Telepizza Lumiar com Portugal até à final. Pizza media (4 ing) + 4 medalhões camembert + 1 litro bebida por apenas 12,95 Eur. Ligue. Não ligamos. É só o que faltava. Então recebemos este sms a duas horas da final, no preciso momento em que a Itália está a sair do hotel? Balotelli está a olhar para o telemóvel (terá recebido uma mensagem igual à nossa?) e Pirlo é dos poucos sem phones nos ouvidos. O autocarro fecha as portas e arranca… sem Thiago Motta. O italo-brasileiro desce as escadas a correr, dá umas palmadas na carroçaria e entra. Agora sim, avanti Italia. O autocarro, queremos dizer, porque a equipa propriamente dita dá-se mal na final de Kiev.
A Espanha é mais forte e revalida o título europeu (inédito) com dois golos na primeira parte (inédito desde a Checoslováquia-1976) de dois sub-1,70 metros de altura: David (que também é Golias) Silva e Jordi Alba. A Itália não mais recupera. Tenta, atira-se ao ataque e incomoda Casillas, o tal que no último jogo só faz uma defesa (penálti do Moutinho) em duas horas de jogo, mas daí nada resulta. A Espanha é infalível.
O goleador do Euro-2008 e do Mundial-2010 está lesionado, e agora? O capitão sem braçadeira lesiona-se, e agora? O lateral esquerdo do Euro-2008 e do Mundial-2010 está destreinado porque Jesus não vai à bola com ele, e agora? A Espanha apresenta soluções para tudo. Adelante. Okaaay, inventamos um coño qualquer lá na frente. ‘Tá beeem, na ausência do Puyol, puxamos o Sergio Ramos para o meio e jogamos com o Arbeloa, vá. Capquem? Ahhh sim, o amigo da Shakira na final do Mundial-2010. Bem, entra Jordi Alba. Peça por peça, Vicente del Bosque (campeão europeu e mundial em clubes e selecções, inédito e oléééééééé) desmonta e reinventa outra Espanha, igualmente vencedora.
Invencível há 28 jogos do Europeu (qualificação e fase final) desde o 3-2 de Estocolmo em Outubro de 2006, a Espanha domina desde o início. Xavi assusta Buffon antes de Iniesta (1,70 m) desmarcar Fàbregas nas costas de Chiellini, que por sua vez assiste para a entrada fulgurante de cabeça de David Silva (1,70 m). A Itália reage. Prandelli também. Sai Chiellini (lesionado), entra Balzaretti. O lado esquerdo do ataque azzurro começa a criar problemas mas Casillas resolve-os à sapatada. Por falar nele, é o capitão quem inicia a jogada do 2-0, concluída com um soberbo passe de Xavi (1,70 m) na hora h para a corrida de Jordi Alba (1,70 m). Na cara de Buffon, dois-zero.
Chega o intervalo e com ele a grande surpresa. A Telepizza Lumiar… não, agora a sério: a Itália tem mais passes (249) que a Espanha (247). Deve ser inédito.
A segunda parte começa com a Itália a mandar. Os primeiros 45/50 segundos. O recém-entrado Di Natale cabeceia por cima sem oposição. Depois segue-se o vendaval da Espanha, com alguma displicência à mistura. Em dois contra-ataques seguidos, Iniesta entrega mal a bola e perde-se o efeito da goleada. A Itália ataca sem cabeça e defende com um/dois homens além de Buffon. A Espanha entretém-se a jogar futebol com prazer. E até dá tempo para o 3-0 surgir com naturalidade, obra de Fernando Torres – já cá faltava o número 9 a marcar, depois de Ponedelnik (URSS-1960), Marcelino (Espanha-64), Hrubesch (RFA-80), Charisteas (Grécia-04) e… Torres (Espanha-08). Upss, afinal até há tempo para o 4-0 do suplente Mata, a passe de Torres. O Chelsea em alta e aí está a final mais desnivelada de sempre. Incrível como a Espanha subjuga a Itália da forma mais linear possível.
Quando soa o apito de Pedro Proença, árbitro da final da Liga dos Campeões e do Europeu no mesmo ano (inédito), os jogadores espanhóis continuam a correr. Agora sem bola e agarrados à bandeira espanhola. Casillas levanta a taça (inéd… nã, isto já não é inédito). Finalmente toca em alguma coisa depois de passar 509 minutos sem sofrer golos, desde o 1-0 de Di Natale no jogo inaugural a 10 de Junho. Como se isso fosse pouco, 137 internacionalizações, 79 delas sem sofrer golos!
That’s all folks. Vamos trocar as tapas pela pizza, pode ser? A Espanha ganha o último Europeu de sempre. Daqui a quatro anos, na França, é um torneio sem pés nem cabeça com 24 selecções num continente com 51.