O ano de 1972 ficará para sempre assinalado a letras de outro na história do futebol português pela brilhante carreira subscrita pela nossa selecção no Torneio Independência do Brasil, alcunhado Minicopa.
A ideia inicial é fazer um mini-Mundial, mas há países, como a Inglaterra e a Itália, que recusam o convite por afazeres domésticos inadiáveis. Mesmo assim, há 20 países em competição (Brasil, Portugal, URSS, Uruguai, Escócia, Checoslováquia, Irão, Argentina, França, Chile, Paraguai, República da Irlanda, Colômbia, Peru, Bolívia, Equador, Venezuela, Jugoslávia, Selecção da CONCACAF e Selecção de África) e a prova estende-se de 11 de Junho a 9 de Julho, com 28 jogos à mistura.
EQUADOR, 3-0 Com José Augusto ao leme, a selecção começa a epopeia precisamente a 11 de Junho em Natal com o Equador, com o qual não registávamos qualquer contacto a nível de selecções. Toni é a figura, com as assistências para o 1-0 de Eusébio aos 37 minutos e o 3-0 de Nené aos 77’. Pelo meio, Peres cruza para o 2-0 de Dinis aos 53’.
IRÃO, 3-0 Passam-se três dias e tudo na mesma. Eusébio abre o marcador (13’), Dinis amplia a vantagem (31’), tal qual como no encontro anterior com o Equador. Só muda o local (de Natal para Recife) e o autor do terceiro golo: o central benfiquista Humberto Coelho. Por falar nisso, é imperioso referir a importância do Benfica nesta selecção, com oito titulares (“salvam-se” Laranjeira, Peres e Dinis).
CHILE, 4-1 Na estreia de Messias no lugar de Laranjeira, a caminho de Lisboa para o funeral do pai, a terceira vitória consecutiva. O Chile impõe mais respeito que Equador e Irão, mas também sai vergado ao peso dos três golos de diferença. José Henrique sofre o primeiro golo do torneio (2-1 de Caszely), mas a dinâmica do ataque continua imparável com Toni a dar jogo, e golos – que o digam Humberto Coelho (1-0) e Eusébio (4-1). Entre esses, um autogolo de Angulo (54’) e a inevitável contribuição de Dinis (65’). Nos últimos 23 minutos (sai Dinis, entra Nené), o Benfica acaba com dez jogadores em campo, com Peres a dar outra cor à selecção portuguesa.
IRLANDA, 2-1 Já com a nossa cotação a atingir apreciável nível, Portugal defronta a ultradefensiva República da Irlanda. O jogo resolve-se entre os 35 e os 38 minutos de jogo, com golos de Peres (o único não benfiquista em campo desde o início), Nené e Leech. É também o dia da única internacionalização de Félix Mourinho, pai de José.
ARGENTINA, 3-1 Passados os quatro primeiros obstáculos, segue-se a Argentina, que alimenta fundadas esperanças de um bom resultado e se encontra disposta a grandes cometimentos. E aí sim, a exibição portuguesa é a sério. Adolfo faz o 1-0, Brindisi empata dois minutos depois (38’) e Eusébio desequilibra a balança após passe de Adolfo e simulação de Jordão (45’). No início da segunda parte, Dinis, sempre ele!, fixa o resultado.
URUGUAI, 1-1 A dureza dos sul-americanos (Esparrago vê mesmo o cartão amarelo) acabaria por ditar leis, facto que leva a um certo retraimento dos portugueses, bem expresso no resultado. Pela primeira vez, não é alcançada a vitória, se bem que a igualdade nos permitisse continuar em prova. Lattuada abre a conta para os uruguaios e seria Jaime Graça, na “folga” de Eusébio e Dinis, a facturar para o merecido empate. Acaba- -se assim uma gloriosa carreira de sete vitórias seguidas (cinco das quais na Minicopa), a segunda melhor série de sempre da selecção nacional, mas Portugal qualifica-se para a meia-final da prova.
URSS, 1-0 Uma saltada do Rio de Janeiro a Belo Horizonte não arrefece em nada o entusiasmo e Portugal regressa aos triunfos. A vitória, escassa mas justa, é confirmada por Jordão num dia em que Eusébio tem de sair mais cedo o habitual, lesionado por um soviético mais maldoso. O piton cravado na perna direita do Pantera Negra abre o debate sobre o seu substituto para a final. Artur Jorge recusa o convite. “Eusébio vai recuperar, ele não é um homem como os outros.”
BRASIL, 0-1 Não será difícil calcular-se a loucura do dia 9 de Julho, no imenso e superlotado Maracanã, onde Portugal já havia ganho à Argentina e empatado com o Uruguai. Agora é o Brasil. O zero-zero arrisca a ser eterno mas tudo ficaria decidido no último minuto: cruzamento da esquerda, Humberto atrasa-se no salto, Messias nem salta e Jairzinho, oportuníssimo (alguns portugueses dizem que com a mão), faz o golo. O Brasil ganha com justiça e a imprensa transporta o jogo para a política: “Vitória da antiga colónia contra a Metrópole.”