Alabama Shakes. O triunfo da classe operária do rock


Os Alabama Shakes são do rock. Assolados pelo purismo de tudo o que precede o meio da década de 70, é difícil falar neles sem entrar no esquema sempre traiçoeiro das comparações “se gosta disto, ouça aquilo”. Um grupo de gente simpática, da América real, se quisermos. Que emprestaram discos de Rolling Stones, AC/DC e…


Os Alabama Shakes são do rock. Assolados pelo purismo de tudo o que precede o meio da década de 70, é difícil falar neles sem entrar no esquema sempre traiçoeiro das comparações “se gosta disto, ouça aquilo”. Um grupo de gente simpática, da América real, se quisermos. Que emprestaram discos de Rolling Stones, AC/DC e de Otis Redding uns aos outros no liceu. Vendo bem, dificilmente podia ser de outra forma, isto é algo que tinha de começar com a inquietude do final de uma aula de psicologia chata.

É o guitarrista, Heath Fogg, que nos diz isso mesmo em conversa telefónica, com um sotaque bem sulista. “Somos todos de Athens, no Alabama, e andávamos todos na mesma escola. Então o resto da banda já tinha uma demo gravada e pediu-me ajuda com as guitarras. Foi um início muito tradicional de gente que gostava do mesmo tipo de música.”

A boa e velha história da banda que sobe a pulso. O reconhecimento começa a aparecer graças a alguns vídeos que surgem na internet (não podia ser tudo purismo), mas principalmente graças ao disco de estreia, “Boys & Girls”, saído este ano e marcado pela vontade óbvia de manter a atmosfera o mais analógica possível. “O disco demorou algum tempo a gravar, porque estávamos todos a trabalhar durante o dia, para poupar dinheiro para tempo de estúdio. Mas, ainda assim, estávamos à procura de um tipo de som particular para o disco – analógico e crú – e onde gravámos [em Nashville, cidade dada a estas coisas] conseguimos encontrar o equipamento para poder fazer as coisas dessa forma.”

São fãs, acima de tudo. Apesar de todo o som que leva à conversa da influência ser uma coisa mais natural do que se podia esperar. “Cada um de nós traz uma coisa diferente para cima da mesa. No meu caso, há muita coisa que me influencia além do que gostamos em comum. Coisas mais garage-rock antigas, Dylan e por aí fora.” E não preocupa, este jogo da comparação desmesurada. “Cansa um bocadinho, mas eu próprio faço isso cada vez que ouço uma banda nova. Tem menos peso do que as pessoas possam pensar, mas também não vou julgar ninguém por isso.”

Muita da culpa neste cartório vem da voz de Brittany Howard, vocalista e guitarrista da banda, com uma voz poderosa que pede o paralelismo com Janis Joplin. Uma espécie de dínamo da soul que catalisa o som da banda. “A voz dela é incrível. É aquela cereja no topo do bolo em qualquer tipo de música. Podemos escrever uma canção bem indie-rock, mas quando ela canta o som chega quase automaticamente a um lugar novo. Talvez um bocado revivalista, mas especial, ainda assim. Não tentamos ser retro só porque é fixe.”

dos bares para os festivais “Não há muitos sítios onde tocar no Alabama, então começámos a tocar covers em bares de desporto e restaurantes e sítios desse género, mas tocávamos demasiado alto então estava-se tudo nas tintas para nós. Por isso passar disso para festivais na Europa é uma sensação do caraças.” Se isto não é um bom mote para os ver no Super Bock Super Rock, não sabemos o que será. É gente que vê os cartazes e quer saber com quem vai tocar este Verão. “Vamos tocar com o Jack White nos Estados Unidos algumas vezes e, mesmo que não tivéssemos nada a ver com isso, ia lá estar a ver o concerto dele na mesma. Quem vai tocar aí?” Ditos alguns dos nomes que vão estar no Meco, o entusiasmo não acaba. “Da nossa parte podem esperar um bom concerto de rock’n’roll. Suado e cheio de energia. Um church revival, ou assim”. Recomenda-se, portanto. Especialmente para os que dizem que têm saudades de quando a música era feita por instrumentos “a sério”.

Os Alabama Shakes vão tocar no primeiro dia do Super Bock Super Rock. Bilhetes diários a 45€ e passe de três dias a 80€