Piiii piiii piiiiiii. Em Donetsk, Nicola Rizzoli apita para o fim do terceiro jogo dos quartos-de-final do Euro-2012. A Espanha acaba de ganhar 2-0 à França, mas pouco festeja. A maioria dos jogadores segue logo para o balneário. O capitão Iker Casillas é uma excepção, pára para aplaudir os 2 mil adeptos que estão nas bancadas – agora revoltados por não verem o seu apoio reconhecido por alguns elementos da equipa. O comportamento pode ser visto como um sinal de arrogância, de uma selecção habituada a ganhar. Mas tudo o que os jogadores querem é descansar. Já passa das 23h30. Pela frente ainda têm uma viagem de avião de 1900 quilómetros até Gdansk e daí uma hora de autocarro para Gniewino. Antes das seis da manhã não estarão no hotel.
O jogo das meias-finais é outra vez em Donetsk. Mesmo assim, a federação espanhola optou por regressar à sua base na Polónia, em vez de ficar mais perto da Donbass Arena. “Sentimo-nos muito bem a treinar aqui e, apesar de termos posto a hipótese de ficar na Ucrânia, decidimos voltar”, confessa Toni Grande, adjunto de Vicente del Bosque. A viagem é mais um factor de desgaste a pesar na comparação com Portugal, que tem mais 48 horas de descanso à partida para o duelo de amanhã.
“É uma certa vantagem para Portugal, mas não deve servir de desculpa. Também tivemos mais um dia para preparar os quartos-de-final”, explica Javier Miñano, preparador físico da selecção espanhola. “É um handicap. O que temos a fazer é descansar bem”, reconhece Del Bosque.
Mesmo assim, o trabalho de recuperação não vai disfarçar outro ponto a favor de Portugal: os prováveis titulares de Paulo Bento (com Hugo Almeida no lugar de Hélder Postiga) têm menos 2870 minutos de futebol nas pernas esta época. Feitas as contas, são quase 48 horas (ou 32 jogos) a menos que o onze espanhol (com Cesc Fàbregas).
Cristiano Ronaldo é o líder da lista, com 5995 minutos em 2011/12 – o que equivale a quase 100 horas em campo. No lado espanhol, Casillas aparece como o mais utilizado (5665 minutos). De resto, cada selecção tem três jogadores acima da barreira dos 5 mil. Em Portugal, além de Ronaldo, Rui Patrício (5291) e João Pereira (5216) ultrapassam essa fasquia. Sergio Ramos (5433) e Xabi Alonso (5401) são os outros espanhóis.
Nesta altura é natural que os níveis de cansaço estejam elevados. Para muitos, o limite até estará próximo. “Não sabemos definir isso, mas há uns anos era impensável que um jogador fizesse 5 mil minutos numa época, como acontece com alguns agora”, diz Miñano. Mas nem todos levam tanto jogo nas pernas.
Fábio Coentrão, por exemplo, chega às meias-finais com 3140 minutos, pouco mais de metade do total de Ronaldo. A partilha do lugar com Marcelo no Real Madrid tem permitido ao lateral aparecer em grande forma no Euro. Nani, que perdeu algum tempo devido a uma lesão, também fica abaixo dos 4 mil minutos, assim como Miguel Veloso e Hugo Almeida – o menos utilizado, com apenas 2877.
Apesar de ser indiscutível com Del Bosque, Gerard Piqué surge como o mais fresco dos jogadores espanhóis. É o resultado das opções de Pep Guardiola no Barcelona, com quem o defesa teve uma relação atribulada na última temporada. Piqué soma 3582 minutos, menos que os colegas Cesc Fàbregas (3681) ou Andrés Iniesta (3830).
O clima, outra das preocupações, até deve dar tréguas amanhã. À hora do jogo espera-se uma temperatura a rondar os 20oC e um nível de humidade abaixo dos 60% – ao contrário do que aconteceu no Espanha-França. “Nesta altura do ano o calor é mais cruel para os jogadores”, afirma Del Bosque. Mas eles nem querem pensar nisso.
“Se perdermos, não haverá desculpas”, diz Sergio Busquets. E Ronaldo até concorda: “Três dias de descanso são suficientes.” No campo logo se verá. Por agora, Portugal e Espanha estão separados por 48 horas.