Os contra-relógios no Tour de France sempre serviram para separar os possíveis vencedores dos outros. Este ano, tal afirmação ganha ainda mais relevância porque entre o prólogo e os dois contra-relógios há mais de 100 quilómetros para percorrer (101,4, se quisermos ser exactos), uma distância muito maior do que no ano passado (65,5 quilómetros, que até incluíam os 23 de um contra-relógio por equipas).
Cadel Evans, o vencedor do Tour-2011, e Bradley Wiggins ficaram em alerta. O último confronto entre os dois no contra-relógio foi há pouco mais de um mês, no Critério Dauphiné. Evans até venceu a primeira etapa mas viu-se completamente ultrapassado na especialidade. Ficou em oitavo, a 1m43 do vencedor Wiggins. Foi um duro golpe, que o australiano não negou: “Esperava fazer melhor, estou um pouco desapontado”, confessou. “Tenho melhorias a fazer antes do Tour de France.”
Com menos de um mês pela frente, Evans atira-se de cabeça à preparação da prova em França, mas Wiggins não ficou atrás. A competição arranca a 30 de Junho e os resultados favorecem o britânico. Ao fim de uma semana já é o camisola amarela, ultrapassando um resistente Fabian Cancellara. Mas o contra-relógio é imprevisível – o próprio John Lelangue, responsável pela BMC (a equipa de Cadel) alerta que “isto não é um jogo de ténis.” Ou seja, não se decide tudo a dois. Homens como o italiano Vicenzo Nibali podem causar surpresas.
Na véspera da etapa, ocorre um incidente que pode deitar tudo a perder para Bradley. Na conferência de imprensa, os jornalistas perguntam ao britânico o que pensa sobre aquilo que se tem dito sobre ele no Twitter. As declarações de vários anónimos são claras: Wiggins não tem hipótese de vencer o Tour, a não ser que esteja dopado. A reacção de Bradley não podia ser mais violenta: abandona a conferência, não sem antes deixar umas palavrinhas sobre o assunto, carregadas dos piores palavrões que aprendeu no recreio. A ideia é simples: “Eles deviam era fazer alguma coisa da vida em vez de falar sobre a dos outros.”
O episódio podia ter desconcentrado o ciclista, mas não. Wiggins venceu a nona etapa do Tour, cobrindo os 41,5 quilómetros em 51m24. Em segundo lugar ficou o seu colega de equipa, Christopher Froome. São boas notícias para os britânicos, que mantêm acesa a esperança de ver um Tour de France ser ganho por um homem da Grã-Bretanha, algo inédito nos 109 anos da prova. Quanto a Cadel Evans, terminou apenas em sexto lugar, muito atrás de Wiggins. O australiano cortou a linha outra vez a 1m43 minutos depois de Bradley e já está a 1m53 na geral. Froome é terceiro a 2m07, seguido de Nibali a 2m23.
Rui Costa foi 14.º a 2m22 e subiu ao 11.º da geral a 32 segundos do oitavo lugar. Sérgio Paulinho é 57.º a 28m25 do líder.