1984. França vs. Espanha, toda a verdade sobre Arconada


Acabado o Espanha-82 com o quarto lugar no Mundial, a França carrega baterias para o seu Europeu. É a oportunidade ideal para a geração de ouro (Bats, Amoros, Giresse, Tigana, Fernández, Lacombe e Platini) deixar a sua marca. Durante um ano e meio, a selecção francesa mostra-se à Europa. Em Fevereiro de 1983, por exemplo,…


Acabado o Espanha-82 com o quarto lugar no Mundial, a França carrega baterias para o seu Europeu. É a oportunidade ideal para a geração de ouro (Bats, Amoros, Giresse, Tigana, Fernández, Lacombe e Platini) deixar a sua marca. Durante um ano e meio, a selecção francesa mostra-se à Europa. Em Fevereiro de 1983, por exemplo, vai a Guimarães e toma lá 3-0, assim sem contemplações. A RFA é vergada (1-0) em Estrasburgo, a Inglaterra (2-0) em Paris, a Holanda (2-1) em Roterdão. Só Dinamarca (1-3), Bélgica (1-1), Jugoslávia (0-0) e Espanha (1-1) aguentam o furacão.

Coincidência das coincidências, Dinamarca (1-0), Bélgica (5-0) e Jugoslávia (3-2) fazem parte do grupo da França na fase final. O capitão Platini marca sete golos nesses três jogos, e mais um na meia-final com Portugal. Chega-se à final de Paris e lá está a Espanha. Em Outubro, naquele mesmo Parque dos Príncipes, um penálti de Señor garantira o empate a sete minutos do fim. Em Junho do ano seguinte, tal proeza não é possível de reeditar. A Espanha até surpreende a mandar no jogo durante a primeira parte. Sem a magia de Platini, bem marcado por Camacho, a figura francesa do jogo chama-se Battiston, o pronto-socorro que salva sobre a linha um golo de cabeça de Santillana. Alertados para o facto, os franceses nem assim conseguem desenvolver o seu futebol ofensivo e só mesmo o árbitro checoslovaco Vojtech Christov chega para acalmar os espanhóis com um exagerado festival de cartões amarelos para Víctor, Julio Alberto, Gallego e Carrasco.

Como se isso não bastasse, Christov vê falta num lance normal entre Salva e Lacombe. Ali perto da grande área, na zona de Platini, portanto. Aos 57 minutos, o número 10 francês remata ao poste mais distante para contornar a barreira, mas sem convicção, e ninguém acredita no golo. O guarda-redes Arconada tem a situação mais do que controlada mas espalma o seu peito contra a bola e esta resvala para dentro da baliza. Um presente de capitão para capitão e 1-0.

A Espanha vai-se abaixo e consente ataques contínuos da agora-mais-que-animada-França. Lacombe (contra o corpo de Arconada), Giresse (por cima) e Platini (de cabeça, ao lado) quase sentenciam a final, entretanto jogada 10 x 11 por expulsão do francês Le Roux aos 85 minutos, a castigar falta sobre Sarabia. Nem em superioridade numérica, os espanhóis incomodam Bats e é a França a chegar ao 2-0 no último minuto por Bellone.

Chegada a este Europeu através da impensável goleada 12-1 sobre Malta no último jogo de qualificação para desalojar a Holanda do primeiro lugar pela regra dos golos marcados (24-22), a Espanha só voltaria à final de um Europeu em 2008. Ao 1-0 à Alemanha, segue-se a subida à tribuna de honra. O terceiro guarda-redes Palop veste uma camisola a dizer Arconada nas costas, sobe as escadas e recebe a medalha das mãos de Platini, presidente da UEFA.