Patrícia Mamona. O triplo salto entre os EUA e a Europa


“É um nome catchy”, dizia há um ano numa entrevista ao site Atleta Digital. Patrícia Mamona sempre viveu bem com isso. “Lembro-me de uma piada que era assim: ‘Ela tem esse apelido porque mama as medalhas todas.’” No fundo, era mais uma forma de reconhecimento, que cresceu ao longo dos anos ao mesmo ritmo das…


“É um nome catchy”, dizia há um ano numa entrevista ao site Atleta Digital. Patrícia Mamona sempre viveu bem com isso. “Lembro-me de uma piada que era assim: ‘Ela tem esse apelido porque mama as medalhas todas.’” No fundo, era mais uma forma de reconhecimento, que cresceu ao longo dos anos ao mesmo ritmo das vitórias. A medalha de prata nos Europeus de Helsínquia, com uma marca de 14,52 metros, significa um triplo salto com entrada directa na elite da modalidade.

Podia ser uma surpresa, um resultado vindo do nada, mas na verdade nem era difícil prever que a atleta portuguesa chegasse até aqui. Bom, no início era bem mais complicado. Patrícia Mamona começou a carreira no atletismo aos 13 anos, no JOMA (Juventude Operária do Monte Abraão). Primeiro teve de ultrapassar a barreira dos pais, a quem a ideia não agradava por aí além. De tal forma que saía de casa sem avisar para se juntar ao grupo de José Uva. Depois lá conseguiu convencê-los, com a ajuda do professor.

Manteve-se fiel ao clube durante seis anos, até que surgiu uma oportunidade: estudar medicina nos Estados Unidos com uma bolsa desportiva. Em Portugal, conciliar as duas áreas implicaria longas deslocações que punham em casa o trabalho diário como atleta. Por isso, em 2008 – já com um título nacional do triplo salto – foi para a Universidade de Clemson, na Carolina do Sul.

O primeiro ano nos EUA ficou aquém das expectativas. A equipa de Clemson não ganhou nada e o treinador acabou despedido. Depois, sim, a coisa lá se endireitou. Tudo graças à chegada de Lawrence Johnson, treinador que já tinha trabalhado com atletas olímpicos. Logo a seguir, as Tigers (alcunha da equipa de Clemson) foram campeãs de conferência.

Para Patrícia Mamona, a mudança de técnico também trouxe novos métodos. Johnson via nela uma atleta capaz de competir em várias disciplinas, por isso preocupou-se em desenvolver outras capacidades. Treinou barreiras, mais salto em comprimento e um pouco de salto em altura. Com o tempo passou ao pentatlo, depois ao heptatlo. E assim se tornou uma referência dentro da equipa.

Feita a generalização, regressou à especialização. E o triplo salto foi o caminho escolhido. Em 2010 foi campeã universitária e no ano seguinte repetiu a vitória. Enquanto isso, ia regressando a Portugal para competir na parte final da época de ar livre – há dois anos transferiu-se do JOMA para o Sporting.

JOGOS OLÍMPICOS O objectivo está traçado há algum tempo. De tal forma que Patrícia Mamona abdicou do ano universitário nos Estados Unidos para se concentrar na preparação para Londres. Em Julho de 2011 já tinha elevado o recorde nacional para os 14,42 metros, o que lhe abriu por completo a porta para os Mundiais de Daegu. Não passou da qualificação, mas a experiência ficou. No mês seguinte, conquistou a medalha de prata nas Universíadas, em Shenzhen.

Agora, em Helsínquia, acrescentou dez centímetros à sua melhor marca. Na final do triplo salto, só Olga Saladukha – campeã europeia e mundial em título – fez melhor. A ucraniana, que está noutro patamar, ficou a um centímetro dos 15 metros.

A seguir vêm os Jogos Olímpicos. Patrícia Mamona ainda não estará entre as principais candidatas às medalhas, mas isso também lhe retira pressão. Pelo menos tem uma vantagem: a família vive em Inglaterra e estará por perto para apoiá-la.