Atenção pessoal, vamos lá à chamada. Vá, alinhem-se ali, os melhores dos campeonatos europeus mais importantes, se faz favor. O melhor marcador do campeonato alemão? Huntelaar? Só digo mais uma vez, Klaas-Jan? Falta. Muito bem, o melhor marcador do campeonato inglês? Van Persie? Robin? Gazeta, outro. Adiante, o melhor marcador do campeonato italiano? Ibrahimovic? Irra. Ibra? Está bonita está, a turma. O melhor marcador do campeonato espanhol? Mes… Hãã, que foi? Ah, é o tal que está dispensado destas aulas de Verão. Muito bem, muito bem. Então, quer isso dizer que só falta o melhor marcador do campeonato francês, não é? Giroud? Oli…
“Cá estou, cá estou, já cheguei, não se preocupem.” Olivier Giroud é uma personagem. O avançado francês é o último a chegar à zona mista do Estádio Olímpico de Kiev, depois da derrota com a Suécia. “Desculpem a demora, mas estive a pentear-me.” Já conhecedores dessa fama, os jornalistas franceses não deixam ainda assim escapar um sorriso. Giroud é o número 9 da França. Bem, o número 9 na camisola, porque o 9 do seleccionador Laurent Blanc tem sido Karim Benzema. Sem surpresa, Giroud é suplente. Já tem 25 anos e só se estreia na selecção em Novembro do ano passado, com os EUA. No jogo seguinte, com a Alemanha, marca um dos golos da vitória (2-1). Começa então a definir-se como um dos 23 da França, algo confirmadíssimo com o título de melhor marcador da Ligue 1, ao serviço do inédito campeão Montpellier. Os seus 21 golos não se comparam aos 21 do brasileiro Nené, do Paris SG. Porque a liga francesa desempata através de bola corrida. Aliás, sem penáltis. Giroud marca apenas dois, Nené oito. O vencedor é o homem do Montpellier.
As perguntas sucedem-se e ele, impávido e sereno, ajeita o cabelo com as duas mãos, prolonga o gesto até ao queixo e diz de sua justiça. Não sobre futebol, que isso já chateia, mas sobre a vida em geral. Por exemplo, o que são aquelas tatuagens todas espalhadas pelos braços? “Ahhh, tatuagens… Digo-te que as tatuagens estão ao nível de um bom charuto e de um bom carro, hã? Mas as tatuagens têm de ser tatuagens com T maiúsculo, nada de clichés baratos e dispensáveis.” Hey, calma aí pá. Estás a falar de quê? “Do ‘Only God can judge me’ por exemplo. É um cliché, sem significado, ridículo. Eu tenho a Bíblia comigo, sei do que falo.” Okay, okay.
E os charutos? “Não sou esquisito com as marcas, gosto das boas: Montecristo, Partagas [é assim que se escreve?], Romeo y Julieta.” E os carros? “Ai, as saudades que tenho do meu Golf em Istres [joga lá em 2007/08] mas agora tenho um Audi RS 5, matrícula 38.38.” E o que temos a ver com isso? “Ah é verdade, não és francês” e um jornalista francês intromete-se para nos explicar.” A França é dividida administrativamente em departamentos. O de Istres é o 38.” Ahhhh bon, está explicado. “Tu és de onde?” Portugal. “Ahhhh, Pauleta. Sabes que já festejei como ele, com os braços estendidos? Oui, oui, no golo que marquei à Alemanha, por exemplo. O mais engraçado é que aquilo nem foi estudado, simplesmente saiu-me. No dia seguinte, a imprensa francesa escreveu ‘Pauleta a la cote’. Que seja então!”
Só mais uma coisa, lemos recentemente que o Giroud não precisa do futebol como elevador social. “Bahh, essa história não. Sim, não sou aquele típico homem que nasce assim e depois cresce assado. Vamos ser claros: não sou de uma família rica e se fosse o que tinha? Gosto do futebol e quero tanto estar aqui como em 2016 no nosso país [o próximo Europeu é em França]. Quero fazer história.”
A propósito disso, soube que está muito bem conceituado entre os gay-friendly em França (a revista Tétu assim o elege como o mais apetecível dos jogadores da 1ª divisão). “Está claro que passo muito tempo à frente do espelho. Tenho vontade de fazer uns quantos anúncios, mas nada do homme sandwich [aqueles que andam o dia todo pelos passeios com um anúncio atrás e outro à frente].” Okay, pas de faire l’homme sandwich.