2000. França vs. Portugal. O homem mais corajoso da Europa


Igor Sramka não tem página de wikipédia em inglês. Nem em alemão. De espanhol, ni hablar. Niente de italiano e tampouco do português abrasileirado. Igor Sramka só tem entrada na versão húngara, imagine-se! Mas quem é Igor Sramka? Isso agora… Para alguns é o homem mais corajoso da Europa, para outros é o responsável pela…


Igor Sramka não tem página de wikipédia em inglês. Nem em alemão. De espanhol, ni hablar. Niente de italiano e tampouco do português abrasileirado. Igor Sramka só tem entrada na versão húngara, imagine-se! Mas quem é Igor Sramka? Isso agora… Para alguns é o homem mais corajoso da Europa, para outros é o responsável pela eliminação de Portugal nas meias-finais do Euro-2000. Bem vistas as coisas, os dois pontos de vista estão correctíssimos. Desde que não se fale de injustiça…

Pela primeira vez na história do futebol, a decisão de um árbitro auxiliar sobrepõe-se ao próprio juízo do árbitro, que assinalara pontapé de canto após o desvio de Abel Xavier a um remate de Wiltord. Acontece que o eslovaco Igor Sramka vê (e bem) mão de Abel Xavier. Fazendo-se valer do reforço dos poderes dos fiscais-de-linhas, decretado pela FIFA e em vigor a partir de 1 de Junho desse ano de 2000, o austríaco Günter Benko é informado disso mesmo.

O que se segue é uma confusão tremenda. Por culpa dos jogadores portugueses, completamente alterados. Abel Xavier é o mais inconformado de todos. Há uma discussão que se eterniza até que Humberto Coelho entra em campo e acalma os ânimos. Vamos lá então ao penálti. Se for golo, é de ouro. Se não for golo, ainda faltam três minutos para acabar o prolongamento. Zidane arranca para a bola, atira e engana Vítor Baía, que no jogo dos quartos-de-final (2-0 à Turquia) tinha parado uma grande penalidade de Arif Erdem. Com o francês, foi um penálti típico: bola para um lado, guarda-redes para o outro.

O que se segue é uma confusão tremenda. Parte 2. Por culpa dos jogadores portugueses, completamente transtornados. Idem. Abel Xavier volta a ser o mais indignado mas agora juntam-se-lhe mais companheiros. Nuno Gomes, autor do primeiro golo da tarde (1-0 aos 19’), anulado pelo de Henry (1-1 aos 50’), aplaude a decisão de Benko e vê o cartão vermelho directo. Ou melhor, não vê assim tão bem porque Paulo Bento baixa o braço do árbitro numa atitude irreflectida. Figo despe a camisola 7 e oferece-a ao austríaco. Há nervos por todo o lado e é Humberto Coelho quem salta novamente para o relvado na tentativa de travar aquela zaragata. Os franceses, esses, festejam a qualificação para a final no meio-campo.

“Uma decisão infeliz impossibilitou a final”, refere o diplomático Humberto Coelho, que se demite do cargo de seleccionador nessa mesma noite e deseja sorte ao sucessor (António Oliveira). Já Figo continua revoltado. “Já não há verdade. O futebol é um negócio.” Tal é a contestação que até o fiscal-de-linha Sramka começa a ter dúvidas, entretanto dissipadas durante a madrugada aquando do visionamento da jogada no quarto de hotel. A verdade (a sua e a do futebol) está salvaguardada. A da selecção portuguesa é que não. Mencionados no relatório do árbitro Benko, os nomes de Nuno Gomes, Paulo Bento e Abel Xavier são avaliados pela UEFA e mais tarde suspensos por meses. Quanto a Sramka, iria ser o fiscal-de-linha do FC Porto-Celtic, final da Taça UEFA-2003. Desta vez, sem incidentes e com final feliz para Portugal.