Abdul El Assir. O amigo especial de Dias Loureiro preso na Suíça


Ter amigos poderosos é chave de grandes negócios. Percursos como o de Manuel Dias Loureiro são um bom exemplo. Quando em 2005 Dias Loureiro dizia ao “Público”, a propósito da amizade que desde 2001 mantém com Abdul El Assir, que o “círculo de amigos” do libanês “é gente respeitável”, falava de um leque de contactos…


Ter amigos poderosos é chave de grandes negócios. Percursos como o de Manuel Dias Loureiro são um bom exemplo. Quando em 2005 Dias Loureiro dizia ao “Público”, a propósito da amizade que desde 2001 mantém com Abdul El Assir, que o “círculo de amigos” do libanês “é gente respeitável”, falava de um leque de contactos nos mais altos círculos do poder em vários pontos do mundo.


Nascido em 1950 na capital libanesa, Abdul Rahman El Assir é filho do escritor Salah Eldin el Assir e da cantora Siham Riki. Estudou Ciências Económicas na American University de Beirute. A morte do pai deixa a família em dificuldades e a mãe pede ajuda ao ex-primeiro-ministro Saeb Salam, que coloca Abdul na embaixada do Líbano no Cairo, como adido cultural. É aqui que Abdul El Assir conhece aquela que vai permitir-lhe dar o primeiro grande salto de uma ascensão a partir dali fulminante: a saudita Samira Kashogui, irmã daquele que chegou a ser classificado como o homem mais rico do mundo, Adnan Kashogui. Em 1976 Abdul casa com Samira e passados dois anos está a trabalhar já como homem de confiança do cunhado. O milionário faz avançar o libanês rapidamente e em 1980 este ocupa funções de director-geral da Triad España e de vice-presidente da Alkantara, sociedade na qual Adnan Kashogui detém 50% com o Instituto Nacional de Industria (INI) e o Fomento do Comércio Exterior (Focoex). Penetrando na esfera de influências do cunhado, Abdul faz conhecimento com Borja Prado, filho de Manuel Prado y Colón de Carvajal, administrador privado do rei Juan Carlos durante mais de 20 anos, e com o empresário Enrique Sarasola. É assim que o libanês é apresentado ao rei espanhol e a Filipe González.


Rico e capaz de construir a sua própria rede de influências, Abdul deixa de necessitar do cunhado. E dá um segundo salto. Conhece na Triad a filha do embaixador de Espanha no Cairo, Carlos Fernández-Longoria y Pavia, e decide divorciar-se de Samira Kashogui para casar, em 1985, com María Fernández Longoria. Por esta altura é proprietário de uma moradia em Paris e de um apartamento em Madrid, onde recebe políticos, empresários e advogados da alta roda. É a partir da capital espanhola e da empresa Exel, que, ao lado do irmão, Rabih, passa a movimentar as suas operações, concentradas principalmente no comércio de armamento. Isto enquanto é convidado de figuras como Juan Carlos, Francis Franco, neto do Generalíssimo, Hassan II e Felipe González.
O nome do libanês aparece cada vez mais ligado a negócios que têm em comum armas, influências colocadas nos círculos de poder e verbas chorudas, em vários pontos do mundo. Segundo dados dos serviços secretos franceses, é portador de passaporte diplomático somali, para além de passaportes marroquino e libanês.


Em 1985 conhece o recém-eleito presidente peruano Alan Garcia, com o qual divide altas comissões como intermediário na compra de caças franceses Mirage 2000. A operação de revenda de 14 Mirage permitiu a Garcia, El Assir, a funcionários das empresas fabricantes e a funcionários franceses, egípcios e iraquianos deitar a mão a um bolo de 200 milhões de dólares.


Em 1987 foi intermediário na operação de venda a Marrocos de material militar espanhol por 320 milhões de dólares. O negócio envolveu comissões que rondaram os 32 milhões de dólares, 10% daquele valor. Em 1994, El Assir volta a surgir no quadro de venda de armas espanholas a Marrocos, com a operação “Marrocos 2”, transaccionada através do rei Hassan II, desta vez com comissões da ordem dos 12,5 mil milhões de pesetas. A detenção do libanês em Genebra no passado 30 de Maio aconteceu na sequência de outro grande negócio: o caso da venda de submarinos e fragatas francesas, em 1994, respectivamente ao Paquistão e à Arábia Saudita, contratos que se suspeita terem financiado a campanha presidencial de Edouard Balladur em 1995.
Os contactos de Abdul El Assir passam também pelo Leste da Europa. O irmão, Rabih, teve assento no conselho de administração polaco da companhia de telecomunicações Cellcom, ao lado de Robert Draba, um dos políticos próximos do falecido presidente polaco Lech Kaczynski. Draba apoiou em 1987 a proposta de compra dos estaleiros polacos de Gdynia e Szczecin a um investidor que representava o poder do Kuweit, negócio que tinha El Assir como mediador. Esta proposta foi recusada quando se tornaram públicas as ligações do libanês ao tráfico de armas. Enquanto ministro da casa civil do presidente polaco, em 2007, Robert Draba fez-se acompanhar à capital da Geórgia por El Assir e pelo então presidente da Bumar, consórcio estatal polaco produtor e exportador de armas, Artur Trzeciakowski, para ali negociar a venda de armas polacas à Geórgia. Quando esta notícia foi conhecida, os homens da Bumar admitiram que o libanês foi durante 30 anos conselheiro e mediador nos negócios da indústria polaca de armamento, por ter excelentes contactos no Próximo Oriente e em África.