Portugal. O adversário é a Espanha mas isso não importa


O porta-voz da UEFA inaugura a conferência de imprensa e há perguntas em português, castelhano, inglês e ucraniano. Hugo Almeida e Paulo Bento demonstram que conseguem abdicar quase sempre da tradução. É certo que o ucraniano está fora dos limites e que o seleccionador não se sente à vontade com o inglês, mas as respostas…


O porta-voz da UEFA inaugura a conferência de imprensa e há perguntas em português, castelhano, inglês e ucraniano. Hugo Almeida e Paulo Bento demonstram que conseguem abdicar quase sempre da tradução. É certo que o ucraniano está fora dos limites e que o seleccionador não se sente à vontade com o inglês, mas as respostas aos espanhóis são dadas com propriedade e sem recurso à tradição de pôr os auscultadores a cada pergunta que façam.

Paulo Bento mostra que está à vontade com o castelhano mas não abdica do português. Pode ser visto como apenas um pormenor, mas espelha na perfeição a mensagem que o seleccionador quis transmitir na antevisão do jogo de hoje. O adversário pode ser Espanha, mas o momento é de Portugal. É nessa “primeira pessoa” que Bento e Almeida se sintonizam e não abdicam nunca, nem mesmo quando um jornalista espanhol pede ao seleccionador que “conteste” [responder] em castelhano. “Não, vou contestar… vou responder em português, que é como tenho feito sempre até aqui.”

A Espanha pode ser favorita, mas Portugal será fiel a uma estratégia que não depende do adversário. Chegar a esta fase da prova não é uma curiosidade circunstancial e Hugo Almeida dá o mote ao que vai acontecer com Bento: “Sabemos a qualidade que a Espanha tem, mas chegámos aqui com o nosso mérito.” Os jornalistas espanhóis pressionam o avançado com perguntas sobre a dupla de centrais (Piqué e Sergio Ramos) e os pontos fortes do adversário, mas o português repete o guião: “O colectivo da equipa espanhola é bastante forte mas vamo–nos interessar é connosco, fazer um grande jogo e conseguir a vitória.”

Quando Hugo Almeida sai de cena, Paulo Bento segura o testemunho e mantém-se fiel ao guião. “A nossa confiança advém do que fizemos aos nossos adversários e do que podemos fazer também com a Espanha. Não faz sentido ir jogar esta meia-final sem nos inspirarmos em nós próprios, no talento, na dedicação e no trabalho dos 23 jogadores que estão neste Europeu.”

Paulo Bento vai mais longe e mostra- -se indiferente às dúvidas dos espanhóis. Fàbregas ou Torres? David Silva ou Pedro Rodríguez? Não é uma preocupação. “Temos a nossa estratégia definida. É claro que jogar com Fàbregas como falso nove ou com Torres pede-nos coisas diferentes, mas organização é que não pode faltar.”

O clímax da mensagem chega com a pergunta do jornalista que queria saber os pontos fortes da Espanha numa resposta em castelhano. Paulo Bento não se incomoda com a realidade e elogia o estilo espanhol, forte na posse, na união dos sectores e na capacidade de recuperar a bola numa fase adiantada no terreno precisamente por essa união, mas deixa um aviso: “Tentaremos contrariar com a nossa identidade e não andar a reboque da selecção espanhola.”

Alfinetadas É certo que Espanha tem uma grande selecção, mas Paulo Bento deixou escapar, de forma discreta, algumas críticas ao estilo do adversário, o mesmo que noutros momentos é elogiado. A equipa de Del Bosque tem sido criticada pelo futebol pouco objectivo e é precisamente aí que ataca Bento.

A Espanha domina a posse de bola em todos os jogos? Sim, mas esse factor pode ser enganador: “Temos de saber ser pacientes e permitir que o adversário troque a bola em zonas onde menos nos possa afectar.” Com isto o seleccionador deixa de lado a hipótese de pressionar logo no meio-campo ofensivo, especialmente quando o jogo não obrigar a isso. De uma forma ou de outra, a Espanha também precisa de marcar golos e, como Bento fez questão de frisar, “teve dificuldades com a França, num jogo em que não construiu um conjunto de oportunidades muito elevado” – apenas nove remates.

Alfinetadas II A arbitragem foi outra das visadas no discurso de Paulo Bento. A escolha do turco Cüneyt Çakir não mereceu necessariamente críticas, mas não deixa de haver alguma apreensão. “É importante que ninguém fique pressionado ou condicionado com aquilo que são outro tipo de relações e outro tipo de desejos”, referiu Bento, lembrando que o comité de árbitros tem um presidente espanhol e um vice-presidente turco e que o presidente da UEFA, Michel Platini, já desejou publicamente uma final entre Espanha e Alemanha. “Já houve alguns episódios com a selecção alemã e espanhola que podem fazer com que quem está de fora pense em condicionalismos. Não é a melhor maneira de estar neste desporto.”

Independentemente de tudo, a frase final da conferência esclarece todas as dúvidas que poderiam existir para o jogo frente à actual campeã europeia e mundial. “Nós podemos chegar ao nosso objectivo!” Palavra de seleccionador.

Portugal-Espanha, 19h45, SIC