Apenas 11% das crianças portuguesas utilizam ferramentas online para denunciar abusos


Apenas 11 por cento das crianças portuguesas utilizaram ferramentas online para denunciar situações que as perturbaram na internet, um número abaixo da percentagem verificada na Europa (13%), revela um novo relatório do 'Projeto EU Kids Online'. O inquérito europeu sobre a proteção das crianças relativamente aos riscos da Internet alerta que "as ferramentas online de…


Apenas 11 por cento das crianças portuguesas utilizaram ferramentas online para denunciar situações que as perturbaram na internet, um número abaixo da percentagem verificada na Europa (13%), revela um novo relatório do 'Projeto EU Kids Online'.

O inquérito europeu sobre a proteção das crianças relativamente aos riscos da Internet alerta que "as ferramentas online de denúncia não estão a funcionar", argumentando que "só 13% das crianças europeias que ficaram perturbadas com algo na Internet as usaram".

Em Portugal esse número desce para 11%, reforçando a ideia de que as indústrias necessitam de melhorar os seus recursos, refere o relatório do projeto que em Portugal é liderado por Cristina Ponte, da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas (UNL).

Duas em cada três crianças e jovens que denunciaram problemas ficaram satisfeitos com a resposta.

Os que denunciaram situações relacionadas com imagens sexuais sentiram ter recebido uma ajuda um pouco maior do que os jovens e crianças que relataram riscos relacionados com condutas, como mensagens sexuais ou bullying online.

"Apesar de existirem instrumentos que permitem reportar situações desagradáveis na internet, "as crianças nem sempre estão conscientes desses instrumentos, nem sempre os sabem manejar e grande parte daquelas que as usam reporta não ter ficado completamente satisfeita com as respostas que receberam", disse à Lusa Cristina Ponte.

Esta questão vai ser discutida na quarta-feira, em Bruxelas, numa reunião promovida pela Comissão Europeia que envolve as empresas que têm programas e sites frequentados por crianças.

"O que nós queremos enfatizar é a necessidade das indústrias terem sistemas que permitam reportar abusos que sejam fáceis de serem utilizados pelas crianças de oito, nove e 10 anos", explicou Cristina Ponte.

Para a investigadora, as ferramentas têm de estar mais visíveis nos sítios onde as crianças navegam e ter uma mensagem fácil de ser apreendida.

Cabe também aos familiares, aos professores e à comunidade alertarem as crianças para o facto de poderem acontecer situações desagradáveis e estimulá-las a utilizar estas ferramentas para reclamar.

As empresas têm, por sua vez, de "garantir uma resposta que seja igualmente clara e facilitadora da aprendizagem das crianças sobre como lidar com este tipo de situações", adiantou.

A resposta tem de ser rápida e dada de uma forma que as crianças compreendam, disse a investigadora, acrescentando: "Há um trabalho pedagógico da parte das empresas que precisa de ser aperfeiçoado".

Segundo a investigadora, as situações "mais insistentemente" vividas pelas crianças como sendo "muito desagradáveis" são mensagens de assédio sexual de pessoas que elas não desejam e outras de caráter vexatório, com imagens que expõem a pessoa ao ridículo, enviadas por membros das suas redes de relações.

"Não basta existir o recurso, é preciso saber porque é pouco usado em situações de risco e porque é que quem o usa não fica satisfeito com a resposta recebida", adverte, considerando que esta questão deve merecer atenção da indústria e dos serviços que zelam pela segurança na rede em Portugal.

O projecto realizou questionários presenciais a 25 mil jovens (entre os nove e os 16 anos) utilizadores da internet e seus pais em 25 países.