O emprego em Portugal transformou-se numa Terra do Nunca em versão pesadelo de adultos: nunca como agora houve tantos desempregados; nunca como agora houve tantos a ganhar tão pouco; nunca como agora houve tão poucos a trabalhar a tempo inteiro. Vivemos a época dos recordes negativos no emprego, algo que os dados agora divulgados pela Segurança Social tornam evidente.
Segundo o Boletim Estatístico de Junho de 2012, do Gabinete de Estratégia e Planeamento (GEP) do mesmo ministério, no final de Outubro do ano passado 11,3% dos trabalhadores em Portugal ganhavam o ordenado mínimo (485 euros), o que equivale a perto de 550 mil pessoas – 11,3% dos 4,8 milhões de portugueses com emprego, contabilizados em Setembro desse ano. Este valor compara com os 10,9% registados em Abril de 2011, que equivalia a 530 mil trabalhadores a serem remunerados apenas pelo mínimo legal. Já em Outubro de 2008 havia 7,4% (385 mil) e no mesmo mês do ano anterior eram apenas 6% (353 mil). Viajando até ao início da série, há dez anos, nota-se que em Outubro de 2002 somente 4% dos trabalhadores recebiam o mínimo.
Se por um lado, em anos recentes, a subida do peso dos trabalhadores com o ordenado mínimo se deveu à subida dessa remuneração – passou de 375 euros em 2005 para os 485 euros em Janeiro de 2011 –, por outro lado durante o ano passado este valor não foi revisto, pelo que todo o crescimento registado nesse ano – pelo menos em mais 20 mil trabalhadores de Abril para Outubro – foi provocado sobretudo por esmagamento salarial. Mas a deterioração do emprego em Portugal não fica evidente apenas na evolução do salário mínimo.
Nem 4 milhões a full time O Boletim de Junho do GEP do Ministério da Segurança Social mostra que nunca como no final do primeiro trimestre deste ano houve tão poucos trabalhadores a tempo inteiro no país, isto independentemente da forma como se olha para os dados: no final de Março estavam registados menos de 4 milhões de trabalhadores a tempo inteiro – 3,993 milhões. Além de ser o valor absoluto mais baixo desde pelo menos Março de 2005, este valor marca igualmente o bater no fundo do full time em Portugal em termos de peso no total de trabalhadores: no final do primeiro trimestre deste ano só 85,7% dos empregados estavam a tempo inteiro, o que compara com o registo médio de 88% entre o início de 2005 e o último trimestre de 2011.
Neste campo, e ainda segundo os dados do GEP, é de salientar também que o ritmo de destruição do emprego a tempo inteiro tem sido mais acelerado que a destruição geral de empregos no país, o que aponta para alguma substituição de empregos a tempo inteiro por mais precariedade. Desde Março de 2005 até Março deste ano desapareceram 548 mil empregos a tempo inteiro no país, isto quando no mesmo período desapareceram 470 mil empregos totais.
Mulheres: Mais de 15% com SMN Outro recorde batido este ano pelo emprego em Portugal foi no total de mulheres a serem remuneradas ao nível mínimo legal: 15,3% das 2,2 milhões com emprego ganhavam o ordenado mínimo no final de Março, cerca de 345 mil. As mulheres representam assim 63% do total dos trabalhadores a ganhar o ordenado mínimo, valor que compara com o peso de cerca de 54% que as mulheres têm no total de trabalhadores com emprego em Portugal. Um ano antes, em Outubro de 2010, havia 14,4% de mulheres trabalhadores a receber o SMN. Já entre os homens com emprego são 8,3% aqueles que recebiam o ordenado mínimo em Outubro de 2011, perto de 205 mil. Um ano antes eram 7,5%.
Ainda segundo os dados agora divulgados pelo GEP do Ministério da Segurança Social, no final de Outubro o ganho médio mensal dos trabalhadores em Portugal era de 1142 euros, ligeiramente acima dos 1134 euros registados em Abril de 2011. Aqui, e também por causa do peso das mulheres no ordenado mínimo, estas saem igualmente em desvantagem: o ganho médio mensal dos homens foi de 1254 euros, valor que compara com os 989 euros das mulheres. No entanto, e face a Abril, o ganho médio das trabalhadoras subiu 1,6% e o dos homens permaneceu quase inalterado.