Há cerimónias de apresentação que são demasiado fáceis. Miguel Garcia será sempre o herói de Alkmaar como os Los del Río ficarão para sempre associados à Macarena. Não é por mal mas a marca distintiva é demasiado óbvia para passar sem se notar. O oposto tem um nome: Roger Federer.
O tenista suíço soma recordes atrás de recordes e começa a tornar-se impossível caracterizá-lo por apenas um. Dizer que é o melhor de todos os tempos? Que é o homem dos recordes? Que é o rei do ténis? São três alternativas viáveis mas correm o risco de se tornarem demasiado vagas para exemplificar as marcas que pertencem ao helvético de 30 anos, nascido a 8 de Agosto de 1981 em Basileia.
Com a vitória sobre Novak Djokovic nas meias-finais de Wimbledon, Federer garantia desde logo que nenhum outro tenista tinha estado em mais finais do torneio londrino (oito) do que ele – Arthur Gore e William Renshaw somaram o mesmo número mas numa fase anterior à era Open. Depois, a outra glória. Com sete vitórias em sete finais, Pete Sampras sabia que a sua marca estava prestes a ser batida: “Roger é um grande jogador e um grande campeão. Sempre achei que ele era o tipo de jogador que eu ia ver a quebrar as minhas marcas.”
O norte-americano tinha razão. Com o triunfo em Wimbledon – 4-6, 7-5, 6-3 e 6-4 sobre Andy Murray –, Roger Federer não só igualava Pete Sampras no número de triunfos no torneio de Londres como garantia pelo menos duas semanas no topo do ranking ATP. Ora, se a próxima, que começa hoje, será a 286.ª, a seguinte será a 287.ª, isolando-se assim na tabela de tenistas que mais tempo tiveram no topo. Quer tentar adivinhar quem é que esteve 286 semanas? Exactamente, Pete Sampras, aquele que já estava à espera que isto ia acontecer.
A tendência para deixar Sampras para trás começou há mais tempo. Curiosamente, Wimbledon está sempre na linha da história que Federer está a traçar. Foi lá, em 2003, que o suíço conquistou o primeiro Grand Slam da carreira. Foi também lá que em 2009 conquistou o 15.º, precisamente aquele que lhe permitiu superar de vez o número de Grand Slams conquistados por Pete Sampras (quem mais?). “É um momento mágico na minha carreira”, explicou no final.
Se Federer tivesse perdido, também haveria espaço para a história. Não pela derrota do suíço (já perdeu uma vez para Del Potro e seis para Nadal em finais de Grand Slam), mas pela possibilidade de Andy Murray se tornar no primeiro britânico a vencer Wimbledon desde Fred Perry em 1936. Murray tentou mas a partir de hoje voltará a ser visto apenas como mais um escocês, que chorou no momento da derrota. “Perder não se torna mais fácil com o tempo”, afirmou Murray, que continua à procura da primeria vitória num Grand Slam. Para já, conta apenas quatro derrotas em finais.