A corrida entre um Copé do partido e o Fillon de Sarkozy na direita francesa


O “Le Figaro”, que nestas coisas da direita francesa costuma saber mais que qualquer outro, afirma que a guerra pela liderança na União por um Movimento Popular (UMP) está intensa, e cita até um deputado conservador, o antigo ministro Xavier Bertrand, que fala na “necessidade de capacetes azuis” para interpor na luta fratricida entre os…


O “Le Figaro”, que nestas coisas da direita francesa costuma saber mais que qualquer outro, afirma que a guerra pela liderança na União por um Movimento Popular (UMP) está intensa, e cita até um deputado conservador, o antigo ministro Xavier Bertrand, que fala na “necessidade de capacetes azuis” para interpor na luta fratricida entre os apoiantes de François Fillon e de Jean-François Copé.

Fillon, antigo conselheiro político de Nicolas Sarkozy na campanha de 2007 e seu primeiro-ministro em todo o mandato, lançou-se ontem em campanha à conquista dos militantes do partido. Isto no mesmo dia em que 15 membros eleitos da UMP no Sudeste de França deram o seu apoio público à candidatura de Copé, antigo líder da bancada parlamentar da UMP e actual secretário-geral do partido, que deverá anunciar oficialmente o seu desejo do lugar de presidente do partido no final de Agosto.

Faltam mais de quatro meses para o congresso que elegerá o novo líder, marcado para 18 a 25 de Novembro, e Fillon e Copé ameaçam estar demasiado ocupados a digladiar-se com argumentos para fazerem real oposição ao governo de François Hollande. Entretanto, algumas figuras, como Bertrand, ex-secretário-geral da UMP, sonham com a possibilidade de um terceiro elemento que possa evitar fracturas no partido, já de si fragilizado pela derrota de Sarkozy nas presidenciais e a perda da maioria na Assembleia Nacional.

Só que essa figura dita de consenso (esse “capacete azul”), Alain Juppé, o ex–ministro dos Negócios Estrangeiros e antigo líder do RPR (Reagrupamento para a República, que se fundiu em 2002 com parte da União para a Democracia Francesa, de centro-direita, para formar a UMP) preferiu afastar-se dos holofotes e recolher à sua Câmara de Bordéus, onde é presidente desde 2006, em vez de avançar para a sucessão a Sarkozy e ter de liderar a oposição durante os próximos cinco anos.

Antoine Guiral, no “Libération”, fala em estratégia típica de Juppé, aquele que “sofre, se exila, se cala… mas volta sempre”. Explicando aquilo que o antigo primeiro-ministro pretende realmente quando promete que não se vai candidatar à presidência: “Ele quer ser candidato único, isto é, quer que os outros dois renunciem a enfrentá-lo no congresso de Novembro, porque “a ideia de que Jean-François Copé ou François Fillon possam – depois de Sarkozy – roubar-lhe o lugar é insuportável para ele”. Juppé, segundo Guiral, só avança com vagas de fundo.

Porém, nem Fillon nem Copé parecem para aí virados e as suas estratégias de campanha são as habituais neste género de combates. Segundo o “Le Monde”, Fillon quer diferenciar-se como “candidato dos franceses” contra o “candidato do aparelho” que é Copé. E fazer em poucos meses o trabalho que o seu adversário vem fazendo habitualmente: criar uma rede de apoiantes nas secções locais da UMP. Desde ontem que está na estrada à conquista das denominadas federações e assim irá continuar até ao final deste mês. A seguir irá para banhos e regressa em meados de Agosto à estrada, já com a energia recarregada solarmente.

Além da divisão simplista entre “homem dos franceses” (puro) e “homem do aparelho” (maquiavélico) que Fillon quer transmitir, muitas outras coisas separam os dois adversários – nomeadamente Fillon ser um próximo de Sarkozy e Copé ter-se mantido sempre fiel a Jacques Chirac, o ex-presidente francês e o mais importante político conservador em França depois do general De Gaulle, e que Sarkozy teve de “matar” para poder alcançar a sua ambição de ser presidente.