Ao contrário de Dinamarca-1992 e Grécia-2004, o conto de fadas da Bélgica no Euro-80 não acaba em vitória mas sobram aplausos e bom futebol. Antes de se iniciar a fase de qualificação, os belgas só têm duas vitórias oficiais em toda a sua história.
Sob a direcção do ilustre Guy Thys, a história será outra. Com o aparecimento de jogadores de indiscutível classe como o guarda-redes Jean-Marie Pfaff, o lateral-direito Eric Gerets, o elegante René Vandereycken e o imprevisível Jan Ceulemans, a Bélgica dá um enorme salto qualitativo e apura-se sem qualquer derrota, com quatro vitórias (2-0 a Portugal em Bruxelas) e outros quatro empates (1-1 na Luz). Na estreia do Euro, em Turim, o inglês Ray Wilkins faz o 1-0 e Vandereycken responde três minutos depois. O empate é ruidosamente festejado pelos adeptos italianos que motivam uma resposta dos ingleses, colocados numa outra bancada mas ainda assim acessível para o lançamento de objectos. A polícia não vai de modas e trava o hooliganismo com gás lacrimogéneo. Por seis minutos, ninguém consegue jogar. Aliás, o guarda-redes inglês Ray Clemence fica momentaneamente cego.
Na partida seguinte, a Bélgica ganha 2-1 à Espanha e a Itália despacha a Inglaterra (1-0). Significa isto que a terceira jornada entre italianos e belgas em Roma será o tudo ou nada. Aí, o 0-0 apitado por António Garrido acaba por servir aos belgas, pois embora em igualdade pontual (4) e na diferença de golos (1), beneficiam da terceira regra de desempate: mais golos marcados (3 contra 2).
Assim, teríamos RFA e Bélgica na final de Roma. Tal como em 1972, em que Gerd Müller bisa com a URSS (3-0), aqui também um jogador faz a diferença: Hrubesch. O número 9 marca aos 10 minutos numa desmarcação primorosa de Bernd Schuster, então o benjamim da final e até do Europeu com 18 anos. Vandereycken empata aos 72’, de penálti – inexistente, por sinal, a castigar uma falta de Stielike fora da área. Quando tudo se conjuga para o prolongamento, Rummenigge marca um canto ao segundo poste, onde aparece Hrubesch a saltar num mar de gente e a cabecear para o fundo da baliza de Pfaff.
Na conferência de imprensa, Guy Thys é um homem satisfeito. “Praticámos futebol honesto e fomos recompensados com a ida à final. Aqui perdemos com a melhor equipa da actualidade. Se fossemos a prolongamento, outra história se contaria porque estávamos mais frescos que eles, mas paciência.” Antes de sair da sala, um italiano pergunta-lhe o que acha de Bearzot, o seleccionador da Itália, ter dito que a exibição da Bélgica com a RFA reforçara a ideia de que a Itália é que merecia estar ali. A resposta é tremenda. “Meu caro, para os italianos talvez, mas o adepto objectivo e o telespectador devem agradecer a presença da Bélgica na final, caso contrário seria um aborrecimento infinito.” Bastaria ver o terceiro e quatro lugares, entre Itália e Checoslováquia: 0-0 e maratona de 18 penáltis.
Em Varsóvia, Polónia