O colunista do Financial Times Martin Wolf afirmou hoje que os esforços que estão a ser feitos em Espanha e em Itália para combater a crise da dívida soberana não serão suficientes, pelo que a ajuda internacional será necessária.
"Tudo o que Espanha e Itália façam por si só não vai resultar. Estão num ciclo vicioso e vão precisar de ajuda internacional", defendeu o especialista britânico, na conferência "Zona Euro. Que futuro?", organizada pelo Jornal de Negócios e pelo BES, em Lisboa.
O responsável opinou que "Espanha está muito pior do que a Itália", em termos de desequilíbrio do défice público, pelo que reforçou que "é muito provável que Espanha necessite de apoio internacional muito em breve", isto, já depois de ter recebido ajuda de até 100 mil milhões de euros para o resgate do seu setor bancário.
"Ou as taxas de juro da dívida descem ou vai ser impossível evitar essa ajuda", considerou, acrescentando que a Espanha poderá ser forçada a recorrer a um "empréstimo direto" do Mecanismo Europeu de Estabilidade, ou então à 'troika' (Comissão Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional).
"Em Itália o défice [das contas públicas] é muito menor [do que em Espanha], mas as taxas de juro da dívida soberana também estão perigosamente altas", salientou o colunista.
Por isso, concluiu, que Espanha e Itália até "podem não precisar de ajuda formal, mas precisam de ajuda para controlar as taxas de juro" associadas às suas dívidas.
"Itália e Espanha estão em terreno movediço", reforçou, sublinhando que a crise na Europa é "muito séria" e que poderá levar a um 'crunch point' [crise aguda], com consequências imprevisíveis como a fuga dos depósitos e o colapso do sistema bancário de alguns países.
Questionado sobre o papel da Alemanha na crise, Wolf disse que o país liderado por Angela Merkel se está a comportar "como seria de esperar" e que "não é fácil criticar a sua postura".
Agora, na sua opinião, "se a Alemanha não quiser que o sistema [que tem por base a moeda única europeia] falhe, tem que apoiar os países mais fracos".
E terá também que haver um reforço dos mecanismos de suporte da União Europeia (UE), segundo Wolf, que apontou para a criação de um fundo de estabilização coletivo que garanta os depósitos na Zona Euro.
"Uma União Monetária requer uma autoridade bancária de escala europeia", defendeu o colunista do Financial Times.
Como britânico e especialista nesta matéria, Wolf afirmou que "enquanto o Reino Unido estiver fora do euro, vai estar fora do movimento defensor do aprofundamento da união política" e que "a crise na Zona Euro vai alterar as relações do Reino Unido com a União Europeia".
Apesar do cenário cinzento que perspetiva para a região, consubstanciado pela afirmação de que "o 'stress' no sistema vai continuar durante muito tempo", o responsável disse que as possibilidades de o euro sobreviver são de 75 por cento, já que caso a moeda única europeia falhe, "os custos são muito altos".
E reforçou: "O compromisso político [para com o euro] é tão profundo, que qualquer que sejam as dificuldades, os países tudo farão para o salvar. Estou otimista que o euro vai sobreviver".