais. Caso isso não aconteça, antes da época 2015/16 terão oportunidade para cancelar ou renovar o vínculo por mais três épocas.
O artigo 12.o é provavelmente aquele que mais dúvidas esclarece. Em cinco pontos, a LPFP ajuda a perceber os limites de idade e de estrangeiros por cada ficha técnica, que tem de ser composta na sua grande maioria por jogadores entre os 16 e os 23 anos. A esta regra abrem-se três excepções para jogadores mais velhos. E estrangeiros? Há uma obrigação de dez dos 18 jogadores presentes terem sido formados localmente. No entanto, isso não se traduz necessariamente numa valorização do jogador português, já que por formado localmente entende-se aquele jogador que tenha sido inscrito na Federação Portuguesa de Futebol pelo período correspondente a três épocas desportivas, entre os 15 e os 21 anos. Isto permite, por exemplo, que a partir da próxima época o guarda-redes Jan Oblak já conte como jogador formado localmente no Benfica.
E como é que os jogadores podem saltar entre as duas equipas? A regra-base passa pela obrigação de haver um período de 72 horas entre o fim de um jogo e o início do outro. A única excepção prende-se com a não utilização (constar na ficha técnica mas não chegar a jogar) durante o jogo.
Mais complicado parece ser o capítulo disciplinar. Quando um jogador for castigado noutras competições não pode voltar a jogar pela equipa B enquanto não cumprir o castigo. Por outro lado, a contagem dos cartões amarelos e as expulsões (por acumulação ou directas) em jogos das equipas B “poderá constar da ficha técnica do jogo seguinte do clube principal, sem prejuízo de a sanção disciplinar dever ser cumprida na jornada seguinte da competição em que se verificou a infracção”.
Televisão A presença das equipas B de FC Porto, Benfica e Sporting será também um forte atractivo para as transmissões televisivas. Com 42 jornadas entre 12 de Agosto e 19 de Maio, o número de jogos deverá aumentar, podendo abrir no entanto um problema de horário à quarta-feira. O calendário está mais apertado e serão várias as jornadas marcadas para dias das competições europeias. Por isso não está excluído que haja jogos a meio da tarde durante a semana.
Esforço financeiro O aumento do número de jogos foi uma das preocupações da LPFP, que assim decretou que os clubes que tivessem equipas B fossem obrigados a pagar 50 mil euros até 5 de Julho. A quantia total (300 mil) destina–se a compensar os restantes pelo acréscimo de despesas resultantes da realização de um maior número de jogos, “sendo os respectivos montantes repartidos entre eles, em partes iguais”. A iniciativa permite que cada equipa receba 18 750 euros, um valor considerado irrisório por muitas equipas, tendo em conta que são disputados mais 12 jogos, há mais seis deslocações e o plantel terá de ser necessariamente maior para precaver o desgaste do calendário.
Insucesso O futuro das equipas B permanece uma incógnita apesar desta aposta. A inclusão numa liga profissional, ao contrário do que aconteceu em 1999, poderá ser uma vantagem, mas não é certo que haja a competitividade necessária para disputar a II Liga. O exemplo da última vez ajuda a perceber os perigos de o projecto sofrer um revés significativo no próximo ano.
Na Zona Sul, o Sporting desceu em 2003/2004, na quarta época de existência, e decidiu acabar com a equipa. O Benfica desceu em 2002 mas manteve o projecto na Série E da terceira divisão, logrando a subida em 2005, num ano que ficou marcado pelo castigo a Sokota, que fez grande parte da época na equipa B como castigo por não renovar contrato e por já se antever o acordo com o FC Porto. No entanto, à imagem do Sporting, o projecto também acabou, em 2005/2006.
Na Zona Norte, FC Porto e Sp. Braga tiveram mais sucesso. Os dragões mantiveram-se até 2006 sempre na II B e nunca estiveram abaixo do sexto lugar. O Sp. Braga teve o mesmo percurso, embora nunca tenha conseguido melhor que o quinto lugar. Apesar das boas classificações dos dois clubes nortenhos, nenhum outro teve tanto sucesso como o Marítimo. A equipa madeirense nunca abandonou o projecto durante 13 épocas e conseguiu efectivamente formar vários jogadores, de Pepe a Baba, passando por Rúben Ferreira e Djalma, além de outros nomes menos conceituados que têm alimentado a equipa A.