Uma equipa regional de judo que cria os seus próprios porcos. Uma selecção nacional da maratona que produz as suas próprias galinhas. Um atleta que pratica corridas de obstáculos e não come carne de porco há anos, por precaução. E uma equipa de voleibol feminino que perde todos os jogos por não comer carne há três semanas. Confuso? Pois, é razão para isso.
A explicação está toda na carne chinesa, que, nas vésperas dos Jogos Olímpicos, tem dado que falar. A polémica começou em Novembro do ano passado, quando a Agência Mundial Anti-Doping lançou um aviso: cuidado a todos os atletas que viajem para a China ou para o México – não comam carne lá. Isto depois de terem sido detectados vários casos de doping em atletas, contaminados com clembuterol, a mesma substância que valeu ao ciclista Alberto Contador a suspensão. Muitos criadores chineses introduzem a substância nas rações dos seus animais para conseguir um crescimento mais rápido dos mesmos. A substância não tem sido utilizada em níveis suficientemente altos para pôr em causa a saúde pública, mas bastam 0,003 nanogramas no sangue para um atleta ter problemas.
Para resolver a situação, a administração chinesa enviou uma directiva que proíbe os seus atletas de comerem qualquer tipo de carne fora das instalações desportivas. O governo especificou mais tarde que a proibição afinal era apenas um alerta, mas os treinadores e preparadores resolveram não arriscar. “A comida é totalmente segura aqui na base”, explicou o seleccionador nacional de ginástica. “Mas ninguém sabe se é segura noutros sítios, por isso não os deixamos comer fora.” A selecção de tiro optou por autorizar as refeições fora em alguns casos, mas deixando de fora a carne e registando todos os pedidos. Mais radical têm sido os preparadores do voleibol e da natação. Os primeiros optaram por uma dieta exclusivamente vegetariana. Depois de a equipa feminina perder vários jogos por falta de rendimento, o treinador avançou a falta de proteína como explicação para os resultados. Já um responsável pelos desportos aquáticos garantiu que os atletas não comem carne de porco há 40 dias e que a substituem com peixe e proteína em pó.
O problema não se fica por aqui, com as bases desportivas a terem dificuldade em arranjar bons fornecedores de carne. “Nenhuma empresa se atreve a assinar um contrato prometendo que a sua carne não contém clembuterol”, explicou Yang Hongbo, responsável pelo catering do centro de treinos de Jiangsu. Algumas equipas têm as suas próprias criações, o que resolve o problema, mas outras enfrentam dificuldades. Para ajudar, Liu Qingya, criador de porcos, já ofereceu três toneladas de suínos ao centro de Jiangsu. Limpos de clembuterol, assegura.