Não queremos ver espanhóis à nossa frente.
Não queremos ver espanhóis à nossa frente.
Não queremos ver espanhóis à nossa frente.
Não queremos ver espanhóis à nossa frente.
Não queremos ver espanhóis à nossa frente.
Não queremos ver espanhóis à nossa frente.
Mascarámo-nos de Bart Simpson, agarrámos num giz e começámos a escrever isto no quadro. Sim é verdade, estamos de castigo porque os espanhóis continuam aqui à nossa frente, aos pulos, a festejar a sua terceira final consecutiva depois de 2008 (campeões europeus) e 2010 (campeões mundiais). Como eles, só a RFA em 1972 (campeões europeus), 1974 (campeões mundiais) e 1976 (vice-campeões europeus). Os portugueses, esses, já estão no balneário a chorar a eliminação. Injusto, pela ineficácia da Espanha em criar jogo até ao prolongamento, mas é assim mesmo o resultado de pouco incomodar Casillas e adiar a decisão para os penáltis.
Pela terceira vez (1984 e 2000), Portugal cai nas meias-finais mas sem abdicar do futebol que o caracteriza. Como tem sido habitual neste Europeu, a selecção nacional entrega a iniciativa ao adversário só para ver o que acontece, mas a selecção espanhola está aburguesada. Se fosse possível catalogá-la a uma profissão, seria a de médico. Todos sabemos o prestígio de ser-se médico mas é realmente preciso que todos eles exibam o diploma? Soa a insegurança, como quem diz “yup, é o meu nome que está na parede, é verdade, sou meeeesmo eu.”
A Espanha, já se sabe, é campeã europeia e mundial a jogar para os lados, para trás e para a frente com à vontade e categoria, mas também não é preciso fazer sempre, sempre, sempre isso. Como que a mostrar as credenciais, tipo “estão a ver, somos nós os campeões disto.” Médicos, portanto… Muy bien, mas saberão eles que fomos nós, portugueses, os inventores do futebol sem balizas? Porque é esse o jogo da Espanha. Alguns dizem catenaccio ofensivo, outros andebol de 11, tudo isso está correcto e é muito bonito… se alguém rematar à baliza, aquele rectângulo grande ao fundo do campo. Rui Patrício é um espectador mais. Apanha alguns sustos (Arbeloa, Iniesta e Sergio Ramos) mas na prática só faz uma defesa em 120 minutos, a remate de Xavi aos 68 minutos.
A culpa do bloqueio espanhol é da extraordinária capacidade defensiva de Portugal em fechar todos os caminhos possíveis e imagináveis desde o meio-campo até à sua área, mas também de Xavi. É sabido que é o director da orquestra. Nunca perde a bola, só faz passes inteligentes e é constante. Está dois ou três passos à frente de qualquer outro jogador, é como se fosse um jogador de xadrez. No Mundial-2010, dois matemáticos da Universidade de College (Londres) estudam a Espanha como se fosse uma rede de aeroportos. “Se um fecha, que acontece? No jogo espanhol, se um jogador é tapado, a jogada perde dinamismo. Com Xavi, não. Ele tem o coeficiente mais alto de robustez. A rede dele funciona sempre. É muito difícil de parar.” A ele, Xavi, o rei. Mas este rei vai nu, está estourado. O Barcelona 2011/12 ressente-se e a Espanha do Euro-2012 também. Já não é a Espanha encantadora nem nada que se pareça. Sem o farol, não há nada para ninguém. Não há fúria e pouco, muito pouco tiki-taka. Se a isto juntarmos os sucessivos roubos de bola de Moutinho, a implacável pujança física de Raul Meireles, os saltos de Pepe-Bruno Alves e a velocidade de Ronaldo, o Xavi desaparece do mapa e com ele a Espanha.
Daí o à vontade de Paulo Bento. Nos outros quatro jogos, o seleccionador entra de casaco mas despe-o ainda na primeira parte. Em Donetsk, não. O strip-tease só começa na segunda parte. Adeus casaco, olá camisa branca. No prolongamento, arregaça as mangas. Vamos ao trabalho, malta. Mas é a Espanha quem carrega. Iniesta tem o golo nos pés mas atira ao lado (103’), Pedro isola-se antes de Coentrão afastar para canto (114’).
Peep, peeeeep, peeeeeeeep, o árbitro turco Çakir apita aos 119’59’’. Vamos para os penáltis. Será que agora Rui Patrício vai ter trabalho? Yeaaaaaah, finalmente! Xabi Alonso obriga-o a ser o primeiro herói do desempate, mas não o último. Esse é Fàbregas, às 00h23, depois de Casillas adivinhar o remate de Moutinho e de Bruno Alves ter acertado estrondosamente na trave. Para mal dos nossos pecados, saímos a chorar. Mas calma, vemo-nos no Brasil em 2014 ué!