“Se Brian Laudrup fosse uma mulher, casava-me com ele.” Os jornalistas calam-se, o alemão Stefan Effenberg sorri. No dia seguinte, o dinamarquês Brian não desata o nó. “Ele quis-me tanto na Fiorentina que acabou por me convencer”. O ambiente está desanuviado, como se vê.
Companheiros de equipa no Bayern desde 1990, Brian e Stefan assinam pela Fiorentina mas na sexta-feira 26 de Junho de 1992 serão rivais excepcionalmente. É a final do Euro-92 entre a favorita Alemanha e a surpreendente Dinamarca.
Antes de o jogo começar, os dinamarqueses entoam o “we are the champions” nas bancadas do Ullevi de Gotemburgo. A equipa convidada à última hora para o lugar da Jugoslávia (sancionada pela UEFA no seguimento da sangrenta guerra dos Balcãs) junta uma série de jogadores de férias (menos o capitão Michael Laudrup, de candeias às avessas com o seleccionador Richard Möller-Nielsen) e começa a jogar. Na estreia, empata a Inglaterra (0-0). Depois, perde com a anfitriã Suécia (0-1). No jogo do tudo ou nada, vence 2-1 a França de Papin e Cantona, treinada por Platini, cem por cento vitoriosa na fase de qualificação. Primeira surpresa. E última? Qual quê! Nas meias-finais, a campeã europeia Holanda é eliminada nos penáltis, com Schmeichel a adivinhar o remate de Van Basten. Segunda surpresa. E última? Qual quê! A Dinamarca é o tomba-gigantes da moda.
Aos 19 minutos, Flemming Povlsen ganha uma bola a Brehme, escapa-se pela esquerda e atrasa para o bico da área, onde aparece de rompante John “Faxe“ Jensen para desferir um formidável pontapé de primeira. A bola sai-lhe do pé como um míssil e balança as redes de Illgner. Atrás dessa baliza, os adeptos dinamarqueses mudam o disco. Trocam o “we are the champions” pelo “auf wiedersehen Deutschland”!
O intervalo chega e o seleccionador Berti Vogts faz entrar o proscrito Doll para o lugar de Matthias Sammer mas é a Dinamarca que está mais perto do golo, por Vilfort. O homem que falha um dos jogos do Europeu para regressar a casa e assistir a filha de sete anos com leucemia não conclui uma jogada de Laudrup (71’) e proporciona o contra-ataque alemão, com Nielsen a salvar o 1-1 de Riedle (72’) antes de Schmeichel fazer a defesa da tarde a remate do mesmo Riedle (73’).
A Alemanha pressiona mas atabalhoadamente e parece mesmo que Berti Vogts será o primeiro homem a juntar o título de vice-campeão europeu como jogador (1976) e seleccionador. Essa ideia confirma-se aos 79 minutos, com o 2-0 de Vilfort. É verdade que o toque involuntário com a mão coloca-lhe a bola à frente, nas barbas de Illgner, mas o momento é tão mágico que o árbitro suíço Bruno Galler nada assinala.
O cântico do “we are the champions” volta a ser ouvido na Suécia enquanto Laudrup (Brian, quem havia de ser?) troca de camisola com Effenberg. Tudo está bem quando acaba bem.