Quem gosta e percebe um pouco de fotografia sabe como funciona a regra dos (três) terços. A lógica é esta: divide-se a imagem em três partes iguais, na horizontal e na vertical, para encontrar quatro vértices, no centro, onde devem estar os principais motivos da foto. Os mais experientes já têm a lengalenga na cabeça, nem precisam de pensar nisso. O mesmo não acontece com os novatos. Talvez tenha sido esse o motivo que levou um espectador, de olho atrás da máquina, a nem se desviar à passagem do pelotão do Tour. E assim se armou uma confusão, a 23 quilómetros da meta.
A imprudência do fotógrafo abriu caminho a uma queda que partiu o grupo em bem mais do que três partes. Quem ia à frente safou-se, quem estava para trás, pior ficou. Como há um ano, a primeira etapa do Tour ficava marcada por um acidente. Em 2011 fora um choque entre Maxim Iglinsky e um adepto, que depois levou o pelotão ao chão. Desta vez, o toque do espectador não derrubou o ciclista, mas provocou um efeito dominó. Mesmo assim, os maiores favoritos ao pódio (outra divisão em terços) escaparam aos problemas.
A etapa, de 198 quilómetros, arrancara em Liège. Era uma longa volta para chegar a Seraing, que até fica logo ali ao lado – menos de 15 quilómetros. Ora, a cidade é conhecida pela diversidade das paisagens. Senão vejamos: um terço são casas, outro é floresta e o terceiro faz-se de indústria e negócios – a fábrica da Val Saint Lambert, fornecedora oficial de copos de vidro e cristal do rei Alberto II, é uma das maiores atracções da região.
Neste Tour faltam alguns dos motivos de interesse dos últimos anos. Não há Alberto Contador, suspenso, nem Andy Schleck, lesionado. Já para não falar de Lance Armstrong, que em 2011 já tinha abandonado o ciclismo profissional. Ora, mais espaço fica para outros aparecerem – ou para os suspeitos do costume darem um ar da sua graça.
Fabian Cancellara ganhou o prólogo de sábado (a sua oitava vitória no Tour) e o direito a vestir a camisola amarela. Especialista em contra-relógios e clássicas, o suíço viu nesta etapa outra oportunidade para lutar pelo triunfo. Assim, assistiu ao ataque de Sylvain Chavanel antes de lançar o seu próprio. E lá arrancou do pelotão a menos de dois quilómetros do fim.
Pensava que ia sozinho, mas a companhia apareceu logo a seguir. Peter Sagan apanhou-o e pouco depois juntou-se Edvald Boasson Hagen. No último quilómetro, as probabilidades ficavam divididas em terços. Esperaram os três pelo momento certo, de tal forma que o pelotão quase os apanhou. Até que Sagan se fez ao sprint a todo o gás para vencer a etapa.
Aos 22 anos, o eslovaco da Liquigas participa no Tour pela primeira vez. E a estreia começou da melhor maneira para o rapaz que um dia ganhou uma prova com uma bicicleta de supermercado emprestada pela irmã. Como é um homem de família, impôs apenas uma condição para renovar com a equipa italiana: contratarem um dos irmãos mais velhos, Juraj. Só não conseguiu arranjar-lhe um lugar no Tour, porque não tem um terço do potencial de Peter.