Sessenta anos depois aí está o Barca Velha 2004


O ponto de encontro para a apresentação da mais recente colheita de Barca Velha foi nas Casas do Coro, em Marialva. Ao jantar, depois das entradas e de o ambiente estar composto, Salvador Guedes, o actual todo-poderoso capitão-mor da Sogrape, anunciou o lançamento, fazendo notar que este 2004 é o primeiro Barca Velha feito integralmente…


O ponto de encontro para a apresentação da mais recente colheita de Barca Velha foi nas Casas do Coro, em Marialva. Ao jantar, depois das entradas e de o ambiente estar composto, Salvador Guedes, o actual todo-poderoso capitão-mor da Sogrape, anunciou o lançamento, fazendo notar que este 2004 é o primeiro Barca Velha feito integralmente na Quinta da Leda, desde a produção das uvas até à vinificação. Depois falou Luís Sottomayor, o enólogo que o faz, afirmando que o Barca Velha é um vinho histórico, mas não difícil de fazer. Difícil é fazer um Reserva Especial, pois é aí que surgem as dúvidas, e explicou: “Há alguma coisa que nos diz, e que a experiência estimula, que aquele ano vitícola tinha as características para Barca Velha, e não me enganei. Foi um ano seco e quente, com um Agosto muito chuvoso, mas depois o Setembro foi perfeito para o amadurecimento das uvas. Ainda me lembro da cuba 3.4, que tinha 90% de uvas da Quinta da Leda e 10% de zonas mais altas, no Douro Superior. Passados oito anos, o vinho mantém as suas características iniciais e que desde o início o definiram: potência, carácter, estrutura muito vincada e robustez.”

O Barca Velha é um clássico que não alinha em modas nem tendências, como aliás acontece com os grandes vinhos de Bordéus da Borgonha.

A história do seu aparecimento remonta a 1952, mas a génese surge quatro anos antes, quando Fernando Nicolau de Almeida resolveu fazer um grande vinho na Quinta de Vale Meão, a última que Dona Antónia Adelaide Ferreira mandou plantar num deserto de matagais e pedras com 300 hectares, comprada em hasta pública em 1879 e que já estava pronta em 1895, um ano antes da sua morte.

Até Fernando Nicolau de Almeida ter deitado mãos à obra, no Douro só se faziam vinhos do Porto com qualidade. Não se sabia fazer vinhos tranquilos, ou de mesa. Em meados da década de 1940, o enólogo foi a França ver como se trabalhava. A utilização do controlo de temperatura era fundamental para a fermentação do vinho, mas nas quintas do Douro não havia electricidade… nem estradas. Dizia-se, aliás, que era mais fácil ir a Luanda do que a Vale Meão.

Fernando Nicolau de Almeida mandou construir uma engenhoca em madeira, mandou vir camiões de gelo da lota de Matosinhos (que chegavam só com metade da carga ao Douro, tal abrasava o calor) e conseguiu fazer um vinho de grande categoria. Era o da colheita de 1952, que só seria lançado no mercado muitos anos depois, tal como sempre aconteceu a seguir, até hoje.

O criador do Barca Velha reformou-se em 1987 e foi substituído por José Maria Soares Franco, que em 2007 abandonou a empresa para se dedicar, juntamente com João Portugal Ramos, ao projecto Duorum. Luís Sottomayor é o terceiro “pai” do Barca Velha e mantém-se fiel à filosofia original. Para saber mais (e vale a pena) leia o livro “Barca Velha – Histórias de um Vinho”, de Ana Sofia Fonseca (Oficina do Livro).