Exercício de memória: quem é o único capitão de Portugal que vira seleccionador? Humberto Coelho. Entre 1998 e 2000, Portugal espanta as críticas de futebol sem balizas e recolhe elogios de todo o mundo pela beleza do toque de bola com o golo nos pés de Nuno Gomes. É a maravilha do Euro-2000.
Na fase de grupos, Portugal troca as voltas à Inglaterra (3-2), ganha à Roménia (1-0) e elimina a Alemanha (3-0). Nos quartos-de-final, 2-0 à Turquia. Nas meias, a mão de Abel Xavier atraiçoa-nos no prolongamento. Zidane não falha o penálti, Humberto Coelho sai de cena. A França avança e ganha a final à Itália. Quem levanta a taça é o capitão Didier Deschamps, que já o fizera no Mundial–98 e até na Liga dos Campeões-93 pelo Marselha.
Oui, o Marselha é um dos clubes da vida de Deschamps. O outro é a Juventus e ainda há a selecção francesa. A Didi só lhe falta treinar um dos três. Na Juventus, é campeão italiano da 2ª divisão, depois de ter sido campeão de tudo e mais alguma coisa como jogador (europeu e italiano ao lado de Paulo Sousa). No Marselha, é campeão francês em 2010 e tricampeão da Taça da Liga francesa ao ritmo do benfiquista Jorge Jesus (2010, 2011 e 2012).
Rescinde com o Marselha por vontade própria com dois anos de contrato por cumprir e é convidado pelo presidente da Federação Francesa de Futebol (FFF) Nöel Le Graet para suceder ao amigo Laurent Blanc na selecção. Pede uma semana para pensar mas a resposta sai dois dias mais cedo que o previsto: Deschamps é o novo seleccionador.
Com 103 internacionalizações e quatro golos à mistura, o último deles a Vítor Baía (Portugal) num particular no 1º Maio de Braga em Janeiro de 1997, Didi é o capitão-recorde (56 vezes), à frente de Platini e Desailly.
Ei-lo agora à frente da selecção. Antes da qualificação para o Mundial-2014, num grupo com Espanha, Finlândia, Geórgia e Bielorrússia, há um problema de balneário por resolver. Homem de carácter duro e implacável, Deschamps ocupar-se-á do affair Nasri, Ben Arfa, Ménez e M’Vila, todos acusados de mau comportamento pela FFF durante o Euro–2012.
Samir Nasri, o mais individualista de todos os jogadores do Euro (franceses e não só) com uma média de três toques na bola antes de a libertar para um companheiro, insulta um jornalista após a derrota por 2-0 com a Espanha, nos quartos-de-final.
Jérémy Ménez vai mais longe e insulta o capitão e guarda-redes Hugo Lloris. Continuando no efeito escada, Hatem Ben Arfa discute com o seleccionador Laurent Blanc no balneário, enquanto Yann M’Vila se recusa a cumprimentar o treinador aquando da substituição de Olivier Giroud no jogo com a Espanha.
Os quatro bad boys têm congelado o prémio de 100 mil euros do Euro-2012 e está na mão de Deschamps a continuação (ou não) na selecção. A convocatória para o particular de 15 de Agosto com o campeão sul-americano Uruguai terá muito a ver com a nova linha de Didi, cujo contrato se esticará automaticamente até ao Europeu francês em 2016, se o Mundial-2014 for uma realidade.
Com Deschamps no cargo, o nome do argentino Carlos Bianchi cai por terra. “É pena, tinha esperança de jogar com a Espanha na qualificação para o Mundial-2014. Além do mais, sou francês”, numa alusão ao passado como avançado de Reims e Paris SG nos anos 70.