Há quem coleccione moedas antigas, selos de todas as cores e feitios, clássicos de automóvel. E depois há quem se encante por móveis antigos e dê por si a coleccioná-los. Rui Penedo, designer, deu os primeiros passos. O primo Vítor Paulino, também designer, seguiu os ensinamentos e o irmão e arquitecto Ricardo Paulino não se deixou ficar atrás. A febre familiar foi crescendo ao longo do tempo e decidiram começar a partilhar esta colecção, aos poucos. Para isso tiveram de abrir uma loja: a YOYO.
“Estávamos a mudar de atelier e pensámos porque não? Temos montes e montes de coisas que não faz sentido continuarmos a guardar”. Vítor Paulino fala–nos da loja que abriu no início de Junho e do seu duplo conceito. À entrada há cadeiras, cadeirões, espreguiçadeiras, mesas e aparadores que nos arrancam do presente para nos levar a recantos antigos da memória. Mas basta espreitar à esquerda, no fundo da sala, para encontrar um ambiente diferente onde nas mesas se alinham grandes ecrãs de computadores Mac. Este é o atelier de design gráfico de Rui Penedo e Vítor Paulino, a RPVP Designers. Aqui fazem-se trabalhos de “design gráfico puro”, capas de livros incluídas.
O mesmo espaço para vários propósitos, é essa a ideia: “Não é uma coisa fechada, não é uma loja, não é um atelier de design. É um espaço aberto que pretendemos dinamizar de outras formas convidando artistas ou criando eventos que estamos a preparar”, avança Ricardo.
Mas para quem desce a Rua Arco de São Mamede, em Lisboa, o que salta mesmo à vista são os móveis – e, no final, é essa a ideia. Olaio, Movelia, metalúrgica da Longra, Gastão Machado ou Sena da Silva são alguns dos nomes sonantes por aqui. São todos de fabricantes ou autores portugueses que tiveram grande sucesso entre os anos 50 e 70 mas que entretanto perderam visibilidade e fecharam portas. Na YOYO o momento áureo do mobiliário português é revivido, como explica Ricardo: “Os modelos são trazidos da Escandinávia mas o desenho é português. A madeira era de muito boa qualidade porque vinha das nossas colónias. Tínhamos tudo o que era necessário, bons marceneiros, boas fábricas de carpintaria, bons designers e matéria-prima de excelência”.
Passar num café prestes a fechar, apreciar as cadeiras, falar com os donos. É tão simples quanto isto, outras vezes pode tornar-se mais complicado. Rui, Ricardo e Vítor visitam casas, às vezes vão a leilões ou até vão ao encontro de pessoas que dizem ter móveis antigos. Às vezes a descrição não corresponde à verdade, outras o material está desgastado – recordam o caso de umas cadeiras completamente roídas pelos cães da casa. O trabalho de restauro é feito por uma empresa aliada à YOYO que se compromete com o “restauro mais ético possível, a manter as cores e os acabamentos”, explica Ricardo. No fim, para levar uma cadeira para casa, terá de investir entre 80 e 200€. Já os aparadores estão entre os 400 e os 2000€ e as mesas entre os 900 e 2 mil.
Ainda hoje é difícil para estes primos decidirem aquilo que querem pôr com etiqueta do seu espólio. Um serviço de chá da Vista Alegre dos anos 20 assim como um gira discos antigo estão apenas em exposição. Coisas do desprendimento que têm de se ir enfrentando aos poucos.
Já o nome YOYO é facilmente justificado por Ricardo: “Um objecto de culto do nosso imaginário que remete para o vai e vem. Um pouco como os objectos que aqui temos. Existiram há 50 anos e estão a ser arranjados para voltar a casa das pessoas.
Rua Arco de São Mamede 87 A, Lisboa