Os britânicos sofrem há anos. Com um torneio histórico a realizar-se no seu país desde 1877, têm o orgulho ferido pela falta de campeões em território nacional. Desde o início da era Open, em 1968, Wimbledon não teve um único campeão britânico. Sobram as mulheres para honrar a casa, com Ann Haydon Jones (1969) e Virginia Wade (1977) a conseguirem o título individual. Outros títulos só em mistos (1969, 1987, 2007), mas apenas o segundo foi conseguido por uma dupla em que os dois membros eram eram do país: Jeremy Bates e Jo Durie.
Mais recentemente, Andy Murray tem sido a maior esperança, mas sem grandes resultados. Do lado feminino, o lado que traz melhores desempenhos em Wimbledon, surge Laura Robson como uma boa hipótese. Ela foi até campeã em Wimbledon em 2008, mas o evento era de juniores. As portuguesas conhecem-na bem: em Fevereiro deste ano, Maria João Koehler e Michelle Brito foram derrotadas por Robson a pares na Fed Cup (a versão feminina da Taça Davis). Mas talvez a esperança não devesse estar em Robson, mas sim na sua colega de pares. O nome dela é Heather Watson e agora fez história em Wimbledon.
Não é que se tenha tornado campeã, pelo menos não para já, mas chegou mais longe do que a maioria dos ingleses. Na primeira ronda, Watson passou todo o dia sem saber onde ia jogar. Ao final do dia a resposta lá chegou: era precisamente no Court Central. Os nervos e a responsabilidade podiam ser fatais para a jovem de 20 anos. A rival também não ajudava, era Iveta Benesova, número 55 do ranking. Tarefa difícil para Watson, que ocupa apenas o 103.º lugar, mas deu conta do recado. Vitória por 6-2, 6-1 e história para o ténis britânico – há 27 anos que uma inglesa não vencia no Court Central de Wimbledon, desde 1985, quando Jo Durie ganhou.
A jovem formada na Academia de Nick Bollettieri (a mesma de Michelle Brito) podia ter ficado por aqui. Seria suficiente para o Reino Unido pôr os olhos nela e esperar por uma nova campeã daqui a uns anos. Mas Watson quis fazer mais e, depois de admitir com naturalidade que até se enganou na porta ao sair do Court Central, apareceu igualmente bem disposta para o seu segundo jogo, desta vez contra a norte-americana Jamie Lee Hampton (100.ª). Com apenas três lugares do ranking a separá-las, a tarefa desta vez era mais fácil e Heather cumpriu, ao vencer por 6-1, 6-4.
Watson é a primeira britânica a atingir a terceira ronda de Wimbledon desde 2002, quando Elena Baltacha o conseguiu. Pela frente terá agora Agnieszka Radwanska. A polaca é uma das piores adversárias que Heather podia ter pela frente, já que é a actual número três do ranking, apenas abaixo de Maria Sharapova e Victoria Azarenka. Mas mesmo que Heather Watson não vença Radwanska, já conseguiu um título em Wimbledon: o de nova esperança do ténis britânico.