As contas saíram furadas ao primeiro- -ministro espanhol, Mariano Rajoy. Aquilo que deveria ser rápido, o empréstimo de Bruxelas à banca do país, arrisca-se a deslizar nos processos burocráticos de Bruxelas, já tendo o ministro das Finanças alemão admitido que a ajuda poderá só chegar em 2013.
Facto inédito nos últimos anos. Paris pôs-se pela primeira vez ao lado de Madrid, mostrando que com o novo presidente francês, François Hollande, acabou-se a união sacrossanta franco-alemã nas questões que dizem respeito ao euro, protagonizada por Angela Merckel e o ex-chefe de Estado francês, Nicolas Sarcozy. O ministro das Finanças francês, Pierre Moscovici, alinhou com a tese de Rajoy e reclamou que a ajuda directa à banca aconteça ainda este ano.
O governante defendeu também que o mandato do luxemburguês Jean-Claude Juncker na presidência do Eurogrupo deverá ser “prolongado por algum tempo” para permitir “preparar uma solução” mais “duradoura” no que diz respeito aos futuros mecanismos de apoio à moeda única, nomeadamente o que irá ser criado para financiar as instituições financeiras em dificuldade e que ficará deste modo separado da ajuda aos Estados.
Segundo o semanário alemão “Der Spiegel”, a França e a Alemanha terão assinado um acordo para partilharem a presidência das reuniões dos ministros das Finanças da zona euro, sendo a primeira metade exercida pelo alemão Wolfgang Shäuble e a segunda pelo francês Pierre Moscovici. Mas, mesmo assim, Paris vai tentar que Jean-Claude Juncker continue a assegurar o cargo mais uns meses apesar de o próprio ter anunciado que pretende retirar-se quando acabar de cumprir o mandato, no final do mês.
A presidência do Eurogrupo, um dos cargos mais importantes da política europeia, está a ser disputada por Berlim e Paris. O matutino francês “Le Fígaro” noticiou ainda que o futuro chefe do Eurogrupo deverá adquirir mais poderes, e que a chanceler alemã, Angela Merkel, e o presidente francês, François Hollande, chegaram a acordo para reforçar o cargo a partir do próximo ano.
Nesse sentido, o futuro presidente do Eurogrupo deverá ser equiparado ao presidente do Banco Central Europeu (BCE), Mario Draghi, e à directora-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI) Christine Lagarde, passando a ter lugar nas reuniões do G-8 e do G-20, por exemplo. No Eurogrupo de hoje será também decidido um pacote de nomeações, incluindo a do sucessor do primeiro-ministro luxemburguês.
Berlim Numa entrevista concedida ontem ao diário “El País”, Wolfgang Schäuble defendeu que a ajuda directa à banca espanhola não poderá acontecer em 2012, porque antes será necessário criar um supervisor bancário comum, organismo que não entrará em funcionamento este ano.
O ministro das Finanças alemão assegurou também que os que pensam que as ajudas à banca supõem uma “carga adicional” equivocam-se, explicando que Espanha, como Estado, não necessita de crédito e que quem precisa são as entidades financeiras devido à crise da bolha imobiliária.
Na sua opinião, o país vai superar o período recessivo e quando a recapitalização estiver completa e as reformas continuarem a dar frutos, irão “reduzir–se as tensões nos mercados”. O ministro alemão qualificou ainda de especulações “fantasiosas e irresponsáveis” as informações que apontam para que Espanha venha a recorrer ao fundo de resgate e assegurou que a situação do país não é “em absoluto” parecida com a da Grécia.
Questionado pelo jornal se esta ajuda à banca será discutida na reunião de hoje do Eurogrupo, Schäuble explicou que primeiro será necessário colocar em funcionamento um supervisor bancário comum eficiente, com a participação do BCE, e depois, sim, discutir como é possível o acesso directo dos bancos ao Fundo Europeu de Estabilidade Financeira.
Por isso mesmo considera “pouco realista” que o organismo de supervisão possa entrar em funcionamento este ano e lembra que no caso de Espanha será o Fundo de Reestruturação Ordenada Bancária (FROB), que fez o pedido de ajuda em nome do executivo espanhol.
Schäuble explicou por fim que o dinheiro sairá do fundo provisório FEEF (Fundo Europeu de Estabilidade Financeira), porque o permanente ESM (Mecanismo de Estabilidade Financeira) ainda não está pronto. Depois, o ESM assumirá esse crédito, mas manterá o estatuto de credor não privilegiado.