Rui Costa. “Tenho duas araras maracaná e cinco papagaios”


Giro, Tour, Vuelta: o Trio Odemira das provas de ciclismo toca na cabeça de qualquer ciclista que sonha com grandes vitórias. O elemento do meio, francês, destaca-se ainda mais – pela dificuldade (junta Pirenéus e Alpes), pelo final pomposo (desde 1975 que acaba nos Campos Elíseos) e pela história (em 2013 terá a 100.ª edição).…


Giro, Tour, Vuelta: o Trio Odemira das provas de ciclismo toca na cabeça de qualquer ciclista que sonha com grandes vitórias. O elemento do meio, francês, destaca-se ainda mais – pela dificuldade (junta Pirenéus e Alpes), pelo final pomposo (desde 1975 que acaba nos Campos Elíseos) e pela história (em 2013 terá a 100.ª edição). E se vamos falar em momentos altos, o melhor é irmos à procura de Rui Costa. Há duas semanas, o português da Movistar venceu aquela que é vista como a quarta corrida por etapas mais importante do calendário – a Volta à Suíça. Ao longo de nove dias, deu música à concorrência, onde estavam alguns candidatos à conquista do Tour. Telefonamos-lhe, mas do outro lado surge antes uma voz feminina. É a namorada, que assume o papel de relações públicas. “O Rui chegou há pouco do treino e precisa muito de descansar. Pode enviar antes as perguntas por email? Assim ele responde com calma quando puder.” Pronto, está combinado. O email segue na hora, a resposta chega uns dias mais tarde, perto do limite. Mas começa com um agradecimento pela entrevista e até traz um “[risos]”, no fim de numa resposta. Assim vale a pena esperar.

 

Li que gosta de tocar bateria. Que música passa pelas suas baquetas?

Passa de tudo um pouco, dependendo do espírito com que me encontro.

Então e se tivesse de escolher uma banda sonora para acompanhar a vitória na Volta à Suíça, qual seria?

Escolheria as músicas do Carlos Costa. Para além de ser meu amigo, tem músicas cheias de ritmo e alegres, tal como eu estava na Suíça. Gosto muito das canções do seu álbum “Raio de Sol”.

E que instrumento tocaria o Alejandro Valverde? Deu-lhe uma grande ajuda.

Talvez guitarra eléctrica, porque tem sempre uma presença forte em qualquer grupo. O Valverde, tal como o resto da equipa, deu-me uma ajuda muito grande. Esta vitória também é de todos eles.

O Tour começa agora. Depois do esforço na Suíça, como se prepara a cabeça para fazer mais quase 3500 km de bicicleta?

Não é fácil, mas temos de nos erguer e ir à luta. Esta é uma das razões pelas quais o ciclismo é considerado o desporto mais duro do mundo. Se não se tiver gosto no que se faz, não dá para ser ciclista. É uma vida muito dura.

E o corpo, como responde? O que tem feito nos últimos dias para se preparar? Mais descanso e menos treino?

O corpo pedia mais descanso mas não foi possível estar em casa mais tempo. Devido ao imenso desgaste que tive fui obrigado a renunciar aos Campeonatos Nacionais e fazer apenas treinos de recuperação e descansar o máximo possível.

No ano passado ganhou uma etapa no Tour. Vai tentar repetir a vitória ou está sobretudo empenhado em retribuir a ajuda ao Valverde?

O nosso objectivo é levar o Valverde ao top cinco ou ao pódio, se possível.

E o Juan Cobo [vencedor da Vuelta em 2011]?

O Cobo é o nosso segundo líder neste Tour, mas o seu grande objectivo será tentar revalidar o título na Vuelta. Se o Valverde necessitar da sua ajuda, com certeza que ele trabalhará em conjunto com o resto da equipa. Se ganhar um de nós, ganhamos todos.

Quem vê ciclismo não dispensa uma boa etapa de montanha. Como se encara uma subida como, por exemplo, a do Tourmalet [2115 metros de altitude, com uma inclinação média superior a 7%]? O que se pensa nesses momentos?

Eu opto por não pensar muito na dureza da prova. Penso em objectivos de quilómetro a quilómetro e vou até onde o corpo me permitir. Mas existem dois tipos de sofrimento diferentes. Quem vai a sofrer mas vai na frente da corrida vai mais animado e motivado, pois vai na dianteira, a caminho de uma possível conquista. E quem vai a sofrer atrás está a gerir o esforço na tentativa de conseguir terminar a prova dentro do tempo regulamentar e não ter de abandonar a competição. 

Menos de uma semana depois do fim da Volta a França tem os Jogos Olímpicos. Vai chegar lá com quatro semanas duras (uma na Suíça e três em França) e 10 000 km cumpridos. Ainda restará energia? Sei que o percurso não ajuda muito…

Os dias de descanso não serão muitos, mas uma vez que se trata de uma prova de um só dia, consegue-se cumpri-la bem. Espero ter energia e estar bem fisicamente nessa altura, para poder dignificar o melhor possível a nossa bandeira.

E não é demasiado redutor decidir três medalhas tão importantes numa única etapa? Acontece o mesmo nos Mundiais, claro.

Eu preferia que fosse uma prova por etapas, talvez me fosse mais favorável. Sim, nos Mundiais acontece o mesmo mas com maior dureza.

Então e para quando uma passagem pela Volta a Portugal? É impressão minha ou nunca participou?

Não é impressão sua, nunca participei como profissional, apenas como amador. Para já não está nos planos da equipa nem é compatível com o nosso calendário, mas quem sabe no futuro… gostava de participar um dia, mas também ainda não sou velho [risos].

A época é longa e leva-o a estar muito tempo longe de casa. Fica com muitas saudades dos seus pássaros? São sete, certo?

Sim, costumo passar muito tempo fora em competição e as saudades de casa e da família apertam. Tenho sete pássaros, duas araras maracaná e cinco papagaios. Gostava de dar-lhes toda a atenção que merecem, mas o pouco tempo livre que tenho não mo permite.

E como se chamam?

Nico, Flora, Teco, Nina, Ulisses, Íris e Hércules.