A Curva da Cintura. Um rendez-vous improvisado entre o Brasil e o Mali


Arnaldo Antunes e Edgard Scandurra não tocavam com Toumani Diabaté desde Julho do ano passado. “Agora vamos ter dois ou três dias para ensaiar em Loulé”, conta Arnaldo num hotel em Lisboa. O músico brasileiro, famoso por integrar a banda Titãs e, mais tarde, o trio Tribalistas, está “meio engripado”, mas não parece preocupado com…


Arnaldo Antunes e Edgard Scandurra não tocavam com Toumani Diabaté desde Julho do ano passado. “Agora vamos ter dois ou três dias para ensaiar em Loulé”, conta Arnaldo num hotel em Lisboa. O músico brasileiro, famoso por integrar a banda Titãs e, mais tarde, o trio Tribalistas, está “meio engripado”, mas não parece preocupado com a voz nem com os poucos ensaios que vão ter. “Foi assim também que começámos a tocar num festival no Rio em 2010”, recorda. “Só tivemos um ensaio e houve logo uma química musical. De tal forma que o Toumani nos convidou para ir gravar um disco ao Mali.”

Se nunca ouviu falar de Toumani Diabaté não se preocupe. O próprio Arnaldo Antunes e o seu parceiro musical de há mais de 20 anos, Edgard Scandurra, também não o conheciam. “Quando me convidaram para fazer um show com ele no festival Back2Black tive de ir buscar vídeos com ele na internet”, continua Arnaldo. “Nunca tinha ouvido uma kora [o instrumento africano de 21 cordas semelhante a uma harpa que Toumani toca], nem o trabalho dele e me encantei. Mas era uma incógnita a nossa junção musical.”

Aparentemente correu bem. Depois de um espectáculo conjunto no tal festival no Rio de Janeiro, Toumani, um dos mais famosos músicos malianos, convidou os dois brasileiros para gravarem um álbum em Bamako, a capital do seu país. “Ao mesmo tempo que isso acontecia, eu e o Edgard [da antiga banda de rock brasileira Ira!] tínhamos um projecto de fazer um disco juntos. Já vínhamos compondo e depois desse o encontro com o Toumani decidimos convidá-lo para fazer esse disco com a gente”, diz Arnaldo.

“A Curva da Cintura”, assim se chama o álbum, foi agora editado em Portugal e resulta de quatro meses de gravações (entre Março e Julho de 2011) em estúdios em Bamako e em São Paulo. “O disco já foi lançado no Brasil há mais tempo e por isso eu e o Edgard já vínhamos tocando algumas músicas para divulgá-lo. Agora vai ser a estreia mundial num palco.”

O rendez-vous improvisado entre o Brasil e o Mali acontece hoje à noite no Festival Med, em Loulé. Isso mesmo, na cidade algarvia. Não fica a meio caminho entre os dois continentes mas o festival de world music português já se habituou a ver estreias mundiais de projectos intercontinentais nos seus palcos. O ano passado, o mesmo Toumani Diabaté apresentava ali o projecto AfroCubism, que junta músicos do Mali e de Cuba, como o guitarrista cubano Eliades Ochoa. Este ano traz o seu filho de 21 anos, Sidiki Diabaté, também tocador de kora. “Vai ser um show meio familiar porque o Edgard [Scandurra] também trouxe o filho Daniel para tocar”, adianta Arnaldo.

“Estou curioso para ver como é que a gente se vai dar”, diz o guitarrista Edgard Scandurra. Os ensaios podem não ter sido muitos, mas o improviso faz parte d’“A Curva da Cintura”. “Faz parte da linguagem musical do Toumani e também da minha como guitarrista”, continua Edgard. “Aliás a música do Mali é a grande essência de muitas músicas do Ocidente, com raízes muito fortes no blues.”

Depois de Loulé, os músicos continuam a digressão na Europa com paragens em Londres, Barcelona, Madrid, Paris e em Berlim.

WORLD MUSIC À MODA DO ALGARVE Além de Toumani Diabaté, o Mali também vai estar representado nos dois dias do festival Med (hoje e amanhã) através dos SMOD, banda do filho do casal de cegos Amadou & Mariam, com um disco produzido por Manu Chao. O cantor e guitarrista Boubacar Traoré, também do Mali, a dupla de jamaicanos Sly & Robbie e o senegalês Cheikh Lô são outros dos cabeças do cartaz que este ano foi reduzido. O festival, organizado pela câmara de Loulé, teve uma redução de 40% no orçamento e foi encurtado para dois dias – habitualmente prolongava-se por quatro dias.

A Curva da Cintura, hoje, 00h00, Festival Med, Loulé. Bilhetes diários a 12 euros