Sarah Stevenson. Quando conseguir o ouro é a melhor homenagem


Em 2010, Sarah Stevenson estava feliz. Em Maio ganhou o título de campeã europeia de taekwondo, em Sampetersburgo. Não que fosse novidade: Sarah já o tinha conseguido em 1998, 2005 e 2006. Mas a conquista do novo título dava-lhe mais hipóteses de lutar pelo ouro olímpico, o grande sonho que partilhava com os pais. Seis…


Em 2010, Sarah Stevenson estava feliz. Em Maio ganhou o título de campeã europeia de taekwondo, em Sampetersburgo. Não que fosse novidade: Sarah já o tinha conseguido em 1998, 2005 e 2006. Mas a conquista do novo título dava-lhe mais hipóteses de lutar pelo ouro olímpico, o grande sonho que partilhava com os pais. Seis meses depois, Sarah era levada até ao altar pelo pai, Roy Stevenson. Casava-se no México com o seu treinador, Steve Jenning, naquilo a que chamou “um casamento de sonho”.

“O ano passado foi um bom ano, este não foi tão bom, mas ganhar uma medalha nos Mundiais tornaria as coisas um bocadinho mais fáceis”, dizia Sarah um ano depois, antes de seguir para o Mundial na Coreia do Sul, país onde nasceu o taekwondo. Poderia ir feliz, mas não era o caso. Duas semanas antes, a atleta tinha desistido da ideia de estar ali. Em Janeiro de 2011 foi diagnosticado um cancro a Diana, mãe de Sarah. Três meses depois era descoberto um tumor no cérebro de Roy. A vida de Sarah passou a fazer-se entre o piso N do hospital, onde o pai estava internado, e o piso P, onde estava a mãe. Ir ao campeonato do mundo parecia fora de questão. “Vou lutar contra umas miúdas quaisquer? O que é isso comparado com o que se está a passar cá em casa?”, pensava Sarah.

Mas o casal, junto há mais de 40 anos, não ia permitir tal coisa. Os dois insistiram, tal como acontecia quando Sarah era mais nova. Começou a praticar taekwondo aos sete anos, seguindo o irmão. Ele acabou por abandonar a modalidade, ela não. À medida que foi crescendo, os pais fizeram todos os sacrifícios possíveis para que tivesse bons resultados. Quando havia uma grande competição longe do Reino Unido vendiam qualquer coisa lá de casa em segunda mão para Sarah ter dinheiro suficiente para ir.

E Sarah lá foi à Coreia do Sul. Quando venceu a chinesa Guo Yun no seu último combate desfez-se em lágrimas. Não tanto por ser campeã mundial, mas mais pelos seus pais. Dois meses depois, Roy morria. Quatro meses passados era a vez de Diana. “O dia do funeral dela foi o pior da minha vida. Não conseguia deixar de pensar que um ano antes ela tinha estado comigo na minha despedida de solteira no México”, confessa Sarah. “O meu primeiro aniversário de casamento foi três dias depois do funeral do meu pai.”

Seria suficiente para deitar muitos abaixo, mas Sarah fez do desgosto força e dedicou-se ao máximo ao taekwondo. Os Olímpicos começam precisamente daqui a um mês e Sarah quer o título que lhe escapou em 2008 (ganhou o bronze). A jovem, que aos 17 anos foi patrocinada por Jackie Chan, ultrapassou uma lesão no joelho e foi convocada para a selecção. “Quero ganhar o ouro, pela mãe e pelo pai. Depois disso posso começar verdadeiramente o meu luto.” Se Sarah conseguir a medalha, Londres terá mais lágrimas que a Coreia do Sul. O sonho de Sarah, Roy e Diana será concretizado.